A maioria das casas florestais está ao abandono e sem qualquer uso no concelho de Arcos de Valdevez. A requalificação da Casa do Guarda no Monte Nossa Senhora do Castelo em Vila Fonche (será transformada em Centro Interpretativo e espaço de receção ao visitante) e a recente transferência para o Município, pelo Estado Central (representado pela ESTAMO – Participações Imobiliárias, SA), da antiga Casa Florestal de São Bento do Cando A-022 (Gavieira), para conversão em estrutura (auditório) ao serviço da estação científica a sediar na branda secular, podem estimular, a priori, a recuperação de outros imóveis pelo concelho para “fins socioeducativos e turísticos”, como tem sido defendido nos fóruns municipais pelas várias forças com assento no órgão.
Na Assembleia Municipal de 28 de fevereiro, a deputada Sandra Barreira lembrou que, “no âmbito da Cogestão do Parque Nacional (PN), foi aberta a possibilidade de as autarquias locais poderem utilizar as casas florestais desde que as mesmas fossem alvo de projetos de reabilitação, e na condição de os prédios não fazerem falta ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) para as suas diferentes valências”, começou por advogar a eleita de Soajo.
A este respeito, a deputada comunista interpelou o presidente do executivo municipal sobre qual o destino a dar às casas florestais situadas nas proximidades da Casa Florestal de São Bento do Cando, “nomeadamente as casas de Adrão, Arieiro e entre Outeiros e Ramil (localizadas em Soajo), todas integradas na área do PN em plena Reserva Mundial da Biosfera, com as várias aptidões que oferecem em termos de acondicionamento de equipamentos (ligados à proteção da natureza) e em matéria de campanhas de sensibilização”.
Em resposta o edil João Manuel Esteves disse “pretender fazer um projeto para a antiga Casa Florestal do Arieiro e continuar pelo concelho fora com outros projetos”.
Casas florestais desativadas há décadas e em ruínas
Em tempos foi afirmado pela Comunidade Local dos Baldios de Soajo, em gestão anterior, que “existia recetividade para que as casas florestais fossem doadas aos Baldios de Soajo, que, assim, procederiam à sua reabilitação gradual”.
Para o efeito, à época, os Baldios de Soajo solicitaram à Direção-Geral do Tesouro e Finanças, detentora das casas florestais, e ao ICNF, responsável pela gestão do PN, a doação para conversão deste valioso património. Dada a abertura demonstrada, estes imóveis, com acessos baldios, e sediados em espaços afetos aos compartes, deveriam reverter a favor dos Baldios. De resto, segundo os antigos responsáveis dos Baldios de Soajo, “havia recetividade do ICNF para autorizar a recuperação das (antigas) casas florestais” sediadas em território soajeiro.
“A todas as casas florestais será dada uma utilidade e os Baldios pretendem intervir nelas de forma faseada, sempre em função dos recursos existentes”, garantiam à época os responsáveis dos Baldios.
No plano de intenções, que não chegou a ser colocado em prática, a antiga Casa Florestal de Vilar de Suente seria convertida na futura sede dos Baldios de Soajo e num centro de educação ambiental; as que estão localizadas entre Outeiros e Ramil serviriam de espaços de apoio a turistas; a sediada em Paradela funcionaria como sede da Associação Cultural e Desportiva local; e a da branda do Murço seria entregue à brigada dos sapadores florestais e ao Clube de Caça e Pesca de Soajo. Fora desta operação estava a antiga Casa Florestal de Adrão, por albergar, ao tempo, a Força Especial de Bombeiros, brigada popularmente conhecida por “Canarinhos”.
A desativação das casas florestais, há perto de quarenta anos, levou este rico património ao abandono e a um contínuo estado de degradação. O cenário que se pode avistar, hoje, nos imóveis plantados no “coração” do único PN é um autêntico degredo: portas arrombadas, janelas esventradas, vidros estilhaçados, telhas escaqueiradas, tetos estripados, paredes conspurcadas e lixo atolado.
Depois dos anúncios caídos no esquecimento, a requalificação da Casa do Guarda no Monte Nossa Senhora do Castelo (através de um projeto cofinanciado pelo Programa Operacional do Plano de Desenvolvimento Regional, com uma dotação de 114 673,52 euros) e a recuperação da antiga Casa Florestal de São Bento do Cando (o projeto alargado contempla um apoio de 500 mil euros por parte do Fundo Ambiental) abrem novas perspetivas em relação à viabilização de iniciativas sobretudo em territórios de montanha.
A.F.B.