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Apresentado o livro As Casas e as Famílias: Entre Douro e Minho depois do Inquérito à Habitação Rural (1943)

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“É um contributo inequívoco para preservar a memória e o conhecimento sobre as condições de vida das populações rurais”

Foi lançado publicamente, no passado dia 27 de abril, o livro As Casas e as Famílias – Entre Douro e Minho depois do Inquérito à Habitação Rural (1943) – um trabalho da autoria de Célia Leite Ferreira, Fernando Oliveira Baptista e João Castro Caldas (arcuense). Duas das casas estudadas encontram-se sediadas no concelho de Arcos de Valdevez, designadamente na vila de Soajo (Têso) e em Paçô (Prova).

Convidada para apresentar a obra, a arquiteta Filipa Castro Guerreiro (de Viana do Castelo) afirmou que “este livro é o registo de uma investigação que revisita as 17 casas inquiridas em 1943 no Inquérito à Habitação Rural [onde o agrónomo e investigador arcuense Eugénio de Castro Caldas teve um papel preponderante] no território Entre Douro e Minho, um processo que resgata e analisa os dados do inquérito feito há 81 anos para identificar a localização e a situação atual de cada edifício; investiga e conta o percurso das famílias e a transformação das casas e da sua relação com a atividade agrícola”, começou por dizer a estudiosa.

“Nas 17 casas observaram-se processos, ora de desaparecimento, ora de abandono, alteração de uso, remodelação, ampliação ou mesmo substituição. Apenas dez se mantêm como casa, ainda que três utilizadas apenas sazonalmente. Todas estas dez casas foram remodeladas ou sofreram obras de grande dimensão, apenas uma das famílias vive, principalmente, da atividade agrícola. Parece-me que esta amostra não deve estar, percentualmente, muito distante da realidade que podíamos aferir se tivéssemos dados concretos sobre o percurso das casas e famílias rurais que existiam na década de 40 no norte de Portugal”.

Para a professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, “este é um livro multidisciplinar e relevante para compreender a história e a evolução das condições de vida das famílias na região de Entre Douro e Minho. É um contributo inequívoco para preservar a memória e o conhecimento sobre as condições de vida das populações rurais”, concluiu Filipa Castro Guerreiro.

Por seu lado, a engenheira agrónoma Célia Leite Ferreira, coautora do livro, admitiu que o trabalho de campo realizado foi “árduo”, implicou cerca de setenta saídas, “a certo momento cheguei a pensar que tinha mudado para a profissão de detetive”, gracejou, provocando um bruaá na sala. 

Os 17 casos descritos envolveram a inquirição de sessenta famílias, e a elaboração de outros tantos inquéritos, para chegar à história dos sessenta agregados desde os anos 40 do século passado até ao momento da realização deste livro, “mas esta missão só foi possível graças à colaboração inexcedível de todos os inquiridos, muito especialmente da dona Maria do Carmo, de Paçô, e do senhor Maurício de Sousa, de Viana do Castelo – sem estes dois personagens era bastante difícil conseguir deslindar o fio dos casos de Paçô e Darque (Viana)”, avultou. 

“Fruto dessa partilha, conseguimos criar a rede e a teia de laços familiares, apurando a evolução geracional que está transposta no livro, ao mesmo tempo que se desenhou a estrutura do território local”, destacou Célia Leite Ferreira.

O também engenheiro agrónomo João Castro Caldas partilhou com o público o resultado da experiência.  “O que eu sinto em relação ao trabalho reunido neste livro é que o relato do percurso das famílias que foram ocupando as casas dá um retrato do que foi a mudança no Entre Douro e Minho, nestes últimos setenta ou oitenta anos. Para nós, este volume é um retrato de como esta mudança se processou e mesmo a sorte de cada uma das 17 casas inquiridas ilustra o destino das casas rurais, umas desapareceram, outras foram remodeladas, uma outra foi convertida em turismo”, salientou o professor catedrático aposentado do Instituto Superior de Agronomia. 

 

“Inquérito contraria propaganda do Estado Novo”

Ainda a respeito do antigo edificado, Filipa Castro Guerreiro notou que “o inquérito revela o retrato de miséria que contraria a imagem romântica da vida social dos campos veiculada pela propaganda do Estado Novo, diria que a realidade descrita no inquérito da década de 40 é algo que coincide com o que foi a realidade dos séculos XV, XVI ou XVIII. No Alto Minho, ainda assisti a muitas casas com as condições e os problemas que o inquérito apontava”. 

A finalizar a sessão, Fernando Oliveira Baptista sublinhou que o “inquérito de 1943, estranhamente, não foi logo proibido, tendo sido utilizado na altura pela oposição ao regime, nomeadamente por Ramos da Costa, que publicou uma brochura. Henrique Barros diz mesmo que ‘o inquérito foi bem acolhido’, algo que eu não consegui verificar, mas isto mostra que os regimes autocráticos têm as suas folgas e as suas contradições”, notou o engenheiro agrónomo e antigo responsável pelo Ministério da Agricultura e Pescas, entre março e setembro de 1975. 

A.F.B.

 

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