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25 de Abril de 1974 o mote da 13.ª Semana da Leitura, Ciência e Arte

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25 de Abril de 1974 o mote da 13.ª Semana da Leitura, Ciência e Arte

“Esta é a madrugada que eu esperava. O dia inicial inteiro e limpo”

“A Guerra Colonial e o 25 de Abril são os acontecimentos mais importantes da História recente de Portugal”

“Os militares contaram com o apoio da população que clamava por liberdade e democracia” Canções de Abril preservam memórias da Revolução

Pode a escola afirmar melhor os valores da Revolução de Abril? O que é que o 25 de Abril nos ensinou? Que direitos trouxe a Revolução? O que é que fizemos com a liberdade? Em que áreas o 25 de Abril ainda está por cumprir? O que falta fazer para termos um país mais justo e coeso? Estas foram algumas das questões esmiuçadas pela vasta equipa de convidados que recheou o debate e a reflexão crítica na Semana Concelhia da Leitura, Ciência e Arte, que, de 8 a 12 de abril, ofereceu palestras, teatro, música, pequenas feiras do livro, exposições, atividades artísticas e encontros com escritores, investigadores e ilustradores. 

A riqueza do programa interativo ecoou tanto nas várias unidades do Agrupamento de Escolas de Valdevez (AEV) como na EPRALIMA. Subiram a primeiro plano as conquistas do 25 de Abril, os desafios que se colocam hoje à sociedade em geral e à educação em particular, bem como o papel da política e o lugar da ética na inteligência artificial, sem esquecer a “gamificação da população escolar”. Mas, na era da literacia digital, há que preservar, hoje mais do que nunca, a memória e a verdade histórica.

 “Há meio século, no dia 25 de Abril de 1974, Portugal viveu um dos momentos mais significativos da sua História Contemporânea. Esta data marca a ‘Revolução dos Cravos’, o movimento militar que derrubou o regime ditatorial do Estado Novo, liderado por António Oliveira Salazar e continuado por Marcello Caetano: um regime autoritário marcado pela censura e pela repressão política; pela limitação severa das liberdades individuais, em que o direito de expressão e de pensamento eram tolhidos e que lançou o país numa Guerra Colonial em África. A ‘Revolução dos Cravos’ foi liderada por jovens oficiais das Forças Armadas Portuguesas, conhecidos como os ‘Capitães de Abril’. Iniciou-se nas primeiras horas do dia 25 de Abril e foi descrita por Sophia de Mello Breyner Andresen da seguinte maneira: ‘Esta é a madrugada que eu esperava. O dia inicial inteiro e limpo. Onde emergimos da noite e do silêncio. E livres habitamos a substância do tempo’ [livro O Nome das Coisas]”, parafraseou a diretora do AEV, Anabela Araújo, no lançamento da Semana da Leitura, Ciência e Arte. 

Nesse histórico 25 de Abril de 1974, Marcello Caetano, cercado no quartel da GNR do Carmo, rende-se e entrega o poder ao general António Spínola. 

 

Testemunho na primeira pessoa de membro do Conselho da Revolução

Um dos “ilustres protagonistas” do 25 de Abril de 1974 foi Rodrigo Sousa e Castro (coronel do Exército na reforma), condecorado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. Como alferes, e então capitão, este oficial, natural de Celorico de Basto, comandou tropas em campanha em Angola (1966/67) e Moçambique (de 1970 a 1972). Em 1973, participou no Movimento dos Capitães responsável pela Revolução de Abril de 1974, integrando a Comissão Coordenadora do Movimento dos Capitães na clandestinidade (1973 e 1974). Foi membro do Conselho da Revolução, presidente dos seus serviços de apoio e seu porta-voz. Foi perseguido pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE).

