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Livros e espetáculos à prova na feira independente

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O Campo do Trasladário acolheu, de 5 a 7 de julho, a segunda edição da Livrindie – Feira do Livro Independente, um espaço aberto para comprar e apreciar livros e um programa de animação que homenageou a força das palavras escritas (e ditas). Entre histórias, encontros com autores, teatro, declamação de poesia, leitura em voz alta, música e atividades para crianças, ficou provado, se dúvidas houvesse, que há margem para se fazer nos Arcos um grande evento anual à boleia dos livros – porque estes dizem muito, são fontes inesgotáveis de conhecimento e contam muitas histórias.

A Livrindie, projeto cultural que visa promover o livro e a literatura independentes, sob a chancela da ContraEscrita Edições (Filipe Faro da Costa), convidou editoras independentes e diversos autores e artistas de várias áreas. A escrita, através do livro, e a expressão oral, através da exposição de ideias, da declamação e da leitura expressiva, são, por excelência, os suportes para todas as artes e, por esta circunstância, várias manifestações artísticas estiveram presentes nesta segunda edição da feira, que juntou escritores, editores, músicos, dizedores…

Nasci num campo de papoilas retrata sociedade em mutação”

Numa das apresentações literárias foi protagonista a arcuense Paula Teixeira de Queiroz (romancista e contista), autora do romance Nasci num campo de papoilas. Sobre o volume de 240 páginas, o editor Joaquim Pinto da Silva (Orfeu Bruxelas) referiu que a obra “explora uma saga portuguesa que retrata uma sociedade em mutação, afirmando-se o romance como uma celebração das mulheres, um convite à sua coragem e à sua emancipação”.

“No fim de contas, este livro, criativo e com pendor sociológico, é uma galeria generosa de retratos, a maior parte femininos. Através das suas imperfeições, ficamos comovidos com estas mulheres, com as suas trajetórias tão tortuosas e torturadas, contraditórias e oprimidas. Quer sejam vítimas de violência, do abandono e da solidão, estas mulheres aprendem a viver com a coragem que lhes é própria. Portanto, o livro é um retrato bastante real de um país que – embora em transformação nos últimos 50 anos – ainda tem muito que evoluir para se alcandorar a um lugar mais civilizado”, acrescentou Joaquim Pinto da Silva.

Citando Guilherme d’Oliveira Martins, o editor destacou ainda “o registo marcadamente irónico e, igualmente, dramático” da obra, que “existe para desassossegar”, um pouco à maneira do Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa (assinado pelo heterónimo Bernardo Soares). 

Por seu lado, a escritora disse não esquecer nunca a Terra onde nasceu e cresceu. “Apesar de viver em Lisboa há 44 anos (ou mais), volto sempre aos Arcos, é aqui que estão as minhas raízes e são os Arcos que moldam as minhas personagens, as quais viajam comigo. Aliás, uma situação engraçada é que eu crio personagens de mulheres fortes do Minho – e eu nem sequer tinha reparado nisso. Por exemplo, a Emilinha (de Nasci num campo de papoilas) era a catequista da igreja Matriz, uma mulher muito certinha, e através dela temos a história da senhora dona Emília, que era da nobreza rural, embora muito viajada, alguém que gostava de viver em Paris e com um lado devasso. Ou seja, a senhora dona Emília, que centra nela o segredo, representa a transgressão nos meus livros”, contou Paula Teixeira de Queiroz, que enaltece as “mulheres lutadoras”.

“No fundo, o romance Nasci num campo de papoilas resulta das memórias da minha mãe e das minhas tias. Eram três irmãs fabulosas (a minha tia Maria da Luz ainda está viva), ligadas por uma grande amizade, e todas uma fonte de inspiração para mim. E, neste livro, muitas passagens são dedicadas à minha mãe”, atalhou a romancista, que venceu o Prémio Literário Aldónio Gomes (2013), com a obra A Bruxa de Grade

Para Paula Teixeira de Queiroz, o romance Nasci num campo de papoilas, “além do humor sarcástico”, encerra uma “leitura social”. “Toda a cultura portuguesa dos últimos 60 anos, pelo menos, está neste livro. Todas as vivências do povo português no período em referência estão aqui representadas”, disse a autora em alusão ao Tomás Comunista, à filha (mulher lutadora) de um agente da PIDE, à emigração, à falta de oportunidades para as mulheres, à violência doméstica, às relações de alguns sacerdotes com as mulheres ou ao alcoolismo dos homens.

 

Recitações, tertúlias, espetáculos, oficinas criativas…

Além de apresentações literárias, a Livrindie ofereceu leituras, recitações de poesia, oficinas criativas, tertúlias e espetáculos variados. Entre os convidados contaram-se Val’de Vozes (projeto coral do Conservatório de Música), Ensemble de Clarinetes (Conservatório e Banda arcuense), Miguel Riva (músico), Ana Catarina Barbosa (dizedora e contadora de histórias infantis), Eduardo Pimenta (fotógrafo), Bernardo Antunes (músico), Neusa (poetisa), Bernardo Antunes (músico), os autores Cristina Machado, Jorge Braga, Erdan Nightwalker, Jorge Pinto, Paulo José Borges, Joaquim Pinto da Silva, Philipe Pharo, além de Paula Teixeira de Queiroz.

Este foi um evento independente promovido e organizado pela ContraEscrita Edições, sem verbas ou financiamentos institucionais e produzido com um orçamento angariado localmente, fruto do apoio de privados, de empresas e do comércio arcuense. 

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