O PS venceu as eleições europeias realizadas a 9 de junho com 32,09% dos votos, enquanto a AD (coligação que junta PSD e CDS) não foi além de 31,12%, traduzindo uma diferença de 0,97% (o equivalente a 38 493 boletins). Por mandatos, o PS vai ocupar oito lugares (elegeu nove em 2019) no Parlamento Europeu (PE), mais um do que a AD. O Chega, que elegeu dois eurodeputados, consegue representação pela primeira vez na Europa, mas o resultado (9,79%) significou um travão a fundo na trajetória recente do partido de extrema-direita. Já a Iniciativa Liberal, um dos grandes vencedores da jornada eleitoral, conseguiu uma votação recorde (9,07%), garantindo com isso duas cadeiras. O Bloco de Esquerda (4,25%) e a CDU (4,12%), dois dos derrotados, elegeram um deputado cada, perdendo, todavia, o segundo mandato. O Livre (3,75%) e o PAN (1,22%) não conseguiram eleger eurodeputados.
Na hora da consagração, o líder do PS, Pedro Nuno Santos, assinalou que “a vitória nas eleições europeias coloca o partido como primeira força política em Portugal” e a cabeça de lista, Marta Temido, preferiu sublinhar que o resultado “é uma grande vitória para as mulheres”.
O presidente da AD, Luís Montenegro, admitiu que a coligação “não cumpriu o objetivo de ganhar as eleições”, elogiando, apesar de tudo, o “combativo” Sebastião Bugalho, que, “com humildade democrática”, assumiu a derrota.
O Chega entra pela primeira vez no PE, mas André Ventura queria mais. “O Chega não atingiu, nestas eleições, os seus objetivos. Não ganhámos e queríamos ganhar. Sou o único responsável deste resultado. Mas não podemos extrapolar destas eleições resultados de eleições legislativas ou de outras”, ressalvou.
Por seu lado, o cabeça de lista da Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo, não escondeu a felicidade de não ir sozinho para Bruxelas, “levo a Ana Martins comigo!”, fruto do “crescimento sustentado do partido, a única força política a saber ir buscar o voto dos descontentes” – os liberais multiplicaram por 12 os votos em relação a 2019.
O Bloco de Esquerda perdeu metade dos votos, mas, ainda assim, conseguiu eleger a cabeça de lista, Catarina Martins, que promete “continuar a lutar pela igualdade, porque a nossa Europa é de iguais”.
Com uma quebra menor, a CDU também conseguiu sufragar João Oliveira, que no PE emprestará a sua voz pela “defesa da melhoria das condições de vida do nosso povo”.
Olhando para o mapa nacional, o PS afirmou-se como a força hegemónica a sul de Portugal continental, enquanto a AD foi dominadora a norte e nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores.
Registou-se em Portugal uma diminuição da taxa de abstenção (de 69,27% em 2019 para 62,96% em 2024), facto para o qual, segundo os analistas, terá contribuído “o modelo do voto em mobilidade, novidade absoluta nestas eleições”.
Eis os 21 nomes eleitos para o PE: Marta Temido, Francisco Assis, Ana Catarina Mendes, Bruno Gonçalves, André Rodrigues, Carla Tavares, Isilda Gomes e Sérgio Gonçalves (estes oito pelo PS); Sebastião Bugalho, Paulo Cunha, Ana Miguel Pedro, Hélder Sousa Silva, Lídia Pereira, Sérgio Humberto e Paulo Nascimento Cabral (os sete sufragados pela AD); António Tânger Corrêa e Tiago Moreira de Sá (ambos eleitos na lista do Chega); João Cotrim de Figueiredo e Ana Martins (os dois da IL); Catarina Martins (BE); e João Oliveira (CDU).
