“Desenvolvimento supersónico da tecnologia está a revolucionar a sociedade”
“Centro Ciência Viva dos Arcos é o farol que ilumina o conhecimento”
Que descobertas ainda podemos esperar do mundo fascinante da ciência? Para que serve a Inteligência Artificial (IA)? Na era da IA o que falta saber sobre o cancro? O que é que a ciência espacial e a astronomia têm para nos ensinar? Para onde nos vai levar o desenvolvimento acelerado da tecnologia? O que é preciso fazer para lançar satélites para o Espaço? Que experiências se podem tirar da realidade virtual? Qual o impacto das alterações climáticas? Qual a importância dos algoritmos na sociedade? Quais as tendências tecnológicas que vão moldar o amanhã? Quais as profissões do futuro? Estas foram algumas das questões esmiuçadas pelos convidados que dinamizaram o Alto Minho Science Fest, evento que, de 20 a 22 de março, emparceirou o Município arcuense e o Centro Ciência Viva dos Arcos (CCVdA), com o apoio da CIM Alto Minho, da Agência Nacional Ciência Viva e do CENFIPE.
O vasto programa que ecoou no CCVdA esteve todo ele direcionado para a promoção da cultura científica e do conhecimento. “Este é um evento agregador de todos aqueles que têm a ciência, o conhecimento e a democracia como paixão”, começou por dizer José Carlos Fernandes, diretor das Oficinas de Criatividade Himalaya – CCVdA, espaço socioeducativo que, em três anos, “recebeu mais de 47 mil visitantes” (à data de 19 de março).
Num “verdadeiro tributo ao conhecimento, à curiosidade, à criatividade e ao legado do padre Himalaya”, a iniciativa reuniu 16 oficinas experimentais, dez espetáculos de ciência, duas mesas-redondas, quatro palestras, diversas sessões de planetário, dez filmes imersivos (em realidade virtual), seis ações de formação acreditada para professores, cerca de trinta expositores de diferentes entidades na mostra de ciência, o podcast Na Hora H(imalaya) com investigadores e cientistas, uma nave de realidade virtual para os vários públicos e espetáculos de magia.
“Precisamos de criar um ecossistema científico no concelho”
“Galvanizado” pela iniciativa, o presidente do Município arcuense teceu elogios à singularidade do festival. “É um evento único para Arcos de Valdevez, um território de baixa densidade, mas de alto potencial, por isso, somos o farol que ilumina o conhecimento, porque é através da cultura científica que reside o futuro”, sublinhou João Manuel Esteves, instando o Governo a criar condições para “promover um ecossistema científico no concelho” congregando o polo do IPVC nos Arcos, o CCVdA, as escolas e o Centros Tecnológicos Especializados de Informática e Energia Renováveis, a In.Cubo, o CiTin, a futura “Quinta Ciência Viva – Plantas e Aromas” nas instalações do antigo Centro de Formação Agrícola de Monte Redondo e o projeto de investigação na área das alterações climáticas na Europa (em parceria com o BIOPOLIS/CIBIO).
“Sem ciência não há futuro e o futuro começa agora”
A presidente da Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, Rosalia Vargas, avultou que, em tempos de “grande apreensão e incerteza, inclusive de algum medo e desconfiança”, é “muito bom organizar um festival de ciência e fazer atividades, celebrando a ciência e discutindo uma realidade incontornável: sem ciência não há futuro e o futuro começa agora, o que pressupõe vontade, iniciativa, ação para o bem e, sobretudo, esperança”.
Por seu lado, o ministro da Educação, Ciência e Inovação, que presidiu à sessão de inauguração, tratou logo de avisar que “o desenvolvimento tecnológico está a dar passos cada vez mais acelerados e isso traz desafios estimulantes”, desde logo para a Escola. Segundo Fernando Alexandre, “para muitos dos jovens que já usam aplicações de IA, a chave para tirar bom proveito da máquina inteligente está em saber fazer a pergunta certa, ou seja, saber fazer perguntas é cada vez mais uma competência essencial para qualquer cidadão vingar na vida”.
O mais difícil não é, pois, o domínio das tecnologias – os alunos controlam isso tudo –, mas “conseguir tirar partido dos saltos tecnológicos em benefício do conhecimento e do progresso”, referiu o governante, realçando o papel cada vez mais imprescindível dos mediadores (professores, formadores e investigadores) para pôr alguma ordem na “avalancha de desinformação/manipulação proveniente das plataformas sociais”.
Um dos desafios que se colocam à ciência e à educação, bem como à ética na tecnologia digital, reside na “gamificação” (“ludificação” ou “joguificação”) da população escolar, expressão (ou expressões) cada vez mais em voga para retratar o peso dos jogos, das redes, dos ecrãs e dos influenciadores sociais no contexto das escolas – e, na era da literacia digital, “não há como fugir à dialética entre conhecimento vs desinformação e entretenimento vs alienação”, como ficou bem patente na visita à mostra de ciência e tecnologia.
Professor em protesto exige reinscrição na CGA
A sessão de abertura do Alto Minho Science Fest ficou assinalada pela manifestação de Rui Garcia, professor de Educação Física (no AEV), que, empunhando um cartaz, aproveitou a visibilidade do evento para fazer ecoar as suas queixas.
“Estou excluído da Caixa Geral de Aposentações (CGA). Enquanto professor, descontei para a CGA entre 1986 e 2005. Em janeiro de 2006, a lei mudou e todos os novos funcionários públicos – e eu não sou funcionário público! – tiveram de ser reinscritos na Segurança Social. No meu caso, como eu interrompi a docência em 2005, consideraram-me um novo trabalhador da Administração Pública quando regressei ao ensino em 2008, tendo eu sido empurrado nessa altura para a Segurança Social, que, claramente, confere uma menor proteção social, especialmente em situação de doença, comparou o professor de Ponte de Lima.
Questionado por este jornal se não estava a “desviar as atenções do evento” com esta ação, Rui Garcia ludibriou a pergunta, alegando “não poder consentir uma situação que é inconstitucional. Por causa disso, estou a ser prejudicado desde 2008”, observou o queixoso, afastando qualquer “questão partidária” como motivação para esta tomada de posição.
A.F.B.