Eleições legislativas
AD promete “mudança”, PS responde com “mais ação”
Campanha de proximidade desafia crise de confiança na classe política
As eleições legislativas antecipadas realizam-se no próximo domingo, 10 de março, com 19 forças políticas concorrentes e um aumento do número de eleitores inscritos em Portugal face a 2022, ao contrário do que sucede no Alto Minho, concelho de Arcos de Valdevez incluído.
Ao todo, são 10 819 122 (mais 5876 do que nas legislativas de 2022) os eleitores residentes em território nacional e no estrangeiro que vão ser chamados a votar (e escolher) o partido (ou coligação) que consideram que deve formar o próximo Governo ou no que pensam que os representa melhor, elegendo os 230 lugares de deputados da Assembleia da República para a próxima legislatura, isto numa altura em que um estudo da plataforma Pordata revela que 80% dos portugueses não confiam nos partidos políticos.
Com cerca de 2500 eleitores inscritos a menos do que nas legislativas de 2022, o círculo eleitoral de Viana do Castelo perde um deputado (passa de seis para cinco) na distribuição de mandatos e o concelho de Arcos de Valdevez não foge à tendência de despovoamento dos territórios com índices de interioridade, registando uma diminuição de cerca de quatrocentas pessoas recenseadas.
A atual legislatura, que só deveria terminar em 2026, foi interrompida, recorde-se, no seguimento da demissão do primeiro-ministro, António Costa, a 7 de novembro de 2023, após ter sido anunciado que era alvo de um inquérito judicial instaurado pelo Ministério Público no Supremo Tribunal de Justiça a partir da Operação Influencer.
Luís Montenegro recebido nos Arcos por onda laranja
Na passada quarta-feira, 6 de março, ao 11.º dia de campanha oficial, o líder do PSD (e da Aliança Democrática, que junta ainda CDS e PPM), Luís Montenegro, cumpriu a tradição realizando uma arruada por Arcos de Valdevez (bastião do PSD no Alto Minho), onde foi saudado efusivamente por uma onda laranja descontente com o “desgoverno do país”. “O PS governou mal, este Governo foi um autêntico desastre”, desabafou ao NA António Palhares, enquanto Carlos Amorim Rodrigues dava “nota muito negativa ao estado da Educação e da Saúde”.
Alegrada pelos tocadores de concertina e pelos cantares ao desafio ensaiados, a arruada até começou com algum atraso, mas a compacta massa de militantes e de simpatizantes não arredou pé e “furou” autênticos cordões humanos, empunhando bandeiras do PSD (do CDS também) e de Portugal, para chegar perto do candidato a primeiro-ministro e ainda do líder do CDS, Nuno Melo.
Luís Montenegro, animado por sondagens que lhe dão a dianteira, ouviu gritos de “vitória” e algumas preocupações, como a necessidade de “dinamizar o comércio tradicional”, pela voz de Adriano Dias. Noutro ponto do cortejo, um produtor de gado entregou em mãos uma “proposta para [melhor] gestão de territórios baldios”.
No Largo da Lapa, o entusiasmo de João Manuel Esteves – “Arcos de Valdevez vai iniciar a mudança, vamos mudar Portugal, vamos votar AD no próximo domingo!” – serviu de “alento” para o antigo líder parlamentar proferir um discurso de “esperança na mudança” e de “compromisso”. “Que grande campanha estamos a fazer no distrito de Viana do Castelo! Agradeço o apoio e a motivação que me dão para criar melhores condições de vida a todos os portugueses. A todos, peço empenho máximo até ao último momento”, atalhou Luís Montenegro, acrescentando estar comprometido com “os reais problemas que as pessoas sentem no dia-a-dia”.
“Estamos empenhados em olhar para as pessoas que trabalham na agricultura, nas empresas e na Administração Pública. Queremos dizer-lhes que o Estado não pode levar tantos impostos do rendimento e do esforço de cada um; queremos valorizar o trabalho; pretendemos assegurar a fixação dos jovens no país; melhorar a saúde; e aumentar o poder de compra e as pensões, para que os pensionistas e reformados portugueses tenham um rendimento mínimo de 820 euros até 2028”, reafirmou Luís Montenegro, acompanhado nesta visita-relâmpago aos Arcos pelos candidatos a deputados pelo círculo de Viana do Castelo, José-Pedro Aguiar Branco, Emília Cerqueira (Arcos de Valdevez), Jorge Salgueiro Mendes, Joana Mendes, José Alfredo Oliveira e José Lago Gonçalves (Arcos de Valdevez, este como 1.º suplente).
Marina Gonçalves enaltece “lista só de alto-minhotos”
Ainda no dia 6, e após um encontro institucional com a Santa Casa da Misericórdia de Arcos de Valdevez, o PS realizou uma arruada em que privilegiou a campanha de proximidade, tomando o pulso ao comércio local e insistindo na “mesma linha de desenvolvimento que os governos socialistas protagonizaram desde 2015”, mas agora com uma “energia renovada”, em nome de “sete áreas estratégicas conectadas com as prioridades nacionais”, segundo disse ao NA Marina Gonçalves, cabeça-de-lista do PS pelo círculo do Alto Minho.
“As grandes ‘bandeiras’ do PS para o distrito de Viana do Castelo são o desenvolvimento das áreas empresariais e do tecido económico, e para isso saliento a medida de isentar de portagens os pórticos de Viana e de Esposende, na A28 (fora da área metropolitana); o reforço das respostas sociais acudindo a 2 mil famílias identificadas nas estratégias locais de habitação para que tenham acesso a casa digna, um investimento prioritário; e a requalificação de todos os centros de saúde. São três áreas fundamentais para toda a população do distrito”, sublinhou Marina Gonçalves, que balizou a meta de “eleger três deputados” para “dar força ao Alto Minho”.
