Fernando Pinto, natural de Oliveira, saiu de Portugal ainda adolescente, evitando o seu maior receio, que era a ida para o Ultramar.
No outono de 1976, pouco antes de completar 17 anos, Fernando foi com a sua irmã Isabel e sua mãe para os Estados Unidos (era a única maneira de ir legalmente). Fernando tinha um tio-padrinho (Rafael Azevedo) que morava e trabalhava em Danbury, que convidou a família de Fernando a visitar os Estados Unidos e ela ficou lá quatro meses, regressando depois a Portugal. A ideia da viagem era levar Fernando para terras de “Tio Sam”. “Às vezes parece que a América e New Haven (Connecticut) foram um lar para mim, porque cheguei aí duas semanas antes de fazer 17 anos”, começa por dizer Fernando Pinto, de 65 anos, a passar nos Arcos um período de férias.
O primeiro trabalho que Fernando exerceu nos Estados Unidos foi como funcionário de lavandaria, mas por pouco tempo. Depois, empregou-se como operário fabril na Barden Corporation (fábrica que fazia peças para aviões), em Danbury, mas um acidente – perdeu a ponta do dedo indicador – obrigou-o a dar um rumo diferente à vida. Aficionado da música, Fernando começou a trabalhar em 1979 como DJ.
No Bar Togobees, Fernando Pinto colocava música alternativa para o público universitário e o sucesso levou à abertura do Togobees 2 em Naugatuck em 1982, onde Pinto continuou como DJ. Dois anos depois, comprou a quota dos seus sócios, transformando o Togobees no The Night Shift.
“Foi aí que a carreira no mundo da música arrancou de verdade”, conta Fernando Pinto. Nessa altura, começou a agendar apresentações, primeiro com bandas locais, principalmente blues, estilo alternativo (mistura de punk e new wave) e um pouco de folk. “Os estudantes universitários que frequentavam o lugar divertiam-se e traziam mais e mais amigos nas sessões seguintes”. Mais tarde, também promoveu concertos de vários músicos conhecidos, de outros géneros, como Phish e Bo Diddley.
Depois de vender The Night Shift no final de 1989, e de uma viagem aos Arcos, Fernando mudou-se para Howe Street, em New Haven, acabando por trabalhar no The Moon, além de agendar alguns concertos por semana no The Third World Café na Whalley Avenue.
“Eu não queria administrar um clube. Achei que seria mais divertido trazer concertos para um local. O Moon já era um clube bem estabelecido, com concertos ao vivo e festas de dança às sextas e sábados”, recorda Fernando Pinto, que começou a trazer bandas também nas noites de semana graças à rede de contactos que tinha construído em anos anteriores.
Uma das grandes bandas que Fernando Pinto levou para tocar no Moon foram os Nirvana, de Kurt Cobain, Chis Novoselic e Dave Grohl. “Os Nirvana deram lá um concerto no âmbito da digressão Nevermind de 1991, apenas algumas semanas antes de ‘Smells Like Teen Spirit’ que os catapultou para a fama. Há um documentário sobre esse concerto”, diz, com orgulho, Fernando Pinto.
Depois do The Moon, Fernando fundou o The Tune Inn, um lugar onde esperava acomodar multidões, assinando um contrato de arrendamento de dez anos e abrindo a casa, “com um grande palco”, em outubro de 1992.
Enquanto o Tune Inn funcionou, Fernando Pinto também fundou a gravadora Elevator Music, dando primazia a bandas locais, “com cerca de 30 a 40 lançamentos ao longo de vários anos, incluindo muitas das bandas que tocaram no The Tune Inn”.
A perseverança levou Pinto a continuar a tentar novos projetos, caso da série East Rock Concert, que agora é realizada em vários locais da cidade. A série começou com cantores/compositores internacionalmente conhecidos como Melanie, bem como artistas locais, tudo no Cafe Nine.
Promotor de estilos musicais variados
Além dos Nirvana, Fernando Pinto conseguiu agendar artistas e bandas de estilos tão diferenciados como The Gun Club, Lydia Lunch, Christian Death, Alien Sex Fiend, Sonic Youth, Exploited, Dinosaur Jr, Spin Doctors, Ike Willis do Frank Zappa, Bo Diddley, Colin Hai dos Men At Work, Yo La Tengo, Screaming Trees, Ratos do Porão, The Delta 72, The Jesus Lizard, John Hammond, Hubert Sumlin, Lucky Petterson, Joe Louis Walker, Inner Circle, Peter Hammill dos Van Graaf Generator, Moe Tucker dos Velvet Underground, Frank Black dos Pixies, Lenny Kaye (Patty Smith), Halo of Flies, White Zombie, Smashing Pumpkins, Bad Religion ou Offspring.
À época as pessoas diziam: “Esse rapaz de Portugal é louco ao misturar estilos de música dessa maneira”. Mas, segundo Fernando Pinto, “para se ser um promotor de música ao vivo bem-sucedido não se pode ficar agarrado apenas a um estilo musical”.
“Pai” do Luna Fest em Coimbra
Fernando Pinto, dono de um grande leque de conhecimentos e contactos, organizou, em 2023 e 2024, com grande cobertura mediática, o Luna Fest, com o apoio do Município de Coimbra. The Undertones, The Speedways, The Fleshtones, The Psychedelic Furs, Lene Lovich, Jon Spencer, Johnny Throttle, The Gories, La Élite, The Legendary Tigerman, M’as Foice, The Twist Connection e Belle Chase Hotel foram alguns dos protagonistas que pisaram o palco na Praça do Comércio e na Praça da Canção.
A terceira edição do Luna Fest está agendada para o próximo verão (de 31 de julho a 2 de agosto).