Resultados das eleições europeias em Portugal
2024 | 2019 | |||||
% votos | Eleitos | Votos | % votos | Eleitos | Votos | |
PS | 32,09% | 8 | 1 266 369 | 33,38% | 9 | 1 106 345 |
AD | 31,12% | 7 | 1 227 875 | PSD|21,94%
CDS| 6,19% |
6+1 | 727 207
+ 205 111 |
Chega | 9,79% | 2 | 386 379 | Não concorreu | ||
IL | 9,07% | 2 | 357 856 | 0,88% | 0 | 29 120 |
BE | 4,25% | 1 | 167 718 | 9,82% | 2 | 325 534 |
CDU | 4,12% | 1 | 162 649 | 6,88% | 2 | 228 157 |
Livre | 3,75% | 0 | 148 128 | 1,83% | 0 | 60 575 |
ADN | 1,37% | 0 | 54 064 | Não concorreu | ||
PAN | 1,22% | 0 | 47 972 | 5,08% | 1 | 168 501 |
Brancos | 1,20% | 47 409 | 4,25% | 140 954 | ||
Nulos | 0,77% | 30 503 | 2,68% | 88 961 |
Em 2019, PSD (6 mandatos) e CDS-PP (1) garantiram, em listas separadas, sete lugares no PE
AD força mais votada no Alto Minho
Muito mudou nos lugares do pódio europeu no distrito de Viana do Castelo.
A AD obteve 36,85% (o equivalente a 35 025 votos, mais 8807 boletins do que em 2019, altura em que o PSD e o CDS concorreram em listas próprias) e, desta vez, levou a melhor sobre o PS, que se ficou por 30,97% (correspondendo a 29 437 votos) – recorde-se que os socialistas ganharam as europeias de 2019 com 33,38%. Comparando ainda os dois atos, o Bloco de Esquerda foi destronado do pódio, caindo de terceiro para quinto: passou de 8,39% (6357 votos) em 2019 para 3,39% (3221 sufrágios) em 2024.
Apesar do forte recuo em relação às legislativas, o Chega afirmou-se, apesar de tudo, como a terceira força do Alto Minho, com 9,56% (9088 votos), nestas eleições europeias.
Com motivos para festejar ficou a Iniciativa Liberal, que saltou de uns residuais 0,54% (411 votos) em 2019 para 7,39% (7021 sufrágios) em 2024, trepando do 13.º para o 4.º lugar distrital.
Inversamente, a CDU perdeu 738 votos no distrito (de 4,29% para 2,64%), tombando do 5.º para o 7.º lugar, tendo os comunistas sido superados pela IL e pelo Livre (2,75%), a sexta força mais votada da região.
A AD saiu vencedor em sete dos dez concelhos do Alto Minho: Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Ponte de Lima, Monção, Caminha, Vila Nova de Cerveira e Valença.
Ao invés, nos restantes concelhos – Viana do Castelo, Melgaço e Paredes de Coura – ganhou o PS.
No concelho arcuense ganhou a AD com 43,51%
No concelho de Arcos de Valdevez, após uma campanha que praticamente passou despercebida, a AD ganhou em 30 das 36 freguesias, mas sem maioria absoluta dos votos. Num território onde o PSD é historicamente o grande bastião, os arcuenses voltaram a dar uma vitória à coligação de direita, mas sem o fulgor de outros tempos.
Os dois partidos da AD, neste concelho, somaram 43,51%, o equivalente a 4071 votos, abaixo da representatividade conseguida há cinco anos, altura em que as duas forças obtiveram 47,18% (então em listas separadas). No histórico de vitórias no concelho de Arcos de Valdevez, o resultado de 9 de junho é, no que toca a eleições europeias, o mais magro de sempre dos dois partidos que formam a aliança de direita.
Por seu lado, o PS – que ganhou nas freguesias de Arcos de Valdevez (São Salvador)/Vila Fonche/Parada, Eiras/Mei, Oliveira, Paçô e Jolda São Paio – obteve neste concelho 31,07%, correspondendo a 2907 votos, mais 693 preferências do que nas europeias de 2019.
Mas a grande sensação no concelho de Arcos de Valdevez foi a vitória do Chega em Gondoriz, com 31,99% dos votos – embora tenha logrado o último lugar do pódio no concelho, o partido de extrema-direita perdeu o embalo das eleições legislativas, tendo-se ficado por 8,25% dos votos sufragados.
De referir ainda que a Iniciativa Liberal, com 5,26%, o ADN, com 2,36%, e o Livre, com 1,93%, suplantaram tanto o Bloco de Esquerda (1,84%) como a CDU (1,50%), forças em erosão há anos. O PAN, com uns inexpressivos 75 votos (0,80%), foi outra das desilusões destas eleições no concelho arcuense.
