Apagão ibérico afetou todo o concelho de Arcos de Valdevez

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Foi um “corte maciço” no fornecimento de eletricidade na Península Ibérica e nalgumas regiões de França. Portugal ficou sem energia durante várias horas e muitos setores de atividade estiveram (quase) paralisados ou em serviços mínimos. Uma vez reposta a eletricidade, fica, desde logo, a pergunta: por que razão a eletricidade colapsou numa escala tão grande?

O ciberataque foi um dos cenários invocados, mas o Centro Nacional de Cibersegurança informou que “não foram identificados indícios que apontassem para esse cenário”. A vice-presidente executiva da Comissão Europeia, Teresa Ribera, disse também “não existirem provas de ciberataque no corte maciço no abastecimento elétrico na Península Ibérica”. A empresa portuguesa Redes Energéticas Nacionais explicou que o apagão se deveu a uma “oscilação de tensões na rede espanhola”. Por seu lado, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, declarou que “tudo” apontava para uma falha de energia com origem na interconexão com Espanha. No país vizinho, justamente, foi dito que o colapso terá sido causado por uma desconexão da rede com a Europa. E, segundo o diretor dos Serviços de Operação da Rede Elétrica espanhola, Eduardo Prieto, em declarações ao jornal La Vanguardia, o apagão terá sido causado por uma “desconexão da rede com a Europa”. 

No concelho de Arcos de Valdevez, onde estão sediados dois centros produtores de energia elétrica (Lindoso/Soajo e Touvedo/São Jorge), o corte de energia arrancou às 11h33 de segunda-feira, 28 de abril, e a situação apenas começou a ser reposta na sede do concelho perto das 22h00 desse mesmo dia, mas algumas freguesias só tiveram luz a partir da 1h00 da madrugada (de terça-feira). 

No meio do alvoroço, os condicionalismos foram mais do que muitos. O INEM nacional esteve a funcionar com recurso a geradores, apelando que apenas se ligasse para o 112 “em caso de emergência”. Quem precisou de ir à farmácia, encontrou dificuldades em validar as receitas devido ao facto de o sistema estar em baixo, mas as situações urgentes foram resolvidas, até pela relação de confiança que existe entre profissionais e utentes. 

Vários espaços comerciais na vila de Arcos de Valdevez optaram por encerrar portas depois do almoço, mas as médias superfícies e os postos de combustível registaram uma afluência inusitada. Os negócios com carnes e produtos frescos tiveram de recorrer ao aluguer de geradores para evitar prejuízos. Além da procura de geradores, também aumentou a compra de rádios, lanternas ou pilhas. Os pagamentos só foram possíveis em dinheiro vivo. 

A nível de telecomunicações, verificaram-se falhas generalizadas. As operadoras limitaram o uso de dados móveis, mas o serviço foi sendo normalizado à medida que a energia foi reposta. 

Enfim, na área do alojamento turístico, houve cancelamento de reservas.

 

Colapso estava anunciado

O apagão energético está por explicar, mas há muito que os especialistas anunciavam uma situação parecida, desde que Portugal encerrou as centrais termoelétricas de Sines e do Pego, passando a estar dependente das importações de Espanha e França. À hora do colapso, as importações estavam a suportar 30% da eletricidade consumida pelas famílias e empresas portuguesas.

Os especialistas já tinham alertado que o sistema elétrico português corria o risco de um apagão, por causa das políticas dos últimos governos de taxação às importações de gás natural e combustíveis fósseis, facto que tornou Portugal muito dependente de Espanha e França. 

Os números não deixam margem para dúvidas. Em 2022, o sistema elétrico português importou 1659 milhões de euros em eletricidade, isto quando Portugal chegou a ser um exportador líquido de eletricidade.