10.1 C
Arcos de Valdevez Municipality
Sexta-feira, Dezembro 27, 2024
InícioOpinãoO Natal de ontem e o Natal de hoje…

O Natal de ontem e o Natal de hoje…

Date:

Relacionadas

Olho de Lince Mário Soares – 100 anos!

Conheci Mário Soares no Brasil, onde, nas suas idas...
spot_imgspot_img

Não sei que magia tem este tempo de Natal que, se por um lado, nos leva a recordar os tempos que já vivemos, os nossos tempos de “meninos e moços”, de sonhos, de fantasias e os tempos que hoje vivemos, nesta desordem de uma sociedade consumista, em que o ter é mais importante que o ser. Nos tempos da minha juventude, a época natalícia era algo de maravilhoso e fascinante, de sonho e de fraternidade. Acabadas as aulas, eis que regressávamos ao nosso meio rural, onde revíamos amigos e conversávamos com pessoas mais idosas que nos ensinavam muito da sua vida na aldeia. Era tempo de entrar em casa e vermos a nossa lareira grande acesa, as nossas mães e suas ajudantes, acendiam o lume logo de manhã bem cedo, com grossos troncos de madeira, bem seca para fazer as delícias de Natal e aquecer o ambiente. Era vê-las, com os lenços na cabeça, mangas arregaçadas, de volta do lume, ou da maceira, a fazer os petiscos. Era preparar o polvo, o bacalhau, os “sonhos”, as rabanadas, a aletria, o arroz doce, eu sei lá quantos petiscos… Quando nos levantávamos, comíamos o pequeno-almoço e “desviávamos” algum doce, já feito. Que delícia, meu Deus…

Nós, malta nova, íamos jogar à bola, às “escondidas”, eu sei lá e…sem ninguém saber, fazermos uma visita à taberna, para “compor o estômago”… à tarde, chegávamos a casa e íamo-nos aquecer à lareira, que maravilha eram os aromas da comida que nos chegavam…Entretanto, iam chegando membros da família que ia passar o Natal connosco, vinham de longe, para estar com a sua família. Chegada a hora da “ceia de Natal”, antes de começar a comer, os meus pais (quais patriarcas) lembravam os nossos familiares que já tinham partido, os emigrantes que tinham partido para ganhar a vida, ou aqueles elementos da família, que se encontravam a combater na chamada “guerra colonial”…Depois era a ceia…Finda a ceia, os mais velhos iam para junto da lareira “pôr a conversa em dia”…Íamos à chamada missa do Galo e beijávamos o Menino Jesus, na Igreja. De regresso a casa, nós, os garotos, íamos para a cama, a “sonhar” com os presentes do Pai Natal…Logo de manhã, íamos numa correria, ver os nossos presentes, junto ao pinheirinho, que estava na sala e…eram uns chocolates, umas peças de roupa e um ou outro presentinho dado pelos familiares, que vieram de longe…Para o ano haverá mais… Depois comíamos, geralmente, o que tinha sobrado da Ceia, a “roupa velha” e outros petiscos… Para o ano haverá mais… despedíamo-nos dos parentes que partiam e voltávamos à vida familiar. Que diferença do Natal de hoje… hoje a sociedade é muito consumista, basta ver os anúncios de alguns meios de comunicação social… são anúncios de perfumes, de roupas “da moda, de marcas caras”, de viagens, eu sei lá… na televisão só dá futebol (e eu até gosto de futebol…), telenovelas… mas devia ser uma festa mais da Família, de lembrar os que já partiram, de cuidar dos mais idosos que nos criaram…dos que já perderam a família, os empregos, o carinho que merecem depois de uma vida de trabalho para criar os seus filhos (e muitas vezes os seus pais), do amor que têm aos seus netos… O Natal tem de ser mais Cristão e menos comercial… O Natal é a festa da Família, do Amor, de Jesus que veio ao mundo para nos salvar, do ser, ser mais importante do que o ter. 

O Natal é sempre que o Homem quiser. Assim Deus nos ajude.         

António Pimenta de Castro     

 

Subscreva

- Never miss a story with notifications

- Gain full access to our premium content

- Browse free from up to 5 devices at once

Recentes