A dificuldade económica em permanecer na Suíça é o principal factor que está a obrigar os emigrantes reformados a se mudarem para Portugal, onde, em muitos casos, se sentem novamente “estrangeiros”, segundo a investigação da socióloga Liliana Azevedo, cujo estudo se centrou na transição para a reforma de casais portugueses emigrados na Suíça.
Os dados recolhidos pela investigadora apontam para uma aceleração, na última década, dos movimentos de saída da Suíça de portugueses com mais de 60 anos e sugerem que, na hora da reforma, o regresso a Portugal é cada vez mais frequente. “O que se verifica é um constrangimento de ordem económica. Todo o sistema suíço, nomeadamente o sistema de reforma, não favorece que estas pessoas que ocuparam os escalões mais baixos da economia suíça e que têm pensões relativamente baixas” fiquem nesse país. Ou seja, o que leva os portugueses a regressar é a dificuldade ou a incapacidade de muitos em ficar na Suíça”, atalha Liliana Azevedo.
A investigação apurou que, na hora de decidir, os cônjuges nem sempre estão de acordo, tornando mais visíveis as assimetrias de uma vida, com as mulheres em desvantagem, uma vez que as suas trajetórias profissionais foram, frequentemente, mais precárias e, logo, as suas pensões são inferiores às dos maridos e nem sempre dispõem de um fundo de previdência profissional próprio.
O regresso a Portugal revela-se, para muitos, “uma nova migração”, neste caso uma “migração de regresso. O primeiro e segundo ano são muito difíceis em termos de reintegração, é preciso voltarem a apropriar-se dos códigos e das normas, as pessoas já não sabem como lidar com as instituições portuguesas, até porque houve uma grande digitalização no país. Há este sentimento de se sentir novamente emigrante, de pessoa que vem de fora”.
Para Liliana Azevedo, “as autoridades portuguesas não estão conscientes, não estão atentas para os emigrantes mais envelhecidos. Todo o discurso mediático mostra que a preocupação é com a mão-de-obra, os jovens, os que vêm para trabalhar”.
“Há um entendimento de que as pessoas irão regressar de qualquer forma e não é preciso fazer nada de concreto para que regressem”, mas “temos de estar atentos para as necessidades específicas e para os lugares para onde regressam”, alerta a investigadora.