A abstenção nos Arcos cifrou-se em 61,47%, representando uma descida acentuada em relação às eleições de 2019 (nestas o abstencionismo foi de 71,52%) – o número de votantes evoluiu de 7286 em 2019 para 9357 em 2024 –, efeito prático da maior participação e do voto em mobilidade, apesar de alguns problemas informáticos relatados em várias mesas de voto nas primeiras horas do escrutínio, caso de Cabana Maior, disfunções, entretanto, sanadas a contento de todos.
Por curiosidade a freguesia de Sistelo foi, de longe, a que registou o maior aumento de participação entre o ato eleitoral europeu de 2019 e o de 2024, já que a taxa de abstencionismo caiu de 71,34% (em 2019) para 11,96% (em 2024), “graças principalmente à modalidade de voto em mobilidade”, segundo o presidente da Junta, Sérgio Rodrigues.
A.F.B.
Resultados das eleições europeias nos Arcos
2024 | 2019 | |||
% votos | Votos | % votos | Votos | |
AD | 43,51% | 4071 | PSD|42,71%
CDS| 4,47% |
3112
326 |
PS | 31,07% | 2907 | 30,39% | 2214 |
Chega | 8,25% | 772 | Não concorreu | |
IL | 5,26% | 492 | 0,21% | 15 |
ADN | 2,36% | 221 | Não concorreu | |
Livre | 1,93% | 181 | 0,65% | 47 |
BE | 1,84% | 172 | 4,02% | 293 |
CDU | 1,50% | 140 | 1,85% | 135 |
PAN | 0,80% | 75 | 3,07% | 224 |
Brancos | 1,38% | 129 | 4,67% | 340 |
Nulos | 0,68% | 64 | 1,48% | 108 |
Mais (+) e menos (-) das eleições europeias no concelho de Arcos de Valdevez
. Apesar da menor expressão percentual, PSD e CDS, que se apresentaram coligados nas eleições de 9 de junho, tiveram, ainda assim, mais 633 votos do que em 2019 (ano em que sociais-democratas e democratas-cristãos se apresentaram em listas próprias), em razão da maior participação eleitoral registada no passado dia 9 de junho.
. Nas eleições europeias de 2024, o PS arrecadou mais 693 votos do que em 2019.
. O Chega, terceiro partido mais votado no concelho, conseguiu 772 votos nestas eleições.
. A Iniciativa Liberal deu um pulo no sufrágio de 9 de junho: passou de 16.ª força em 2019 para quarta, conseguindo 492 votos (5,26%) face aos insignificantes 15 votos (0,21%) de 2019.
. O ADN, quinto partido mais apoiado no concelho, logrou 2,36% (221 votos) nas primeiras eleições europeias sob esta sigla.
. O Livre cresceu em percentagem (1,93%) e votação (181 sufrágios) face a 2019 (0,65%, apenas 47 votos), trepando de 10.º para 6.º na hierarquia do concelho.
. O Bloco de Esquerda, 7.º partido mais votado nos Arcos em 2024 (fora 4.º em 2019), caiu de 4,02% em 2019 para 1,84% em 2024, o equivalente a uma perda de 121 votos.
. A CDU, embora ligeiramente, não evitou nova derrapagem: de 1,85% em 2019 para 1,50% em 2024.
. A AD obteve maioria absoluta em nove freguesias do concelho: Cabana Maior (63%), Grade/Carralcova (62,61%), Rio de Moinhos (56,19%), Vilela/S. Cosme e S. Damião/Sá (57,39%), Cendufe (52,11%), Aguiã (52,08%), Álvora/Loureda (51,91%), Souto/Tabaçô (51,74%) e Monte Redondo (50,49%).
. As freguesias com as mais altas taxas de participação foram Sistelo (88,04%), Padreiro Salvador e Santa Cristina (63,81%), Vilela/S. Cosme e S. Damião/Sá (50,17%), Távora Santa Maria e São Vicente (47,65%), Jolda São Paio (46,96%), Grade/Carralcova (46,93%) e Aboim das Choças (46,49%).
. As localidades de Arcos de Valdevez que, pelo contrário, registaram índices de abstenção mais elevados foram: Vale (77,95%), Gavieira (75,62%), Gondoriz (73,07%), Senharei (72,12%), Portela/Extremo (70,20%), Cabana Maior (69,70%), Paçô (68,80%), São Jorge/Ermelo (68,72%) e Soajo (66,34%).