A este respeito, a ministra da Habitação prometeu “mais ação por Viana do Castelo”, através da promoção de “políticas de emprego digno e de fixação de jovens, mais educação, mais qualificação, melhor conhecimento, melhores acessibilidades, mais cooperação transfronteiriça, mais cultura, melhor desporto, mais sustentabilidade, uma agricultura resiliente, um melhor ambiente e uma valorização do papel das mulheres” – estas foram brindadas com a oferta de um cravo, em jeito de homenagem, na antevéspera do Dia Internacional da Mulher.
Para Marina Gonçalves, as eleições legislativas de 10 de março são “decisivas para ditar o rumo do País” e, neste enquadramento, o legado socialista enche de orgulho a candidata de Caminha. “Tivemos oito anos de investimento e desenvolvimento, há ainda muito a fazer, sem dúvida, mas é importante referir que, numa fase adversa, com a pandemia e o surto inflacionista, a resposta do PS foi muito diferente daquela que a AD nos apresentou, basta lembrar que, entre 2011 e 2015, o PSD e o CDS quiseram transformar medidas temporárias em definitivas. Nós, pelo contrário, conseguimos reforçar rendimentos num momento de crise”, comparou a cabeça-de-lista do PS pelo círculo de Viana, que se fez escoltar por José Maria Costa, Dora Brandão (Arcos de Valdevez) e Margarida Vasconcelos, igualmente candidatos a deputados pelo círculo de Viana do Castelo, sem esquecer Vítor Paulo Pereira, presidente da Federação Distrital do PS, João Braga Simões, presidente da Comissão Política da Secção do PS de Arcos de Valdevez, e os deputados municipais Vítor Sousa, Alda Esteves e Jorge Sousa, entre outros elementos.
Fora da rua, a candidatura do PS – com uma comitiva incluindo Marina Gonçalves, Dora Brandão e João Braga Simões – auscultou as necessidades e prioridades do setor agropecuário, promovendo uma reunião de trabalho com a Assembleia de Compartes da Freguesia de Soajo, bem como com a Junta de Agricultores do Regadio de Soajo.
Por seu lado, a AD, com Emília Cerqueira, segunda colocada na lista da coligação pelo Alto Minho, e Olegário Gonçalves, presidente da Distrital social-democrata, mostrou-se preocupada com o mundo rural durante um encontro com produtores, ocorrido no auditório da Porta do Mezio, onde os criadores de gado exprimiram preocupações e desabafos sobre o “desinvestimento no setor primário”.
Noutro âmbito, a Concelhia social-democrata promoveu vários encontros de militantes e simpatizantes nas freguesias a fim de mobilizar o eleitorado, de modo a impedir o que se verificou nas legislativas de 2022, uma vitória inédita do PS (por 53 votos) no concelho de Arcos de Valdevez.
Chega aponta à eleição de um deputado
Mas todas as forças partidárias e os respetivos candidatos a deputados, acompanhados das correspondentes estruturas locais/regionais e de grupos de simpatizantes, reservaram os últimos dias de campanha oficial para contactos de proximidade, quer com instituições quer com os cidadãos.
A campanha da CDU (PCP/PEV) nos Arcos teve na feira de Soajo, de 3 de março, um dos pontos altos, e nela participaram o cabeça-de-lista da coligação pelo círculo de Viana do Castelo, o caminhense Joaquim Celestino Ribeiro, e a candidata arcuense Maria do Céu Sousa (3.ª suplente), acompanhados por outros membros da estrutura como Afonso Graçoeiro e a arcuense Emília Vasconcelos, entre outros. No topo das propostas comunistas constam medidas como o “aumento de salários e pensões”, a defesa da “água pública”, o “direito à habitação”, os “transportes públicos e a mobilidade”, o “direito à saúde”, a “salvação do SNS”, os “valores de Abril” e a “mudança de políticas para uma vida melhor”.
Por seu lado, o Chega (CH), que acalenta a esperança de eleger o cabeça-de-lista, Eduardo Teixeira, ex-deputado do PSD, desenvolveu contactos institucionais (encontro com a ACIAB para “ouvir as preocupações dos dirigentes e empresários” dos concelhos de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca) e uma campanha de proximidade com a população para “apresentação de propostas ligadas aos transportes públicos e às camadas jovens e seniores, com medidas concretas para ultrapassar o inverno demográfico”.
Os restantes partidos com assento no Parlamento Nacional (eleitos em círculos que não o de Viana), nomeadamente Iniciativa Liberal (IL), Bloco de Esquerda (BE), PAN e Livre, com nula representação arcuense nas listas de candidatos a deputados pelo Alto Minho, optaram localmente pela instalação de cartazes de rua e/ou pela distribuição de panfletos para chegar aos eleitores.
Além das oito forças políticas atrás mencionadas (AD, PS, CDU, CH, IL, BE, PAN e Livre), os boletins de voto no círculo de Viana do Castelo incluem mais seis concorrentes: a Alternativa, com a sigla MPT.A, o Volt Portugal (VP), o RIR (Reagir Incluir Reciclar), a Nova Direita, a Alternativa Democrática (ADN) e o Ergue-te.
As urnas de voto no dia 10 de março abrem às 8.00 e encerram às 19.00 em Portugal continental.
A.F.B.