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Elisabete Barbosa distinguida com Medalha de Mérito pela Ordem dos Médicos

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A arcuense Elisabete Fernandes Barbosa foi condecorada com a Medalha de Mérito da Ordem dos Médicos (OdM), pelo “percurso” e pela “valorização da carreira ao serviço da medicina”. Num universo de 18 profissionais de medicina agraciados, a médica de Soajo foi a única do Alto Minho a receber tal distinção no último Congresso Nacional da OdM, pelo “exemplo que tem sido para todos os médicos portugueses”. 

“É muito difícil descrever o que senti. Foi uma emoção muito grande, fui muito acarinhada tanto pelo bastonário da OdM, Carlos Cortes, como pelo ministro da Saúde, Manuel Pizarro. Sem falsas modéstias, acho que sou merecedora desta distinção, mas fui apanhada de surpresa, porque eu nunca tive ninguém influente que pudesse interferir”, disse ao NA Elisabete Barbosa, lamentando a circunstância de “só quatro mulheres terem sido condecoradas nesta cerimónia pela OdM”. 

A entrega das insígnias ocorreu em Vila Nova de Gaia, no passado dia 25 de novembro, por ocasião do 26.º Congresso Nacional da OdM, para o qual Elisabete Barbosa se inscreveu “muito cedo” em virtude de ter no programa “um tema muito interessante, a Carreira Médica”. Entretanto, já próximo do Congresso, a clínica soajeira foi contactada, via email, pela secretária do bastonário da OdM, Carlos Cortes, a comunicar que a Ordem pretendia “homenagear alguns médicos que contribuíram, de forma relevante, com a sua atividade e mérito pessoal, para a dignificação da profissão médica e da medicina portuguesa”, através da atribuição da respetiva Medalha de Mérito. 

“Nunca achei que o amarelo fosse tão bonito como é. E nunca pensei que aquela medalha fosse tão leve, ela corresponde a uma fortuna, que, no caso, não é dinheiro. Neste momento, a medalha está guardada numa vitrine onde estão as peças de que mais gosto, especialmente os presépios”. 

Mas esta Medalha de Mérito “não se reduz à pessoa que a recebe”, atalha a médica soajeira, que justifica a ideia citando a mensagem do bastonário da OdM: ‘A Medalha de Mérito é uma distinção que valoriza uma carreira ao serviço da ciência, da medicina, da formação médica, da investigação, dos doentes e da sociedade. Porém, o seu alcance vai muito além de uma distinção individual, pois nela se reconhecem os princípios e valores subjacentes aos médicos, à medicina e ao seu caráter profundamente humanista’. 

Para o atual bastonário da OdM, “a distinção não se materializa somente na Medalha de Mérito. […] É uma profunda responsabilidade para o médico que é distinguido […], realçando o papel do médico completo, que integra as visões clínicas e técnicas formativas e de ensino, de investigação e de procura das respostas mais adequadas para os seus doentes, assim como a sua ação para a construção de um mundo melhor”, sustenta Carlos Cortes. 

Também o presidente da Sub-Região de Viana do Castelo da OdM usou de palavras superlativas para descrever a médica de 74 anos. “Em Soajo, é figura respeitadíssima, fruto da sua profunda ligação à comunidade. […] Está sempre disponível e preocupada com os seus conterrâneos. A Elisabete é, de facto, uma mulher de outra dimensão”, disse dela Alberto Midões. 

Uma história de superação até construir uma carreira de excelência 

Cresceu com a mãe, longe do pai (emigrante nos Estados Unidos), que Elisabete Barbosa só conheceu aos 18 anos. Deparou-se com várias “barreiras”, mas fez de cada adversidade uma fortaleza. Contra a tradição, provou que uma “mocinha” de Soajo não estava resignada a ser (mais) uma fada do lar, investindo na escola, onde os professores diziam ser “muito esperta”. A “guerreira” estava predestinada, isso sim, a ser ela mesma um pedaço de História de Soajo.

Saiu do torrão natal, com a anuência do pai, para estudar no Colégio do Sagrado Coração de Maria, em Braga, onde sentiu um “impacto social terrível”. Mas a “grande bagagem técnico-científica” que possuía foi o que lhe valeu – “para vencer, eu sabia que tinha de ser a melhor aluna, por isso é que cheguei a ser explicadora das minhas colegas. Não me vestia como elas, mas tinha o conhecimento”. Prova disso é que foi a primeira mulher de Soajo a tirar uma licenciatura, corria o ano de 1976, e logo no exigente curso de Medicina da Universidade do Porto.

Estabeleceu-se desde 1979 nos Arcos, “o lugar de eleição para exercer medicina, onde fui logo nomeada médica responsável da Periferia, uma grande escola de vida”. Especialista em Saúde Pública (pela Escola Nacional de Saúde Pública de Lisboa) desde 1981 e de Clínica Geral (em regime de internato) desde 1985, Elisabete Barbosa foi Autoridade de Saúde Pública durante 25 anos (entre 1985 e 2010) no concelho de Arcos de Valdevez. Desempenhou ainda funções de direção de serviço e coordenação de programas de saúde pioneiros (“o estudo ‘Retinopatia diabética’ foi o primeiro a nível nacional”). Obteve grau de “Chefe de serviço” em 1998, categoria com que se aposentou na Unidade de Saúde Familiar Vale do Vez.

Foi autora e coautora de diversos trabalhos científicos, alguns dos quais “vanguardistas”, apresentados sob a forma de comunicação e publicação, nomeadamente “Hepatites – Definição, modo de transmissão, período de incubação, tratamento e prevenção”;  “Tuberculose: revisão teórica”; “Quimioterapia de curta duração na tuberculose pulmonar: experiência de um serviço de ambulatório”; “Clínica Geral/Saúde Pública, simbiose ou dicotomia”; “Consumo de benzodiazepinas na população inscrita no Centro de Saúde de Arcos de Valdevez”; e “Estudo epidemiológico dos utentes da área de Arcos de Valdevez inscritos no Centro de Saúde Mental de Viana do Castelo”. 

Conta que a “expressão” que mais gosta de ouvir dos doentes é ‘Deus a abençoe e a alivie como me aliviou a mim’. Ouvi muitas vezes esta mensagem. Isso era um consolo”. De permeio, não se cansa de lembrar consultas a doentes, em tempos idos, em lugares sem vias de comunicação como Vilela de Lages (Cabana Maior) ou Várzea (Soajo).

Além de cuidar dos doentes e de formar médicos em contexto, transmitindo as boas práticas técnicas e psicossociais, Elisabete Barbosa teve ainda a responsabilidade de avaliar. “Durante muitos anos, fiz parte do júri do exame no Porto e avaliei quase todos os médicos que, hoje, estão perto da reforma na zona Norte. A título de exemplo, estive instalada quase um mês em Santa Marta de Penaguião para avaliar os médicos de Trás-os-Montes”, recorda.

Com uma vasta carreira profissional, a entrevistada tem no currículo a experiência de 22 anos como orientadora de formação. “Pertenci à segunda geração de médicos especialistas em Clínica Geral pela via do internato. Os meus ex-internos ainda hoje comunicam comigo. A este respeito, muito recentemente, recebi uma chamada de uma antiga interna minha, por volta da meia-noite, com o intuito de esclarecer um caso relacionado com doente em serviço de Urgência em Guimarães. Se isto é uma prova de confiança? Provavelmente, sim, e o facto de as pessoas saberem que podem ligar a qualquer hora também é uma expressão da minha inteira disponibilidade para ajudar”, observa Elisabete Barbosa. 

A.F.B.

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