Serenata do rio ponto alto das Festas do Concelho
Cortejo etnográfico pouco participado pelas freguesias
As Festas do Concelho, realizadas de 2 a 13 de agosto, tiveram a atmosfera típica das romarias alto-minhotas no estio. Na retina a multidão que acorreu aos festivais folclóricos e ao concerto de Fernando Daniel no palco principal, bem como o “mar” de gente que encheu o Largo Augusto Cristina para assistir ao espetáculo da Orquestra Ympério Show, no dia dedicado aos emigrantes. No entanto, o melhor ficou reservado para a parte final do ciclo de 12 dias, com o desfile de barcos alegóricos e o concerto da Sociedade Musical Arcuense.
Enquanto isso, o desfile etnográfico, o menos concorrido pelas freguesias (e pelo movimento associativo) desde que o mesmo passou a ser organizado à noite, foi, apesar disso, uma viva demonstração da identidade arcuense. As sete freguesias (metade das que participaram em 2022) que se passearam pela avenida marginal tiveram como motes principais a tradição e a recriação de usos e costumes: das lavadeiras do rio Vez aos trajes antigos; das danças aos cantares tradicionais; da essência da terra à preservação da história; dos ofícios em vias de extinção à “recuperação” de figuras como a fiadeira, a tecedeira, o cesteiro, o tanoeiro…
A partir do ciclo da agricultura e do rico património, material e imaterial, que abrilhanta e diferencia os ambientes rurais, assistiu-se ao desfile de atividades campestres (pastoreio, desfolhada, malhada e vindima, por intermédio, sobretudo, das freguesias de Grade/Carralcova, Sabadim e Monte Redondo), de preciosos engenhos e alfaias agrícolas (moinho, escadas, esmagador/espremedor de uvas, dorna transportada no “velhinho” carro de vacas…), de recriações históricas tão características da ruralidade (Fiadeiras de Soajo, mulheres com o farnel à cabeça ou na ilharga…), enfim, gente que não perdeu a memória nem o respeito e orgulho pelo lugar de onde veio.
Também a tradição hortícola ficou bem espelhada no cabaz de produtos (espigas/milho, broa, uvas…) que algumas freguesias fizeram questão de mostrar no cortejo, em consonância com a forte tradição do mundo rural de Arcos de Valdevez, que também ficou demonstrada no concurso agrícola, no decurso do qual Leonor Nogueira, de Paçô, arrebatou 26 prémios (dos quais sete primeiros lugares).
“Super-heróis” na serenata do rio
Segundo uma tradição que remonta pelo menos à década de 50 do século passado, o auge da diversão noturna, pela sua singularidade, prendeu-se com o desfile dos barcos do rio, desta vez consagrado aos “Super-heróis” (Homem-Aranha, Mulher-Maravilha, Hulk, Batman, Super-Homem, Homem de Ferro e Capitão América, sete heróis da banda desenhada que alimentam as fantasias do público infantil), momento este que se revelou um espetáculo de cor, brilho e dinamismo, um dos raros “números” que valem por si só. A cada Super-herói foi associado um tema musical, superiormente interpretado pelas vozes de Milay Lagarto, Sílvia Mota, Maria Ângela e Pedro Gomes.
De realçar a minúcia e a qualidade do trabalho que o artista Nuno Mokuna emprestou às esculturas, muito ao gosto da multidão que se aglomerou na ponte e nas cercanias desta para aplaudir este momento tão peculiar das festas arcuenses, às quais não faltou o espetáculo do fogo-de-artifício que iluminou os céus na zona da praia fluvial da Valeta.
Último dia dedicado aos fiéis e à música clássica
No domingo, 13, a componente religiosa subiu a primeiro plano. Foi celebrada missa campal no Largo da Lapa, em honra de Nossa Senhora que dá nome às festas, ato presidido pelo padre Aventino Freitas, que exaltou a “Vida” e o “Amor”, querendo dizer com isso que “só o Amor de Deus dá sentido à Vida”. Finda a eucaristia, saiu a procissão com cavaleiros, Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez, bandeiras das confrarias, andores, Irmandade, coletividades (CRAV e Moto Clube de Arcos de Valdevez), pálio, Sociedade Musical Arcuense (Banda) e fiéis, tendo o cortejo percorrido o itinerário habitual onde se foram concentrando devotos ou simples curiosos, em silêncio respeitoso, antes do regresso à igreja. De sublinhar, pela negativa, a ausência completa de figurados, um problema que se tem vindo a agudizar de ano para ano.
Num registo diferente para remate das festas, a famosa Banda de Arcos de Valdevez, do regente Álvaro Pinto, ofereceu um espetáculo empolgante, com um concerto totalmente interpretado pelos músicos da orquestra arcuense, exímios executantes na arte de tocar, enquanto, pela madrugada, os foliões se despediram em êxtase do Festival Ínsua do Vez.
Residentes criticam dias de festa a mais
As Festas do Concelho terminaram em grande estilo, mas para as pessoas que vivem e trabalham no centro urbano (e não só) sobraram muitas queixas.
Em causa o transtorno provocado pelo ruído nos 12 dias que durou a romaria, um período “exagerado” na opinião das pessoas consultadas pelo NA, com perturbações no descanso dos moradores, para lá do facto de cinco parques de estacionamento (Augusto Cristina, Trasladário, DNA, Bar do CRAV e Ponte Nova) terem estado ocupados durante mais de duas semanas – o parque do Riva Café, na margem esquerda do rio Vez, de pouco serviu dado o estacionamento de longa duração que os autocaravanistas sempre praticam nesta altura do ano.
Para o público, urge identificar soluções de modo a evitar a ocupação de tantos espaços por tanto tempo, principalmente durante o período de atividade diurna, situação que prejudicou o acesso ao pequeno comércio local, excluindo, aqui, os espaços de restauração que registaram grande procura.
A.F.B.