Segundo adiantou o vereador João Braga Simões em reunião de Câmara e em comunicado enviado às redações, “há duas listas que totalizam cerca de 3 mil utentes sem médico de família atribuído no Centro de Saúde de Arcos de Valdevez (CSAV) e que aguardam colocação de novo médico há vários meses. E assim ficarão, por inépcia do Governo”, acusou, na circunstância, o recandidato do PS à Câmara, defraudado por o Governo não ter procedido à abertura de vagas para a unidade arcuense.
Com as eleições autárquicas de setembro/outubro como pano de fundo, o autarca Rui Aguiam solicitou uma clarificação sobre aquele indicador estatístico na Assembleia Municipal de 28 de fevereiro. “Gostava de ser esclarecido, pelo presidente da Câmara, se na realidade existem 3 mil utentes à espera de médico de família no CSAV ou se a declaração do senhor recandidato do PS à Câmara Municipal é enganadora ou mentirosa, o que é péssimo para um candidato que pretende ser o futuro presidente do nosso concelho”, atirou o presidente da Junta de Arcos de Valdevez (São Salvador), Vila Fonche e Parada.
Em resposta, o presidente do Município, secundando a informação enviada pela Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM), frisou que, “em nenhum momento, os utentes ficaram sem assistência, isto graças ao esforço e empenho de médicos e enfermeiros. A segunda questão é que não foi aberta nenhuma vaga para o CSAV, por razões que se prendem com a dinâmica de colocação dos médicos nas diferentes unidades. Como tal, nenhum clínico pôde ser colocado. Espero que rapidamente se resolva o problema das colocações no CSAV”, salvaguardou João Manuel Esteves.
Em defesa da posição assumida pelo médico João Braga Simões, a líder do grupo municipal do PS registou que, em relação à lista de espera, a “ULSAM identificou um conjunto de necessidades e as mesmas foram suscitadas à tutela, que, porém, não atendeu aos pedidos. Manifestamente continua a haver pessoas em listas de espera, isto é, sem médico de família no CSAV. No resto do distrito, apenas foi preenchida uma vaga em Valença, tal facto deve preocupar-nos a todos”, advogou Madalena Alves Pereira.
“Desafio os autarcas a consultarem os fregueses para saber se todos têm médico de família”
Da mesma bancada, a deputada Ana Rafaela Gave, médica no CSAV, fez uma declaração de interesses com os números atualizados. “Neste momento, no concelho de Arcos de Valdevez, existem cerca de 2500 utentes sem médico de família, sendo que na Unidade de Saúde Familiar (USF) onde trabalho há uma lista com cerca de 1300 utentes sem médico de família. Digo ‘cerca’ porque a lista de um médico de família é dinâmica, está sujeita a óbitos, nascimentos e a transferências. Por outro lado, é importante sublinhar que ter médico de família atribuído é diferente de ter acessibilidade aos cuidados. Apesar disso, os profissionais do CSAV têm feito de tudo para que os utentes tenham acesso aos cuidados de saúde, mas nenhum arcuense deve estar desprovido de médico de família. [Para apuramento da realidade], desafio os autarcas a consultarem os fregueses para saber se todos têm médico de família, porque, acima de tudo, devemos defender os cuidados de saúde aos cidadãos arcuenses”, preconizou a jovem clínica de Sistelo.
“Em duas horas, número de utentes sem médico de família baixou de 3 mil para 2500!”
No pingue-pongue que dominou os trabalhos da Assembleia, Rui Aguiam usou da ironia para referir que, “em cerca de duas horas, conseguimos baixar de 3 mil para 2500 os utentes sem médico de família, houve aqui, já, um contingente de 500 utentes com médico de família, fico satisfeito e orgulhoso pela minha intervenção inicial! Mas, se existe tanta gente sem médico de família, por que razão há uma ‘guerra’ entre os médicos e as USF na busca de novos utentes?”, questionou o autarca independente.
Entretanto, na ótica da bancada do PS, a despeito dos “jogos políticos”, “todos devemos clamar, isso sim, por um acesso digno a cuidados de saúde à sua população, o que passa, em primeira instância, pela garantia de médico de família a todos os utentes. Porque falhar na defesa de um pilar básico do Estado é falhar sobre todos os nossos concidadãos”, concluíram Madalena Alves Pereira e Vítor Sousa.
“Pedidos de contratação de médicos à tutela não foram atendidos”
Interpelado por este jornal sobre a falta de médicos de família no CSAV, o presidente cessante do Conselho de Administração da ULSAM, João Porfírio Oliveira, afirmou que fez “pedidos de contratação de médicos à tutela, mas nem sempre tivemos sucesso em ter resposta favorável, temos muitos médicos em prestação de serviço que estão dispostos a ficar connosco, mas não temos essas vagas disponíveis para fazer contratos de trabalho sem termo, que é isso que os clínicos ambicionam também”.