A professora Anabela Araújo entrou no segundo ano do segundo mandato como diretora do Agrupamento de Escolas de Valdevez (AEV) com o compromisso de continuar a garantir uma “educação de qualidade” num contexto bastante desafiante, onde a integração dos alunos estrangeiros é uma responsabilidade acrescida face ao aumento significativo deste grupo em tempos recentes.
“Entre os anos letivos 22/23 e 24/25 entraram no AEV cerca de 200 alunos vindos do estrangeiro, de 20 nacionalidades diferentes, sendo a maioria proveniente do Brasil, França e Venezuela. Felizmente, as várias unidades do AEV têm uma longa tradição de acolher alunos estrangeiros, principalmente filhos de emigrantes ou filhos de emigrantes de segunda geração que regressaram. No entanto, nos últimos três anos, o número de alunos estrangeiros aumentou consideravelmente e o contexto alterou-se significativamente: os novos alunos não têm ligação ao território e vêm de países com identidades culturais distintas da nossa”, começou por dizer ao NA a diretora do AEV.
Consequência disso, o AEV é cada vez mais um espaço multilinguístico e, esta nova realidade, reclama recursos para favorecer a integração. “A Direção, em colaboração com outras estruturas educativas, elaborou o documento ‘Processo de Acolhimento de Alunos Migrantes’, que define as medidas a implementar na receção destes alunos. Por outro lado, o Ministério da Educação, Ciência e Inovação, considerando o número crescente de alunos migrantes nas escolas do AEV, autorizou a contratação de um mediador linguístico e cultural (concurso a decorrer) para melhorar o apoio aos alunos estrangeiros recém-chegados”, congratula-se Anabela Araújo.
O ensino de Português Língua Não Materna (PLNM) está a ser ministrado ao contingente de alunos internacionais. “O PLNM é proporcionado a todos os alunos cuja língua materna não é o português. Ao serem integrados nas suas turmas, os alunos realizam um teste de avaliação diagnóstica de proficiência linguística, que os enquadra num determinado nível. Mesmo os alunos dos PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa] podem integrar o PLNM se a língua em que foram escolarizados não for o português. Os documentos normativos, aprovados recentemente, criaram um Nível Zero de PLNM, para alunos cuja proficiência está num estádio de iniciação absoluta à língua portuguesa, na forma oral e escrita”, explica a diretora do AEV.
Noutro plano, a problemática da indisciplina está a ser trabalhada, no AEV, de uma forma “preventiva e pedagógica”. Esta abordagem “inclui um Código de Conduta que define regras claras sobre comportamentos esperados em contexto escolar e a educação para os valores e cidadania, transversal a todas as disciplinas, com ênfase na área de Cidadania e Desenvolvimento. O objetivo é promover o respeito, a empatia e a resolução de conflitos. Temos ainda a parceria com a GNR Escola Segura que se materializa no apoio a iniciativas para combater comportamentos disruptivos. Depois, garantimos a supervisão dos espaços escolares por assistentes operacionais e docentes, para suprimir os conflitos. Mas também apostamos em programas de Tutoria e Mentoria, que visam apoiar os alunos mais problemáticos. Nas atividades extracurriculares, incluindo os vários clubes, pretendemos canalizar positivamente a energia dos alunos. Mobilizamos ainda os pais ao promover encontros com encarregados de educação sobre a indisciplina com a participação de especialistas. E, por fim, o Serviço de Psicologia e Orientação tem um papel fundamental, não só na prevenção como também na intervenção e implementação de medidas corretivas da indisciplina”.
Atualmente, frequentam o AEV 1983 alunos.
A.F.B.
Quatro perguntas a Anabela Araújo, diretora do AEV
“A barreira linguística e a insuficiência de recursos afetam a integração dos alunos estrangeiros”
- Quais os desafios que o AEV enfrenta para uma efetiva integração dos alunos estrangeiros?
O AEV enfrenta alguns desafios na integração dos alunos estrangeiros. O primeiro é a barreira linguística: os alunos estrangeiros frequentemente têm dificuldades em compreender e expressar-se na língua de ensino. Tal facto, afeta o seu desempenho académico e a sua socialização. O segundo desafio é a insuficiência de recursos com formação adequada para apoiar os alunos na aprendizagem de modo eficaz.
- Que iniciativas estão pensadas para fomentar o diálogo intercultural no seio do AEV?
No início de cada ano letivo, há uma reunião de receção para os novos alunos e encarregados de educação no AEV, para apresentar as escolas e o funcionamento da organização, familiarizando os alunos com os espaços que irão frequentar. Quando os alunos chegam no decorrer do ano letivo, um membro da Direção recebe o aluno (e o encarregado de educação), fornece as informações necessárias e mostra a escola.
Complementarmente, na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, abordam-se os países de origem dos alunos que ingressam em cada turma. Durante a época natalícia, alguns docentes promovem a atividade “Natal Multicultural”. No âmbito do Clube Himalaya, o espaço H2O disponibiliza vestuário e afins (como roupas de cama, toalhas e loiças) a quem necessitar. Também articularmos com a Câmara para encaminhar famílias que evidenciem outras carências, como habitação e emprego.
- Nos próximos seis anos, há mais de 50 professores do quadro do AEV que se vão aposentar. Como é que a Direção encara esta realidade? Oportunidade de renovação? Ou um estrangulamento no que respeita a metodologias e práticas em uso?
A aposentação de mais de 50 professores nos próximos seis anos é vista sob duas perspetivas. A primeira, mais positiva, leva a encararmos como uma oportunidade de renovação, na medida em que a entrada de novos docentes pode trazer abordagens pedagógicas inovadoras, maior familiaridade com ferramentas digitais e estratégias de ensino diferenciadas. […] A segunda, menos entusiástica, considera o desafio pelas fraturas na estabilidade ou continuidade na transmissão das boas práticas e do conhecimento institucional.
Para mitigar os desafios e aproveitar as oportunidades, a Direção pensa em adotar estratégias como os programas de Mentoria entre docentes experientes e recém-chegados, a formação contínua focada nas necessidades do Agrupamento e um planeamento estratégico para a transição geracional. Estas medidas podem garantir uma renovação equilibrada e benéfica para toda a comunidade escolar.
- Quais as medidas previstas para casos de indisciplina grave?
Segundo o Código de Conduta dos Alunos e o Regulamento Interno do AEV, as medidas mais rigorosas, quando necessárias, incluem advertências, registos de ocorrência, trabalho comunitário na escola e, em casos graves, suspensões.