A energia elétrica chegou a Arcos de Valdevez, vinda de Lindoso, em meados dos anos vinte do século passado, mas o início da sua real utilização teve de esperar pelo estabelecimento de uma rede pública de distribuição, então feita com postes de madeira, com prioridade para as zonas de maior consumo e com capacidade para suportar o custo.
Era algo para o qual não existiam técnicos com preparação especifica, que ficou confiada a profissionais amadores. Os espaços a iluminar eram dotados de um circuito com um só interrutor de comando, ou seja, o mesmo dispositivo acendia e apagava a luz. Era frequente um cliente chamar o eletricista apenas para substituir uma lâmpada fundida ou substituir um fusível queimado. O senhor Monteiro era o mais conhecido e solicitado, por se considerar a si próprio experimentado numa empresa de produção de energia elétrica, no Porto.
O acesso a casa de meus pais era feito através de uma escada que ligava o pátio de entrada à porta propriamente dita. A iluminação da escada era obtida por um interruptor colocado no início. Para apagar a luz era preciso descer novamente a escada. Quando meu pai chegava do seu trabalho acendia a luz no interruptor colocado no início e uma vez entrado em casa mandava um dos filhos apagar a luz no início da escada, que subia às escuras.
Ao visitar uma estante de uma livraria, encontrei um pequeno livro que se intitulava a “Eletricidade e o lar”, que adquiri por curiosidade.
Um dos primeiros capítulos intitulava-se “A comutação”. O nível da literatura usada pelo escritor era tão simples, que logo fiquei a saber o que significava “comutação”: comandar um circuito com dois interruptores, funcionando indiferentemente para acender ou apagar a luz.
Com o que aprendera da leitura do capítulo da comutação, entendi que o processo poderia ser aplicado nas escadas sem o incómodo de as descer para apagar a lâmpada que a iluminava e regressar às escuras. Arranjei um fio elétrico e um interruptor. Fiz a montagem, experimentei e tudo funcionava como esperado.
Quando meu pai chegou a casa e me mandou, como normalmente, apagar a luz, ripostei: “não é preciso” acionando o interruptor que tinha instalado no cimo da escada. Meu pai ficou atónito e perguntou: “como foi isto?”. Acendi de novo a luz., desci a escada e apaguei a luz recorrendo ao velho interruptor. Muito senhor do que fizera e com meu pai realmente estupefacto, utilizei a comutação acendendo em baixo e apagando em cima e vice-versa.
No dia seguinte, meu pai relatou o sucedido a um sobrinho mais velho, que de imediato profetizou-: “engenheiro!!!… tio; é a indicção natural da sua tendência!”
Foi assim a escolha da profissão que desempenhei com gosto e sucesso.
O destino existe…. É necessário que tenhamos a sorte de o encontrar e saber dar-lhe continuidade.
Rui Sampaio