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Domingo, Outubro 6, 2024
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Encontrar casa nos Arcos “é como procurar uma agulha no palheiro”

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O tema da habitação tem estado em foco nos fóruns políticos de Arcos de Valdevez e está a agitar um debate na sociedade arcuense em torno das medidas que urge tomar para mitigar a falta de imóveis e o aumento exponencial do custo com a habitação. Nos dias que correm os jovens arcuenses não conseguem comprar (nem arrendar) casa no seu concelho e quem vem de fora à procura de trabalho encontra o mesmo problema. 

A crise na habitação não é recente, mas tem-se vindo a adensar. O agravamento das condições económicas de muitas famílias tornou ainda mais inviável a compra de casa e dificultou o pagamento das prestações do crédito à habitação, enquanto o arrendamento, por preços especulativos, não é solução.

 

Os valores que estão a ser praticados na sede do concelho falam por si: no ano em curso estão a bater-se recordes no mercado de compra e venda de imóveis (pequenos T3 a partir de 350 mil euros…) e o mesmo sucede em relação às rendas. Por seu lado, quem comprou casa confronta-se com o aumento imparável das prestações do crédito, as quais, no ano findo, subiram mais de 40%, em média.

As atuais circunstâncias, com a escalada dos juros, obrigam a contas rigorosas. Não basta calcular o impacto que uma prestação ao banco pode ter no orçamento familiar. É preciso prever uma série de despesas e adiantamentos iniciais, cujo valor pode representar cerca de 25% do preço total do imóvel. De acordo com o comparador disponível em www.deco.proteste.pt/, para uma habitação de 250 mil euros e um financiamento de 200 mil, o comprador deve avançar com, pelo menos, 62 mil euros. 

 

“Casas são em número insuficiente e arrendamento também não há, muito menos a preço justo”

Ter um teto para morar nos Arcos é cada vez mais um direito inacessível para jovens (e não só). O concelho arcuense tem acolhido, em anos recentes, vários forasteiros, nacionais e internacionais, que têm experienciado a tormenta de encontrar casa.

A barcelense Mónica Esteves instalou-se na freguesia do Vale e, com conhecimento de causa, faz o diagnóstico da problemática da habitação nos Arcos. “As casas que existem no mercado são em número insuficiente… É como procurar uma agulha no palheiro. Também não há arrendamento disponível, muito menos a preço justo. Como pode o Município querer que mais jovens se mudem para os Arcos sem que haja casas para arrendar?”, pergunta. 

A brasileira Carole Silva (nome falso), a viver nos Arcos há quatro anos, corrobora da análise. “É muito difícil arranjar casa nos Arcos. Moro há anos num T2 arrendado na vila dos Arcos e não consigo mudar-me para um T3 – quando, por algum golpe de sorte, se encontra um T3 vago, que é o que eu preciso para montar um escritório, os proprietários pedem fiadores com imóveis, como se fosse um financiamento, e não um contrato de arrendamento. Além das exigências, os valores que são pedidos para um T3 são muito elevados”, começa por dizer a cidadã brasileira de 39 anos, profissional em regime de teletrabalho, depois de já ter operado em unidades fabris e na Ação Social. 

“Tenho procurado casas pelas freguesias do concelho de Arcos de Valdevez, inclusive em Ponte da Barca, mas não tenho encontrado nada. Estou recetiva a arrendar casa fora do centro da vila dos Arcos, até um raio de 10 quilómetros. Há muitas moradias fechadas, que não estão no mercado de arrendamento”, acrescenta Carole.

“Algumas agências imobiliárias, quando surge alguma vaga, fazem seleção dos candidatos, como se de um emprego se tratasse, para ver quem vai ser o melhor inquilino. As exigências no mercado de arrendamento são maiores do que as que são pedidas para a aquisição de imóveis”, compara.

“Sem dúvida que há xenofobia, os consultores imobiliários fecham a porta a brasileiros, venezuelanos e africanos”

Não é um fenómeno generalizado, mas Carole diz que tem sido vítima de “discriminação”. “Sem dúvida que há xenofobia. Quem opera no meio e tem imóveis, se disser o contrário, está a mentir! Quando os consultores imobiliários (não são todos!) descobrem que a nacionalidade da pessoa que procura casa é brasileira, venezuelana ou dos PALOP, eles dizem logo que o imóvel já está arrendado, mas a realidade é que não querem arrendar casas a certos estrangeiros, por preconceito. Nem todos fazem isso, mas há muita gente a fazê-lo”, garante Carole Silva, que tem assistido à chegada de pessoas de diversas origens.

“Atualmente, há estrangeiros de várias nacionalidades a chegar aos Arcos. Houve tempos em que eram só brasileiros, mas hoje há uma proliferação de proveniências. E o que eu constato é que a desconfiança desaparece ou esmorece se os estrangeiros vierem dos Estados Unidos, do Canadá ou do Reino Unido, muito embora eu entenda que há situações em que os inquilinos não cuidam dos apartamentos, também tenho um imóvel no Brasil e sei como é”, admite Carole Silva. 

Apesar dos estrangulamentos do mercado imobiliário, a cidadã do Brasil só diz maravilhas do concelho e da comunidade arcuense. “Nunca senti qualquer problema por eu ser brasileira no seio da sociedade. Amo viver nos Arcos. Moro aqui há quatro anos e o sítio é maravilhoso. Há boa qualidade de vida, o meio é tranquilo e a educação é de qualidade. A minha filha terminou agora o 4.º ano e as expetativas futuras são as melhores”, remata Carole Silva.

A.F.B.

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