Projetos de regeneração florestal e de valorização dos recursos endógenos

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Há projetos conjuntos recentemente executados ou em fase de execução para tornar a floresta mais produtiva e mais resiliente às condições do presente/futuro, ao mesmo tempo que são criadas condições para aumentar as fontes de riqueza na área da agropastorícia a partir dos baldios. 

Está provado cientificamente que “a melhor forma de mitigar as alterações climáticas é através de uma floresta saudável, fazendo dela um ‘tampão’ à desertificação. E a floresta assente em espécies autóctones é a que melhor protege o solo propiciando um habitat favorável à biodiversidade, tanto no solo quanto à sua superfície”, dizem os peritos. 

No concelho de Arcos de Valdevez assiste-se à implementação de ações promotoras da sustentabilidade dos recursos (floresta e baldios), ao mesmo tempo que se trabalha na mitigação das alterações climáticas, através de iniciativas coordenadas que emparceiram várias entidades, com o intuito de melhorar a saúde e a resiliência das florestas, além de contribuir para o bem-estar das comunidades e para a preservação ambiental. 

Neste âmbito, há iniciativas em curso ou já concluídas que, à boleia de apoios e programas nacionais e europeus como o Fundo Ambiental, o Portugal 2030 ou o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), têm como finalidade “promover práticas florestais responsáveis”, “prevenir incêndios florestais”, “melhorar a qualidade das massas ambientais”, “aumentar as fontes de rendimento”, “diversificar a economia rural”, através, por exemplo, do desenvolvimento de práticas inovadoras em torno da resinagem, a partir do Programa de Desenvolvimento Integrado do Pinhal Bravo de Soajo. 

A este respeito, a Comunidade Local dos Baldios de Soajo e o Grupo Soajo Identidade e Património – Associação de Desenvolvimento Local, depois dos ensaios levados a cabo em 2024, lançou, em parceria com a Resipinus (ao abrigo do Programa Resina Natural 21), “o primeiro momento de aprendizagem aberto ao público sobre as novas técnicas de resinagem” no passado dia 6 de março. 

Medidas de emergência para estabilização do solo em Ermelo

O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), poucos dias depois do grande incêndio que lavrou em Ermelo e São Jorge (onde foram consumidos cerca de 1300 hectares de área no passado mês de setembro), efetuou, em pontos críticos da encosta, operações de proteção do solo, com corte da matéria morta e criação de barreiras, face à erosão provocada pelo fogo, para tornar a zona menos vulnerável às chuvas de inverno, prevenindo a deslocação de cinzas do incêndio para as linhas de água e reduzindo o risco de derrocadas/deslizamentos, com possíveis consequências para quem circula na estrada. 

Paralelamente, foram realizadas sementeiras de culturas, proporcionando o aumento de matéria orgânica. O incremento desta matéria no solo tem em vista reter mais água, tornando-a uma “espécie de esponja”. Ao criar essa ‘esponja’, o efeito é consequente: aumenta a biomassa, a biodiversidade e a matéria orgânica. 

Nas áreas ardidas, a reflorestação privilegiou sementeiras de herbáceas de crescimento rápido, assim como de bolotas com recurso a drone em áreas de difícil acesso para favorecer uma floresta de espécies autóctones. 

Para o ICNF, “apenas um solo saudável pode exercer as funções necessárias para que os serviços ecossistémicos sejam fornecidos e preservados”, anulando as condições favoráveis à expansão das espécies invasoras, daí a importância de minimizar a erosão do solo após o fogo. 

A iniciativa, coordenada pelo ICNF, mobilizou a Junta de São Jorge e Ermelo. 

 

Projeto Bem Comum em Gondoriz

O Projeto Bem Comum, financiado pelo PRR, está a ser implementado no noroeste de Portugal e o mesmo abrange as regiões do Alto Minho, Cávado, Ave e parte de Montalegre. Com 12 parceiros, sob a coordenação do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), este projeto centra-se na valorização dos baldios e na promoção de soluções inovadoras para a sua gestão sustentável. Uma das iniciativas está a ser desenvolvida nos baldios de Gondoriz. 

De resto, no passado mês de fevereiro, a equipa do projeto dedicado ao fortalecimento da agropecuária teve o privilégio de passar em Gondoriz uma jornada “enriquecedora” com uma produtora de gado bovino (cem cabeças) e equino (trinta cavalos).

No decurso da visita, o nascimento de uma vitela assinalou o momento, emocionando a comitiva e reforçando a força da mãe-natureza. A produtora mostrou-se apaixonada pela atividade que desenvolve, classificando-a como um ato de “liberdade”. 

Além do trabalho que emparceira a Comunidade Local dos Baldios de Gondoriz, “o projeto tem uma forte componente de inovação e transferência de conhecimento, através do desenvolvimento de um geoportal interativo que pretende centralizar informação essencial para uma melhor gestão dos baldios”, assinala o IPVC.

O Bem Comum tem também como focos “a produção de biomassa, a criação de atividades ecoturísticas e a implementação de programas educativos para atrair os jovens para estas profissões e incentivar a fixação da população no meio rural”.

 

Beneficiação do pinhal bravo de Soajo para valorizar a resinagem

Os Baldios de Soajo e o Grupo Identidade e Património, em parceria com a Associação Resipinus, encetaram, no passado dia 6 de março, uma iniciativa tendente à valorização da resinagem. Esta atividade decorre da candidatura que a Comunidade Local dos Baldios de Soajo, através da parceira Raizesin, efetuou ao Fundo Ambiental para “beneficiação do pinhal bravo de Soajo”, mediante “ações mecanizadas de limpeza e reforço da regeneração natural”. 

“O pinhal bravo, uma das espécies florestais mais emblemáticas da região, é o ponto de partida deste projeto. Através de intervenções cuidadosas, o programa visa revitalizar o ecossistema florestal – pinhal bravo – aumentando a produtividade da resina, um recurso valioso, e reduzindo o risco de incêndios, um flagelo que tem assolado a região”, referem as entidades parceiras, para quem a formação visa tornar “esta atividade mais eficiente, segura e atrativa para as atuais e novas gerações”. 

“Através de cursos teóricos e práticos, ministrados pela Resipinus, os formandos são capacitados com técnicas modernas e sustentáveis de extração de resina. […] Este programa, que alia a preservação ambiental e a valorização de práticas tradicionais à inovação, tem como um dos seus pilares centrais a criação de emprego direto e o estímulo à iniciativa local. Graças a uma abordagem integrada, o programa não só gera oportunidades de trabalho como também abre portas para que a comunidade explore novas fontes de rendimento e fortaleça a economia local”, concluem os parceiros.

A.F.B.