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Anos 40: Os Correios e os Telefones

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Vou lembrar aspetos que se relacionam com os Correios e os Telefones do meu tempo de arcoense presente. Vou revelar situações que, hoje, até deixam a sensação de não corresponderem à realidade.

Começo pelos Serviços Postais, que ficavam num apartamento do terceiro andar de um edifício na esquina da rua Alferes Barros Cerqueira, em frente à Cadeia e já com o campo à vista. Estava lá uma senhora que aceitava a correspondência e entregava a que chegara, por vezes com volume ou peso que não dispensavam o recurso ao homem de recados que aguardava a oportunidade de receber uma gorjeta. A correspondência era estampada com selos antecipadamente adquiridos na livraria do “senhor Lima”, um estabelecimento de múltiplos propósitos onde também se compravam os livros e os cadernos para a Escola Primária, que igualmente ficava no largo da Camara Municipal. Ao “senhor Lima”, como então se dizia, eu ia, inclusivamente, receber o vencimento de minha tia professora primária, montante que ascendia, se não estou em erro, a trezentos e tantos escudos. (Sem direito a manifestações!)

Mas voltando aos Correios, eles foram definitivamente transferidos para um edifício construído de raiz, na rua General Norton de Matos e em frente do edifício onde hoje existe uma casa dedicada à fotografia; mais exatamente em frente da casa onde se compravam frescos e frutas vendidos pela própria dona, a Maria da Fruta.

Neste novo edifício, com condições apropriadas, éramos atendidos por uma simpática senhora, de nome Diana Valério, ou por uma sua subordinada. O peso da carta era sempre verificado numa pequena balança de precisão. Foi aqui que, pela primeira vez, vi um equipamento de transmissão pelo sistema Morse, destinado ao envio de telegramas em comunicações urgentes. 

Existia uma prática especial de transporte da correspondência proveniente ou para as freguesias do concelho: de cada uma delas partia, manhã cedo, uma vez por semana e a pé, um tarefeiro para despachar e colher o correio destinado à sua freguesia, recebido ou entregue na Venda (loja de mercadorias de consumo). Conheci e apreciei alguns tarefeiros, lembrando, ainda, o da freguesia de Aguiã, onde ficava a moradia do senhor Simãozinho, da Casa de Aguiã, pessoa ilustre no meio.

Os serviços foram melhorando por natural disponibilidade de condições mais apropriadas e porque a responsável, a Diana, era uma pessoa dinâmica, conhecedora e procurando o melhor para todos os utentes. 

Ainda antes de deixar Arcos de Valdevez (1946) surgiu o telefone, também gerido pelos Correios.  Funcionava numa linha única que transmitia, por impulsos eletromagnéticos, para Braga, se não estou em erro. Pedia-se a chamada de manhã e, respeitando uma ordenada lista de inscrição, ficava-se à espera de uma ligação que só vinha (quando vinha!) a meio da tarde. As chamadas atendiam-se numa cabina fixada no átrio das instalações. Era preciso falar alto e, às vezes, era difícil perceber o que o interlocutor dizia ou, então, a ligação ia abaixo. Era frustrante! Não esqueci um dia em que tentei falar com o jornal onde trabalhava no Porto, desejando permanecer mais um dia em Arcos de Valdevez. Gastei esse dia nos Correios, ansioso, à espera de uma chamada que nunca chegou!

Num momento em que jogava bilhar no salão do café Chave de Ouro, na rua Soares Pereira, chegou uma equipa de operários que, numa reentrância da sala, montaram uma cabina para se receberem as chamadas sem necessidade de nos deslocarmos aos Correios. Era simplesmente uma extensão para comunicação com a central. Foi melhoramento apreciável para aquele tempo!

Em 1958, quando das minhas primeiras férias, já as condições do Serviço dos Correios, embora no mesmo local, tinham sido beneficiadas pelo avanço tecnológico entretanto verificado. Em contrapartida, eu havia passado esse tempo no interior de África, onde, nessa altura, as condições de comunicação eram bem piores do que as descritas na nossa Terra em 1946. 

Em contrapartida e já no início de dos anos 70, internado numa clínica em Tóquio, fui posto em comunicação com minha mulher, em Portugal, da própria cama onde estava hospitalizado. Foi a primeira vez que utilizei um telemóvel!

São recordações que ainda existem na minha cabeça, quando procuro avaliar as facilidades das gerações que hão de vulgarizar o uso da Inteligência Artificial.

Rui Sampaio

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