Foi lançado, no passado dia 16 de dezembro, o livro Apontamentos sobre os ataques terroristas contra o PCP e os comunistas no Alto Minho em 1975/1976, numa sessão, pouco concorrida, realizada no Largo da Misericórdia, junto ao edifício onde à época se situava a sede do partido, a qual foi incendiada a 13 de agosto de 1975.
Em jeito de preâmbulo, Afonso Graçoeiro lembrou que “foi com a Revolução de Abril que se instituiu o poder local democrático e se avançou […] no desenvolvimento do país e na melhoria das condições de vida do povo”, mas, “enquanto o PCP e muitas outras forças progressistas, bem como homens e mulheres de diferentes gerações, se empenhavam na consolidação da revolução e no avanço das suas conquistas, elementos conservadores e revanchistas, caciques locais e forças reacionárias que vinham do tempo do fascismo, com a colaboração do PS, PPD/PSD, CDS e setores mais conservadores e golpistas no novo quadro do poder, procuravam travar a marcha ao progresso revolucionário”, disse o porta-voz da Direção da Organização Regional de Viana do Castelo (DORVIC) do PCP.
Para Afonso Graçoeiro, “o PCP e os seus militantes foram as maiores vítimas da onda de ataques reacionários que marcou a vida nacional no período de 1975 e 1976 e puseram em sério risco a legalidade democrática, chegando mesmo em algumas localidades à supressão de liberdades democráticas conquistadas com a Revolução de 25 de Abril de 1974”.
“Os tumultos e manifestações reacionárias culminaram sistematicamente com o assalto, saque, destruição, atentado à bomba e incêndio de Centros de Trabalho do Partido e com a perseguição e espancamento (alguns até à morte) de vários dirigentes e militantes”.
O Centro de Trabalho do PCP, sediado no edifício onde agora funciona o NA, foi assaltado e incendiado no verão de 1975. “Durante a manhã do dia 13 de agosto, um grupo de reacionários e velhos caciques […] espalhou pela vila dos Arcos a ameaça: ‘os comunistas vão arder’ e ‘nem uma recordação lhes restará a não ser os escombros’. Em paralelo, espalharam boatos em que garantiam a vinda de reforços de fora para ajudar no ataque”, lê-se no livro dado à estampa.
“Instigada a população e aproveitando o facto de ser dia de feira quinzenal, o grupo de agitadores reacionários […] arregimentou centenas de pessoas com base no boato e preconceito anticomunista. Pouco depois das cinco da tarde, dirigiram-se ao Centro de Trabalho do PCP, que apedrejaram e tomaram de assalto. Não satisfeitos, os instigadores lançaram a palavra de ordem de que ‘só o fogo pode acabar com os comunistas’, dando o mote para o incêndio do espaço”.
Dentro da sede estavam “cerca de vinte camaradas que procuraram defender o Partido e o Centro de Trabalho, mas que tiveram […] de sair pelas traseiras, não evitando, ainda assim, serem perseguidos”.
Enquanto isso, os bombeiros só puderam combater as chamas “duas horas depois de iniciar o incêndio, com a “chegada das forças militares de Viana do Castelo, […] embora já só para fazer a operação de rescaldo”.
Segundo a DORVIC, “o PCP identificou promotores e envolvidos neste ato terrorista contra o Partido e a democracia, apresentando queixa dos mesmos, mas, tal como noutras situações perpetradas no Alto Minho [Valença, Ponte de Lima e Ponte da Barca], sem a devida condenação pelos tribunais”:
“A decisão de concretização desta publicação, que em boa hora as Edições Avante! acolheram, não substitui o julgamento dos terroristas. Esse continua por fazer. Mas é um ato de denúncia e um contributo para memória futura”, observou Graçoeiro.
A.F.B.