Se dúvidas ainda existissem, o último 11 de julho confirmou que o culto de S. Bento de Ermelo e o apego à cultura popular continuam em regressão, sendo cada vez menos as pessoas que vão, por devoção, ao lugar onde, por influência dos monges beneditinos, (ainda) predominam os pomares de citrinos.
Apesar do declínio da fé secular, muito antes da alvorada (ou não fosse esta a “romaria sem sol”), começam a chegar (a pé) ao mosteiro (Monumento Nacional desde 1977) os primeiros grupos, vindos de diversas localidades, apesar da morrinha que foi caindo. Certos grupos, com muitos jovens atraídos pelo entretenimento, “estacionaram”, de madrugada, em Gração, onde o Grupo Curtisom e os petiscos convidaram a uma pausa na caminhada. Enquanto isso, outros, sem distinção de idade, género e estrato, de terço na mão ou “carregando” amuletos, transportam, passo a passo, até Ermelo, uma fé inabalável no santo padroeiro do concelho de Arcos de Valdevez (e da Europa). E outros ainda, como os primos Miguel e Pedro, peregrinam tão-só pelo convívio e pela amizade.
Visivelmente tocada pelo momento, Teresa Martins falou com o coração. “Este sítio é uma luz inspiradora, […] é um lugar lindo, lindo!”, soltou a barquense, referindo-se à espiritualidade e ao rico património arquitetónico e paisagístico que povoa este lugar cheio de história, mas onde “o culto popular de S. Bento já não é o que era”.
Em Ermelo justamente, segundo o culto ancestral, é no altar de S. Bento que são depositadas as oferendas. Cravos vermelhos ou brancos, sal, peças de cera e moedas, tudo serve para agradecer uma graça, um “milagre” e uma cura, ou para fazer um pedido de saúde, que está à frente de tudo. Mas o ritual só fica completo com a bênção da cartola de S. Bento, com as rezas e com a missa. Isaura Teixeira, de Miranda, sabe o que isso é. No exterior, uma mulher octogenária, com uma peça de cera na mão, cumpre promessa dando voltas à igreja.
A eucaristia das 6.00, a primeira da alvorada, no espaço sagrado (com várias clareiras), serviu para consolar os devotos com muitos quilómetros nas pernas, tendo o padre Belmiro Amorim exortado a comunidade “a aproximar-se de S. Bento para agradecer a vida”. Entretanto, ao sopé do vale vão chegando novos grupos de jovens, alguns fiéis de verdade e os que ficam (seniores maioritariamente) acabam por participar na missa da festa e na procissão, que percorreu o itinerário habitual.
Daqui a 12 meses, cumprir-se-ão os rituais de sempre…