No período de antes da ordem do dia, as forças políticas com assento na Assembleia Municipal, tiveram como pedras-de-toque a “concentração sistemática de investimentos no centro da vila de Arcos de Valdevez”, o “facto consumado da Linha de Muito Alta Tensão” e a “empreitada do Parque de Estacionamento do Mercado”.
“Política de desenvolvimento desequilibrado”
O PS acusou, uma vez mais, o executivo municipal de “concentrar o investimento na sede do concelho”.
Tendo como pano de fundo o “projeto de requalificação urbana do Campo do Trasladário, o maior partido da oposição questionou “frontalmente a oportunidade e a prioridade deste investimento no atual contexto do nosso concelho”.
Segundo observou a deputada Elsa Esteves, “o executivo apresenta-nos mais uma intervenção cosmética no centro urbano, falando de ‘renovação arquitetónica’ e ‘unidade formal’, quando nas nossas freguesias persistem carências básicas que continuam por resolver”.
Na ótica do grupo municipal do PS, “esta é apenas mais uma evidência de um padrão que se tem vindo a agravar: a concentração sistemática de investimentos no centro da vila de Arcos de Valdevez, em detrimento das freguesias que compõem a maioria do nosso território”.
Esta “prática” tem repercussões no “desenvolvimento díspar” do concelho e no “esvaziamento” dos núcleos rurais: “quanto mais investirmos, desproporcionalmente, no centro urbano da vila, mais estaremos a acelerar a desertificação das nossas freguesias, esta é uma realidade inconveniente que teremos de enfrentar”, atirou a eleita do Couto.
Para Elsa Esteves a “mensagem inequívoca” que o executivo municipal difunde aos munícipes é “muito clara” desde há vários mandatos: ‘para terem qualidade de vida, abandonem as freguesias e venham para o centro’. “É este o resultado de centralizarmos na sede do concelho todos os serviços essenciais, da saúde à educação, da cultura ao desporto, passando pela habitação”. Com esta “política de desenvolvimento desequilibrado”, acusa o PS, “estamos a colher o progressivo esvaziamento das nossas freguesias, o envelhecimento da sua população e o abandono do nosso território”.
Na dialética política que acicatou o debate, o presidente em exercício do Município acusou a deputada Elsa Esteves de “colocar a sede do concelho contra as aldeias e vice-versa, sendo que a empreitada do Campo do Trasladário foi candidatada a fundos comunitários, trata-se de um investimento específico para a vila, indo facilitar a mobilidade das pessoas sem tropeçar em passeios”, retorquiu Olegário Gonçalves.
Segundo o autarca social-democrata, “ao invés, nas freguesias, estão em execução (ou já foram executadas) obras no valor de 830 euros só em matéria de abastecimento de água, assim como estão em curso trabalhos de saneamento no montante de 7,6 milhões nas nossas aldeias, além de um investimento de 2 milhões de euros na área da Proteção Civil. Também fora da sede do concelho, temos projetos como a Quinta Pedagógica de Monte Redondo, o plano de valorização do santuário de Nossa Senhora da Peneda e a Branda Científica de São Bento do Cando”, apontou Olegário Gonçalves.
“Assistimos, impotentes, à construção da Linha de Muito Alta Tensão”
Nenhum dos municípios do Alto Minho viabilizou a Linha de Muito Alta Tensão (LMAT), mas o projeto até já foi encetado e as marcas são bem visíveis no terreno.
“Temos assistido a tentativas de descaracterizar o concelho e a passagem da LMAT é um aspeto para o qual temos de nos desdobrar em esforços para que tal não aconteça. Apesar das providências cautelares que as autarquias interpuseram em tribunais para que a obra não avançasse, assistimos, impotentes, à construção das torres no concelho dos Arcos, e já se nota o impacto negativo na paisagem. É nitidamente a política do facto consumado contra a vontade das populações”, constatou o deputado António Faria.
Para o CDS, “estão postas em causa a paisagem e a biodiversidade, assim como a presença do homem, da fauna e da flora autóctones, pelas implicações nocivas no ambiente e no bem-estar das populações”.
Em resposta, Olegário Gonçalves informou que “a providência cautelar apresentada pelos vários municípios onde passa a LMAT foi chumbada, quer dizer, foi dada razão à REN, em função disso, movemos uma providência cautelar em sede do Supremo Tribunal. Esta é uma obra de interesse nacional que vai ter implicações negativas na nossa paisagem”, ressalvou o presidente em exercício da Câmara.
“Parque de estacionamento não pode ser um mamarracho”
Apesar de admitir a “necessidade de um parque de estacionamento no centro da vila dos Arcos”, o PS criticou o projeto de construir tal infraestrutura nas imediações do Mercado Municipal.
“Se o PS presidisse à Câmara, com toda a certeza, não seria esta a solução encontrada. E também não lançaria a obra, naquilo que foi uma verdadeira ação de propaganda com dinheiros públicos que são de todos nós, em período de neutralidade e imparcialidade das entidades públicas, pois já estavam marcadas as eleições legislativas”, observou o deputado Vítor Sousa.
Na réplica, Olegário Gonçalves referiu que “o parque de estacionamento na sede do concelho é uma infraestrutura pedida há muitos anos por comerciantes, visitantes, emigrantes e residentes das aldeias”.
Agora que a obra está lançada, o PS recomenda “o uso de materiais naturais ou de baixo impacto na construção do edifício (com três pisos), de modo a suavizar a perceção do prédio para quem passa ou para quem aí vive, […] evitando-se a construção de um mamarracho”.
O parque de estacionamento, com capacidade para 202 lugares, está orçado em cerca de 3 milhões de euros.
A.F.B.
Na tribuna
“Caos no trânsito”
O autarca Rui Aguiam alertou que “as obras no Campo do Trasladário fizeram aumentar substancialmente o trânsito nas vias interiores da zona urbana, nomeadamente na Rua Nunes de Azevedo e Rua Soares Pereira. Entendo que a paragem de veículos nestes locais deve ser proibida ou, no limite, de curta duração, para não causar o caos que se tem visto na vila arcuense, algo a que nunca tinha assistido, facto que reclama uma maior presença da GNR”.
“Dinamismo do movimento associativo”
O grupo municipal do PSD congratulou “o trabalho e a dedicação do movimento associativo concelhio, bem como da diáspora, em prol do desenvolvimento e dinamismo social, cultural, desportivo e económico de Arcos de Valdevez”, enalteceu a deputada Fernanda Cerqueira.
“Piscinas sem ondas”
A deputada Elsa Esteves (PS) denunciou a existência de “investimentos em infraestruturas desportivas sem a rentabilização e o uso projetados. É o caso das Piscinas Municipais que carecem das condições necessárias para provas oficiais de natação, as quais requerem um sistema de ondas. Na verdade, as ondas ‘funcionaram até funcionar’ e atualmente nem ondas, nem natação de competição”.
“Riqueza piscícola a desaparecer”
O deputado António Faria (CDS) denunciou que “a riqueza piscícola do rio Lima (e seus afluentes) tem vindo progressivamente a desaparecer sem que se tomem medidas para evitar tal situação. Em tempos, o rio Lima foi povoado pelo sável e salmão. Atualmente, temos assistido, paulatinamente, ao desaparecimento da lampreia”.