Se a nível nacional, a Aliança Democrática (AD) não alcançou a maioria ampla que tanto desejava, já Arcos de Valdevez, “bastião” laranja no Alto Minho, deu essa maioria confortável, com 42,98% dos votos – mas somando as votações dos dois maiores partidos da coligação, é de registar o facto de o resultado da AD ter ficado agora abaixo dos 43,91% conseguidos em 2022 por PSD e CDS, que, então, concorreram em listas separadas. Já o PS foi o grande perdedor no concelho, tendo passado de 42,07% para 27,74%, uma quebra de 14,33%. Comparando com as últimas eleições, o Chega consolidou, por larga margem, o terceiro lugar, quase quadruplicando o número de votos, muitos dos quais subtraídos ao eleitorado tradicional do PSD, do CDS e, até, da CDU.
No concelho de Arcos de Valdevez, a coligação liderada por Luís Montenegro venceu as 36 freguesias, repetindo o PSD o pleno de 2011 (sem aliança pré-eleitoral). Para se ter uma ideia da vitória avassaladora e do domínio da AD em Arcos de Valdevez, basta dizer que a coligação totalizou 5461 votos, mais 1936 preferências em relação à segunda força política mais votada, que foi o PS, com 3525 votos (menos 1213 sufrágios do que nas legislativas de 2022).
Em dez freguesias do concelho arcuense a AD ultrapassou a barreira dos 50% dos votos depositados em urna: Grade e Carralcova (62,24%), Cabana Maior (60,95%), Sistelo (56,39%), Rio de Moinhos (53,70%), Vilela, S. Cosme e S. Damião e Sá (53,56%) Gavieira (51,54%), Monte Redondo (51,23%), Padroso (51,13%), Cabreiro (50,49%) e Álvora e Loureda (50,43%).
Outro dado que resulta da análise do mapa político é que o Chega, a terceira força mais votada (também já o tinha sido em 2022), solidificou agora o seu peso eleitoral, passando de 490 votos nas legislativas de 2022 para 1911 sufrágios em 2024 – nas freguesias de Gondoriz (25,50%), Souto e Tabaçô (22,96%) e Cabana Maior (21,90%), o partido conotado com a extrema-direita foi mesmo o segundo mais votado. Já a Iniciativa Liberal (IL) recolheu 313 preferências (mais 88 votos do que nas eleições de 2022).
À esquerda, o Bloco, com 2,29%, superou o resultado de 2022 (1,83%), tal como o Livre, que deu um pulo, passando de 0,52% para 1,22%. Ao invés, a CDU sofreu novo “trambolhão”, caindo de 1,49% para 0,9%.
As restantes forças políticas concorrentes ao círculo de Viana do Castelo – nestas eleições foram a votos 14 partidos/coligações pelo Alto Minho – obtiveram votações mais ou menos residuais, mas a nota de maior destaque vai para os 215 votos conseguidos pela Alternativa Democrática Nacional (ADN), fundada com a designação de Partido Democrático Republicano (PDR) – a semelhança entre as siglas AD e ADN confundiu muitos eleitores, que terão assinalado o voto no quadrado errado.
Mais adesão do que a maioria das forças políticas teve o “partido” dos votos brancos (de protesto), com 242 boletins (nas legislativas de 2022 tinham sido 140), seguindo uma tendência que revela a imparável desacreditação da classe política.
A abstenção no concelho arcuense cifrou-se em 47,74%, traduzindo uma evolução positiva em relação às eleições de 2022 (nestas o abstencionismo foi de 54,41%). Por conseguinte, o número de votantes aumentou nas eleições do passado dia 10 de março: entraram nas urnas mais 1443 boletins.
No mapa de freguesias, o mais baixo índice de participação verificou-se, de novo, em Soajo, onde, dos 1124 inscritos (muitos dos quais emigrantes), apenas 323 exerceram o respetivo direito de voto, correspondendo a 71,26% de abstenção.
Resultados das eleições legislativas em Arcos de Valdevez
2024 | 2022 | |||
% votos | Votos | % votos | Votos | |
AD | 42,98% | 5461 | 41,60% (PSD)+2,31% (CDS)
=43,91% (PSD+CDS) |
4685+260
=4945 (PSD+CDS) |
PS | 27,74% | 3525 | 42,07% | 4738 |
Chega | 15,04% | 1911 | 4,35% | 490 |
IL | 2,46% | 313 | 2,00% | 225 |
BE | 2,29% | 291 | 1,83% | 206 |
ADN | 1,69% | 215 | Não concorreu | Não concorreu |
PAN | 1,24% | 157 | 0,75% | 85 |
Livre | 1,22% | 155 | 0,52% | 59 |
CDU | 0,90% | 114 | 1,49% | 168 |
ND | 0,60% | 76 | Não concorreu | Não concorreu |
RIR | 0,43% | 55 | 0,36% | 41 |
Volt | 0,22% | 28 | 0,15% | 17 |
Brancos | 1,90% | 242 | 1,24% | 140 |
Nulos | 0,99% | 126 | 0,80% | 90 |
Mais (+) e menos (-) das eleições no concelho arcuense
. A AD teve mais 516 votos do que PSD e CDS em 2022 (há dois anos, estes partidos concorreram em listas próprias), embora proporcionalmente a coligação tenha tido agora um valor percentual inferior face ao resultado agregado (PSD+CDS) de 2022, dado que nas eleições de 10 de março se registou uma participação eleitoral significativamente superior por comparação com 2022.
. O PS teve menos 1213 votos nos Arcos do que em 2022.
. O Chega, terceiro partido mais votado no concelho arcuense, conseguiu mais 1421 votos do que em 2022.
. O BE aumentou a sua expressão eleitoral de 2022 (206 votos) para 2024 (291 (boletins).
. A CDU perdeu força nas urnas, passando de 168 votos em 2022 para 114 em 2024 – os comunistas, que têm (ou tinham) na freguesia de Soajo o seu grande “bastião”, colheram aí apenas 12 votos.
. Perto de 48% (exatamente 47,74%) dos arcuenses inscritos nos cadernos eleitorais não foram às urnas no passado dia 10 de março, ainda assim, uma taxa de abstenção inferior em relação a 2022, quando 54,41% dos arcuenses recenseados não exerceram o direito de voto – sob outra perspetiva, a participação eleitoral de 2024 (52,26%) superou claramente a de 2022 (47,74%).
. Não exerceram, nestas eleições, o direito de voto 11 607 pessoas recenseadas em Arcos de Valdevez, quando em 2022 haviam sido 13 439.
. As freguesias arcuenses com as mais altas taxas de participação foram Jolda São Paio (65,01%), Monte Redondo (64,29%), Padreiro Salvador e Santa Cristina (62,95%), Cendufe (62,03%) e, por fim, Souto e Tabaçô (60,65%).
. As freguesias que registaram maior abstenção foram Soajo (71,26%), Gavieira (70,92%), Cabana Maior (67,89%) e Senharei (61,03%), curiosamente as mesmas de 2020 e 2022.
. Registaram-se 368 votos brancos e nulos (mais 158 boletins “desperdiçados” do que em 2022).
A.F.B.