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Sofrimento do povo de Moçambique

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Como já referi anteriormente, passei metade da minha vida a trabalhar na então Colónia e, depois, País independente. Meus filhos nasceram todos lá. Moçambique ficou no coração de todos nós.

O que está a acontecer em Moçambique toca-nos com muito pesar, mas sem surpresa, principalmente por a Colónia ter sido entregue a um só dos partidos que a reclamavam, designadamente aos que estavam já preparados para estabelecer outra ditadura, agora de sinal contrário, como sucedeu. Os novos responsáveis não estão minimamente dispostos a deixar os cargos de que, arbitrária e oportunisticamente, se apoderaram, expulsando, prendendo ou, até, eliminando quem convinha.

O povo de Moçambique é bom, ordeiro e generoso. Lá deixei os melhores amigos. Nunca senti repulsa de natureza racista; eu e todos os meus. Houve realmente minorias que, por carência de formação cívica ou por interesses económicos, não eram assim.

Estive em Moçambique apenas por razões económicas, para constituição de uma família que desejava; e nunca dispus de outro rendimento que não fosse o do trabalho que desempenhei por conta doutrem. Só o amor por Moçambique impediu que, em determinada altura, não aceitasse uma oferta de nova emigração para cargo mais bem remunerado.

A minha idade justifica que tenha à disposição uma Cuidadora que me apoia. Escolhi uma senhora moçambicana, em alternativa a portuguesas e/ou brasileiras que a Empresa de Serviços a Idosos me propôs.  A minha escolha esteve naturalmente num relacionamento com vivência que ambos já conhecemos. Como sucede com ela, sofro igualmente a trágica situação em Moçambique.

Vivi quarenta e quatro anos durante a ditadura do Estado Novo. O resultado das eleições era também antecipadamente “adivinhado”. Procedimento que gerava protestos pelos restantes partidos sob o pretexto de serem falsificados. Cheguei a estar detido durante duas semanas na prisão da PIDE, na rua do Heroísmo, no Porto. E só um procedimento revolucionário permitiu a modificação do regímen. É o se deseja para Moçambique. É necessário o apoio das autoridades policiais e militares, ainda sob controle do Poder, que permite processos que não deixam muitos dos reclamantes com vida para chegarem a beneficiar daquilo por que lutam. Estou crente que, neste caso, as manifestações de protesto são agravadas pelo aproveitamento de grupos de revolucionários vindos do próprio regímen. Servem-se da impaciência de um povo martirizado e, desumanamente, levam-nos para situações que ultrapassam o simples protesto. 

As promessas dos que alcançam o poder em ditadura depressa são esquecidas em relação aos mais desfavorecidos. É normal.

Os “lutadores” contra a ditadura de direita alegavam que o Ditador já permanecia no poder há mais de quarenta anos, suportado por eleições que não exprimiam a vontade do povo; agora, com cerca de cinquenta anos de ideologia contrária, esquecem os princípios democráticos que fingiam defender. 

Partirei com a esperança de que Moçambique, como vem acontecendo noutras situações idênticas, ainda irá ser um país livre, próspero e governado por gente que pense nos desfavorecidos antes de, como diz Ricardo Constantino, aproveitar a situação para dar preferência a pratos de “caviar”.

Quem não é capaz de conseguir os objetivos a que se propõe ou diz propor-se, mesmo que a custo, deve ter a dignidade de dar o lugar a outros que se considerem mais capazes…isto, antes que a revolução provoque mais mortes dos cidadãos humildes que procuram, apenas, uma vida diferente que, como digo antes, muitos não chegam a ver.  

Rui Sampaio

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