Associação de Távora “transformou ruína em centro educativo e sociocultural”
A Associação Cultural do Povo de Távora (ACPT) recuperou a antiga escola primária de Távora Santa Maria (Salgueiral) fazendo do renovado imóvel a sua sede. A necessidade aguçou o engenho e a obra é a menina dos olhos do presidente da ACPT.
Na altura da sua constituição, em 2017, a ACPT procurou um espaço para que a Rusga do Povo de Távora Santa Maria e São Vicente deixasse de andar de porta em porta, como andava desde 2015. “Um dia lembrei-me da antiga escola primária. Falei com os senhores presidentes da Câmara e da Junta, de seguida, foi celebrado um protocolo de cedência para albergar a ACPT, no seio da qual passou a estar integrada a Rusga, atualmente constituída por 27 elementos, dos 10 aos 72 anos”, começa por dizer Cândido Silva, antigo emigrante em França.
Recorde-se que a escola primária de Távora Santa Maria fechou portas no início deste século e foi deixada ao abandono. “Uma autêntica floresta (codessos, salgueiros, mimosas, austrálias…) foi crescendo em redor do edifício que se foi degradando com o tempo, de tal maneira que o telhado já metia água e o alpendre estava a descolar do muro e em risco iminente de cair”, descreve.
A Rusga, “sem estatutos”, foi o pretexto para constituir a ACPT. “Sem tempo a perder, e mediante o imprescindível apoio da Câmara e da comunidade, iniciámos os trabalhos de reabilitação em janeiro de 2018. Um grupo de voluntários começou a deitar abaixo as frágeis estruturas e a refazer tudo”, sendo que a “bonita fachada foi finalizada no passado mês de julho”.
Excetuando o soalho, que é de origem, e o telhado, em bom estado depois da intervenção nele feita, “todos os restantes materiais são novos”. “As portas foram quase todas mudadas, as casas de banho são completamente novas, assim como as janelas, os tetos falsos, os acrílicos, as pinturas… E, para facilitar a mobilidade de pessoas entre a sala e o bar (novo), abrimos um corredor de circulação (em forma de arco)”. É neste imóvel renovado que se desenvolve um diversificado programa de atividades, incluindo ginástica sénior, olimpíadas, apoio escolar (dois professores) e ensino da concertina (na turma há quatro alunos com menos de 20 anos) a cargo do próprio Cândido Silva.
“Nós temos o dever de ensinar aquilo que nos ensinaram. Se ninguém o fizer, não haverá transmissão de saberes e perder-se-á um legado histórico-cultural riquíssimo. Estamos recetivos a alargar o leque de atividades, sempre com o objetivo de juntar as pessoas, de modo a preservar os usos e costumes de Távora, uma freguesia muito ligada ao trabalho artesanal e à atividade agrícola”, observa o presidente da ACPT, natural de Cendufe, mas com ligações a Távora desde a meninice (era na escola de Távora que tomava as vacinas) e, posteriormente, por via do matrimónio.
Iniciativas com fins solidários
No flanco oposto às casas de banho foi construída uma cozinha para apoiar a organização de convívios, alguns dos quais realizados com fins solidários num salão (ampliado) com capacidade para cerca de 150 pessoas e em cujas paredes será exposta a rica herança da freguesia, com réplicas de artesanato, nomeadamente cestaria e tamancaria.
Além da promoção do património histórico-cultural e do desenvolvimento de atividades socio-recreativas, a ACPT cultiva os valores da solidariedade, como se disse acima. “A pensar no Dinis (de Cabreiro), realizámos um almoço, através do qual foram arrecadados cerca de 3 mil euros. E, desde 2018, sempre no dia 15 de outubro, promovemos uma caminhada em defesa da luta contra o cancro da mama, cuja receita (cerca de 2 mil euros por ano) reverte, na íntegra, para a Liga Portuguesa Contra o Cancro”, congratula-se Cândido Silva.
A Associação, apetrechada com uma carrinha (adquirida em segunda-mão), tem “cinquenta e tal sócios pagantes”, todos de Távora. “O retorno que temos das pessoas da freguesia é muito bom e a comunidade também gosta de ajudar. Temos donativos de centenas e até de milhares de euros por parte de particulares, inclusive um tavorense deu 2 mil euros por altura de um jantar-convívio. Muitas somas fazem uma grande soma. Foi assim que conseguimos fazer a recuperação desta ruína”, nota o presidente da ACPT.
Entretanto, no recinto exterior, foi construído de raiz um alpendre, criados espaços para a prática de jogos tradicionais (petanca e malha) e boccia. Além disso, foi erigido um palco (feito em bloco, com pilares revestidos em pedra) para a rusga tocar, como aconteceu no passado dia 23 de setembro, por ocasião da festa da desfolhada. “O alpendre e o palco ficaram por menos de metade do preço normal, só pagámos o material, a mão-de-obra foi toda ela constituída por voluntários”, regozija-se o responsável.
Como testemunho da filosofia ecológica que a ACPT encarna, nas proximidades do alpendre, foram plantadas três tílias, “apadrinhadas por sócios”, para criar o efeito de “guarda-sol”, bem como uma “árvore fóssil”, conhecida por “ginkgo biloba”, igualmente “apadrinhada”, que “simboliza a paz e a longevidade”.
“Investimento superior a 100 mil euros”
Nas obras já foram “investidos mais de 100 mil euros”, dos quais “55 mil provieram de apoios municipais”, enquanto o restante ficou a cargo da Associação. “Há aqui muito esforço nosso, não só em termos da força de trabalho como da aquisição de material e da contratação de mão-de-obra para execução de trabalhos especializados”, constata Cândido Silva, de 72 anos.
O “grosso” do trabalho de reabilitação está executado, mas ainda há “pequenas afinações” a fazer. “Falta tratar do jardim, porque isto merece uma relva; eletrificar; adquirir algum mobiliário (cadeiras e mesas); e preservar a calçada, a ‘alma’ da antiga escola”, especifica o presidente da ACPT.
A.F.B.