Alto Minho Science Fest Investigadores arcuenses com impacto na “revolução da ciência” em Portugal

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É grande o contingente de investigadores arcuenses a produzir conhecimento científico e a alimentar a “revolução da ciência” em Portugal – há arcuenses em diversas áreas a fazer ciência de nível mundial em universidades (nacionais e internacionais), seja nos seus centros de excelência, seja nos laboratórios. Esta conquista resulta, em parte, do investimento municipal na área da educação, mas é sobretudo o corolário da aposta nacional em instituições científicas vocacionadas para a investigação e a inovação, com avaliação externa sistemática.

Na mesa-redonda “Arcuenses com ciência | O futuro é agora”, sob moderação de Margarida Pinto Correia, seis ilustres “filhos da Terra” contaram a sua experiência na primeira pessoa: Andreia Penado, bióloga e investigadora de abelhas; Rui Henrique Alves, economista e professor da FEP (Faculdade de Economia da Universidade do Porto); Cláudia Fernandes de Brito, bioquímica, com mestrado na mesma área científica no laboratório do IBMC (atualmente parte do i3S, no Porto) e doutoramento no mesmo grupo de investigação, encontrando-se a realizar um pós-doutoramento no Centro de Regulação Genómica em Barcelona; Miguel Ferreira, doutorado pela Universidade de Sussex (Inglaterra) em Astrofísica, professor da Universidade dos Açores, investigador de sistemas inteligentes de ciência e engenharia; Sara Cerqueira, engenheira biomédica, especialista em eletrónica médica, focada em robótica, automação e controlo; e José Machado, professor catedrático da Universidade do Minho (UM), perito em Inteligência Artificial (IA) e líder de um grupo de ciências e tecnologias da computação.

 

“Mundo maravilhoso” das abelhas

Revisitando uma das suas áreas de investigação, Andreia Penado, já com livros publicados apesar da sua juventude, tem explorado o “mundo maravilhoso” das abelhas em Portugal, Espanha e Reino Unido, trabalhando no Serviço Educativo do Centro Ciência Viva, onde promove a biodiversidade. Desde 2011 que desenvolve diversos trabalhos relacionados com a ecologia e a conservação das abelhas. 

“No meu doutoramento, estudei os impactos do clima e do abandono agrícola nas abelhas ibéricas, um fenómeno que em Portugal é muito relevante em algumas regiões, com alterações nos habitats, daí a importância de conservar tradicionalmente as paisagens como fator determinante para a preservação dos insetos polinizadores, como é o caso das abelhas”. 

 

“Estudo do citoesqueleto”

Estudar o “mundo interior” das células é o que “fascina” a investigadora (de divisão celular) Cláudia Fernandes de Brito que, em “muito pequena”, já se “questionava sobre o porquê de estarmos vivos”. Está empenhada em “perceber como funcionam os microtúbulos, estruturas minúsculas dentro das nossas células, parecidas com pequenos tubos. Eles são muito importantes porque ajudam a manter a forma das células e participam na divisão celular, permitindo a distribuição perfeita do material genético em duas células filhas – funcionam como ‘estradas’ para transportar materiais dentro da célula. Imagine-se uma cidade (célula) sem estradas (microtúbulos), a cidade perderia a sua forma e não funcionaria bem, nem de forma eficiente”. 

Para perceber como estas “estradas” são criadas, Cláudia Fernandes de Brito dedica-se ao “estudo do ‘esqueleto’ destas cidades celulares, chamadas de ‘citoesqueleto’ – há casos em que a regulação pode ficar comprometida e a informação genética não é dividida da mesma forma, nessas situações, as células tornam-se aberrantes e dividem-se descontroladamente, podendo levar a vários problemas, e um deles é o cancro”, elucidou a cientista de Aboim das Choças. 

