Conheci Mário Soares no Brasil, onde, nas suas idas após o 25 de Abril, procurava dialogar com portugueses. Fácil era notar que a sua postura política se identificava com o liberalismo e o anticomunismo que, nem sempre, encontrava total apoio nos antifascistas portugueses no Brasil. Ele tinha alguma relutância em aceitar o pluralismo político, já muito patente entre portugueses e brasileiros. E com essa posição chegou a ser contestado, embora em Portugal o pluralismo fosse já um facto. Ao contrário de outros portugueses que foram submetidos a torturas e trabalhos pesados, Mário Soares sempre nos deixou a ideia de que a sua luta pela liberdade e direitos humanos passava muito pela sua condição económica e, sobretudo, intelectual. Mas também ninguém lhe pode negar a sua elevada postura de estadista e a sua fascinante capacidade oratória. Não assisti aos seus encontros divergentes com Álvaro Cunhal, outra figura notável da política portuguesa, um lutador incessante e hóspede de diversas prisões salazaristas, que a maioria dos portugueses ignorava.
Pelo meio, há factos estranhos nas suas relações com o ditador Salvador Allende (Chile) e, mais tarde, com João Goulart (Brasil), ou os diálogos com o embaixador dos Estados Unidos da América em Portugal, Frank Carlucci, também secretário de Defesa dos Estados Unidos. No chamado “Verão Quente” de l975, este instala-se em Portugal e estabelece com Mário Soares relações de grande amizade. Há coisas misteriosas na política, do passado e do presente.
Grupo de amigos…
Era, e é, assim que denominamos um grupo que periodicamente se reúne para um convívio à volta de uma mesa, onde cada um recorda o passado e os assuntos mais palpitantes da terra são sempre tema de discussão. Conversa de amigos, pluralista e sem mazelas. Ali, sempre fomos gente livre e só o futebol, por vezes, provocava uma discussão mais acalorada. De política local, nada! Outros valores mais altos superavam os orçamentos, as grandes receitas camarárias sempre reforçadas pelos fundos europeus e o Orçamento do Estado. Os tempos da nossa infância, em que as câmaras tinham até dificuldade em fornecer lâmpadas às juntas do partido único dos tempos da ditadura, perdiam sempre para a gula, o único interesse temporário da malta. E isto acontecia sempre à custa de cada um, mesmo merecendo a presença de amigos de Braga e Vila Verde, que nunca se recusavam a comparecer a estas reuniões comensais.
Mas o tempo de vida não é eterno e grandes amigos, grandes homens que marcaram positivamente a sua vida profissional e social na nossa terra, como aconteceu com os amigos Aparício Pimenta e, mais recentemente, Vasco Galvão, ambos de grande estofo moral e que ficarão enquanto o tempo o permitir na saudade não só do nosso reduzido grupo, mas na saudade dos arcuenses de bem – saudade que será sempre sentida com o merecimento que os companheiros merecem.
Festas de Natal?
Os mendigos e sem casa mantêm-se sob o luar das marquises de Lisboa. As promessas continuam à espera de oportunidade, e as finanças e dívida interna que o governo socialista mantinha em ordem começam a instalar no espírito dos portugueses sérias apreensões. Entretanto, em Bruxelas, António Costa ocupa um cargo de destaque com o apoio unânime de toda a Europa Ocidental. Um outro socialista, António Guterres, anda pelo mundo em representação da ONU, a tentar pôr cobro ao genocídio dos sionistas em Jerusalém, Terra Sagrada, onde dizem ter nascido Jesus Cristo. E tudo isto é católico, mesmo que já tenham morrido milhares e milhares de crianças, mulheres, adultos e inocentes.
Enquanto o mundo caminha para a divisão de espaços geográficos, os sem-abrigo continuam esqueletos da humanidade e os trabalhadores objetos de trabalho para o bem-estar dos milionários.
Peixoto