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“Para os encarregados de educação proibir telemóveis no recreio é considerado excessivo”, diz a coordenadora da Escola Básica Padre Himalaya

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Quando a campainha toca para os intervalos, a tradicional vozearia do recreio é substituída por um estranho sossego na maioria das escolas. Os alunos deslizam os dedos pelos ecrãs dos telemóveis, isolando-se no seu pequeno mundo virtual e descurando a socialização. É esta a realidade que atinge boa parte da população escolar, apesar dos apelos feitos por alguns pais e encarregados de educação para uma restrição do uso dos telemóveis. No Agrupamento de Valdevez (AEV), a Escola Básica Dr. Manuel da Costa Brandão (Sabadim) até já proibiu a utilização dos telemóveis no recreio para promover as interações entre pares, mas noutras unidades do mega-agrupamento o assunto está a ser ponderado entre os diferentes agentes da comunidade educativa. 

“A proibição do uso de telemóveis nos intervalos é uma medida que tem sido equacionada e debatida na comunidade escolar. Um argumento que fortalece a proibição é o impacto negativo na interação social entre os alunos. A ideia é fomentar o contacto interpessoal entre os alunos, incentivando o convívio face-a-face, o lazer e a participação em atividades recreativas durante os intervalos. Com o uso constante dos telemóveis, muitos estudantes tendem a afastar-se do convívio real, preferindo interagir virtualmente, o que pode prejudicar o desenvolvimento de habilidades sociais, a formação de amizades e até mesmo a participação em atividades extracurriculares”, admite a coordenadora da Escola Básica Padre Himalaya (Távora Santa Maria).

A hipótese de proibir a utilização de telemóveis nos intervalos para facilitar o contacto interpessoal, o lazer e as brincadeiras entre alunos é um dos ângulos da reflexão. “É importante ponderar os prós e contras dessa decisão, avaliando o impacto nas interações sociais, bem como a necessidade de supervisão e implementação eficaz. A discussão em torno dessa hipótese continua a ser uma parte significativa do diálogo sobre o ambiente escolar”, observa Alexandrina Martins, ciente de que “o avanço das tecnologias e a crescente dependência dos dispositivos móveis reclamam um aturado estudo sobre o impacto desses aparelhos no ambiente escolar e no desenvolvimento dos alunos”.

 

“É mais importante promover o autocuidado em relação ao uso dos telemóveis”

As mensagens dos pais e encarregados de educação não são unívocas. “As opiniões variam, havendo prós e contras. Na reunião de receção aos alunos no início do ano letivo, os diretores de turma colocaram à consideração dos pais/encarregados de educação a possibilidade de se proibir a utilização de telemóveis nos intervalos, visando facilitar o contacto interpessoal, promover o lazer e incentivar as brincadeiras entre os alunos. O retorno transmitido pelos pais reflete uma diversidade de perspetivas sobre a proposta de proibição da utilização dos telemóveis. A falta de eficácia da proibição em controlar o uso dos telemóveis é um argumento válido contra a medida. Mesmo com a proibição, muitos alunos conseguem utilizar os dispositivos de forma discreta e desrespeitosa. Isso levanta questões sobre a eficácia da proibição em si e sugere que é mais importante promover a consciencialização e o autocuidado em relação ao uso dos telemóveis”, ressalva Alexandrina Martins.  

Para a coordenadora da Escola Básica Padre Himalaya “a proibição é considerada ‘excessiva’ pelos encarregados de educação, que recomendam, no entanto, a adoção de regras. A ideia é de que não se deve simplesmente proibir o uso em contexto escolar, mas sim sensibilizar para uma utilização moderada, quer pela escola, quer pelos encarregados de educação”, acrescenta a responsável.

 

“Os telemóveis são uma ferramenta pedagógica em algumas disciplinas”

Em contexto de sala, o telemóvel é usado como “ferramenta pedagógica”. “Um dos principais desafios do uso de telemóveis em sala de aula é garantir que os alunos os utilizem de maneira adequada e não se distraiam com outras atividades não relacionadas com a aprendizagem. É importante estabelecer regras claras e expectativas sobre o uso responsável dos telemóveis”, reforça Alexandrina Martins. 

Segundo a coordenadora da Escola Básica Padre Himalaya, “para maximizar o potencial educativo dos telemóveis, é crucial que os professores os incorporem cuidadosamente nos seus planos de aula. Ao identificar objetivos de aprendizagem específicos e selecionar aplicações ou recursos adequados, os professores podem criar atividades que estejam alinhadas com o currículo e promovam a participação ativa. A integração de telemóveis nos planos de aula pode fomentar, portanto, a colaboração, o pensamento crítico e a criatividade entre os alunos, tornando o processo de aprendizagem mais dinâmico e envolvente”, defende Alexandrina Martins.

O telemóvel tem virtualidades inegáveis. “É utilizado como uma ferramenta pedagógica em algumas disciplinas, principalmente nos ciclos escolares em que são introduzidos recursos educativos digitais, como no 2.º e 3.º ciclos. Este uso é mais frequente em disciplinas onde são exploradas ferramentas interativas, como o Kahoot, o Mentimeter ou Quizizz, para promover a participação dos alunos e reforçar conceitos de forma dinâmica e envolvente”, explica Alexandrina Martins.

Além disso, o telemóvel também “é utilizado para proporcionar aos alunos acesso rápido a recursos online, pesquisa de informações e colaboração em projetos educativos. Este uso restrito e direcionado do telemóvel visa potenciar as oportunidades de aprendizagem, preparando os alunos para uma integração mais consciente e responsável das tecnologias no seu percurso académico e futuro profissional”. 

Ações para prevenir riscos associados às novas tecnologias

O AEV tem dinamizado diversas iniciativas para consciencializar a população escolar sobre os riscos associados ao uso inadequado das novas tecnologias. “Estas ações incluem palestras educativas, debates e atividades específicas, abordando temas como a segurança online, o ciberbullying, a proteção de dados e a ética digital. O objetivo é proporcionar aos alunos uma compreensão abrangente dos desafios associados ao uso das tecnologias, promovendo uma utilização consciente e responsável”, contextualiza a professora Alexandrina Martins. 

Além do ‘Dia da Internet Mais Segura’, comemorado anualmente no segundo dia da segunda semana do segundo mês [assim aconteceu no passado dia 6 de fevereiro], “o AEV, em colaboração com a Escola Segura (GNR), promove, igualmente, diversas sessões de sensibilização para a utilização da Internet em segurança e para as boas práticas da navegação online”. 

A.F.B.

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