 

Economia explicada em “cinco E”

Por seu lado, Rui Henrique Alves – além de professor de referência da FEP, é consultor da Bolsa Portuguesa, investiga no Centro de Economia e Finanças da Universidade do Porto, preside à Direção do Instituto de Investigação e Serviços da FEP, dirige o mestrado executivo em Economia e Políticas Públicas da mesma instituição e integrou a Representação Permanente de Portugal na União Europeia de 2013 a 2022 – frisou que “a economia é uma área relativamente simples e, como ciência social (sem leis exatas), reduz-se basicamente a entender cinco palavras começadas por E: Escassez (recursos escassos), Escolha (necessidade de fazer escolhas), Eficiência (uso dos recursos da melhor forma possível), Equidade (distribuição justa dos recursos pelas pessoas) e Estabilidade (em termos de macroeconomia, elevados níveis de emprego e baixos níveis de inflação)”, explanou o antigo presidente da Assembleia Municipal de Arcos de Valdevez.

 

“Robótica é o futuro”

Na era da tecnologia, a engenheira Sara Cerqueira (de Rio Frio), prestes a concluir o doutoramento em Engenharia Eletrónica, disse confiar plenamente na robótica. “Por pertencer a um laboratório de robótica, onde fiz a minha tese de mestrado, comecei a ficar fascinada com a robótica. Acredito que o futuro passa muito por ela. […] Em parceria com a Bosch, em 2021, implementei um projeto ligado às doenças musculoesqueléticas relacionadas com o trabalho. O meu foco principal é prevenir as doenças profissionais através de algoritmos, cuidando da postura no trabalho, de modo a prevenir a fadiga muscular e a melhorar a qualidade de vida das pessoas, sobretudo a pensar no envelhecimento ativo”, concluiu a investigadora do Massachusetts Institute of Technology (Estados Unidos da América).

 

Alcance das ciências puras

Já o astrónomo Miguel Ferreira partilhou com o auditório o seu conhecimento sobre o magnetismo das estrelas. “A astronomia é muito bonita! Mas para que serve comparada com as áreas dos meus colegas de painel?”, perguntou. 

“No fundo, há a ciência aplicada e há a ciência pura. Tem de haver lugar para as duas. A ciência aplicada, sem ciência pura, acaba por se tornar estéril. É a minha opinião e há outras pessoas que dizem o mesmo”, atalhou Miguel Ferreira.

No universo da astrofísica, o convidado lembrou que “Doppler, ao estudar as estrelas binárias, de um ponto de vista teórico, anteviu que as estrelas quando se afastavam de nós ficavam mais avermelhadas e quando se aproximavam ficavam mais azuladas. Esse efeito, hoje em dia, é fulcral na astrofísica, é o que nos permite saber que o universo está em expansão, mas também teve implicações em áreas como a medicina e a medição da velocidade através de radar. Aqui está um exemplo de investigação teórica sem aplicações à época, mas que evoluiu nesse sentido”, elaborou Miguel Ferreira, que ajuda a chegar aos “truques da matemática” através do teatro e da cultura para descodificar o conhecimento, porque, “se uma imagem vale mais do que mil palavras, uma equação matemática vale mais do que mil imagens”.  

 

“A Inteligência Artificial salva vidas”

A fechar o ciclo de experiências inspiradoras, o investigador José Machado, da UM, realçou o papel da IA (ciência que remonta há mais de setenta anos), da informática e da robótica na medicina. “A IA (dados + algoritmos) salva vidas, os médicos não dispensam a ajuda da IA e da informática, principalmente no diagnóstico. Segundo um estudo, cerca de 30% dos diagnósticos médicos são errados, evidentemente que existem erros graves, falsos alarmes e eventos adversos. Sem informática (e sem robótica), os médicos não conseguem fazer cirurgias, porque a máquina tem uma precisão muito maior e uma taxa de sucesso muito superior. Ou seja, vamos utilizar cada vez mais a IA, pois esta erra menos do que os humanos (médicos). Mas a IA não é uma panaceia e não faz milagres”, ressalvou o engenheiro que conduz doutorandos e faz partilhas em revistas científicas. 

A.F.B.