“Se não percebermos e conhecermos o passado, não conseguimos situar-nos no presente e muito menos conseguiremos projetar o futuro. Olhando para este singular marco da História, e eu fui um dos implicados na Revolução, quero contrariar a ideia de que o 25 de Abril caiu do céu naquela madrugada. Não foi nada disso! A Revolução começou em junho de 1973 através da conspiração de um grupo de jovens capitães, à época, eu ainda não tinha sequer 30 anos, mas já detinha duas comissões no Ultramar, Angola e Moçambique, a comandar tropas, em situações extremamente difíceis. Passado quase um ano, em Abril de 1974, há um conjunto de sucessos que culminaram no derrube da ditadura: nós, militares, organizámo-nos numa comissão clandestina, à revelia da PIDE, que nunca descobriu nada, porque os quartéis tinham um ambiente fechado e neles havia uma defesa acérrima dos valores da lealdade, segundo a educação recebida na Academia Militar, por isso, jamais um de nós seria capaz de denunciar o que estava a acontecer. Isso explica que a PIDE nunca tenha conseguido penetrar na conspiração”, salientou Rodrigo Sousa e Castro, licenciado em Ciências Militares pela Academia Militar de Lisboa, em 1966. 

 

“A ditadura não caiu com um banho de sangue, caiu com uma Revolução pacífica”

Para este militar de carreira, “o 25 de Abril, protagonizado pelo Movimento dos Capitães, e a Guerra Colonial que lhe deu origem, são os acontecimentos mais importantes da História recente de Portugal. […] Quando preparámos a Revolução, nós, capitães, tínhamos noção da importância de ter os soldados a nosso lado, devo dizer que não houve um único soldado, quando interrogado naquela madrugada, que se tivesse recusado a seguir os capitães para fazer uma revolta contra a ditadura. Marcharam todos. Cinco mil soldados guarneceram as colunas que se dirigiram sobre o Porto e sobre Lisboa e ficaram a defender os quartéis que se tinham revoltado”, lembrou Rodrigo Sousa e Castro.

Reza a História, citada pela diretora do AEV, que “os militares contaram com o apoio da população, que saiu às ruas clamando por liberdade e democracia”. De resto, o nome ‘Revolução dos Cravos’ surge pelo simbolismo dos cravos vermelhos colocados nos canos das armas e nos uniformes dos soldados, representando a natureza pacífica da Revolução”. 

O coronel Rodrigo Sousa e Castro fez a sua parte. “O meu 25 de Abril começa no dia 23 de Abril à tarde, em Lisboa. Porquê? Porque eu estava incumbido de contactar os oficiais revolucionários de algumas unidades do centro, bem como de todos os quartéis da região militar do Porto, a norte do Douro. A ordem de operações estava muito bem delineada. Todos nós tínhamos experiência de guerra e de combate, o que significa que tínhamos disciplina de fogo e disciplina de comando. Estes foram elementos essenciais para que a Revolução tivesse sido pacífica. Ou seja, não exorbitámos a capacidade de fogo que tínhamos. Não matámos ninguém e muito menos exercemos vingança. A ditadura não caiu com um banho de sangue, caiu com uma Revolução pacífica”, frisou o convidado. 

O coronel jubilado de 80 anos tratou logo de alertar o público escolar para a “perversidade” da ditadura. “O vosso sentimento sobre a liberdade não tem nada que ver com o sentimento dos vossos avós, nem com o meu, porque eu vivi em ditadura, sei o que foi a repressão da PIDE, sei o que foi a guerra, lembro que as mulheres não tinham quaisquer direitos. Não havia liberdade de expressão, tudo o que era publicado – em livros e jornais – contra o regime era censurado. A ditadura, que vigorou durante 48 anos, era de partido único [União Nacional] e detinha um poder centralizado. Portugal, à época, era um país isolado na cena internacional e tinha um atraso social enorme.  Já nem falo na miséria”, atalhou Rodrigo Sousa e Castro.

 

“Revolução trouxe mudança política e uma drástica transformação social e cultural”

Segundo o investigador Pierre Marie, da Universidade de Coimbra, “o 25 de Abril não foi apenas uma mudança política, representou uma drástica transformação social e cultural”. Com o fim da ditadura, “Portugal abriu-se ao mundo e a novas ideias. A censura foi suprimida, os direitos políticos e civis foram restaurados, salvaguardaram-se as liberdades individuais e encetou-se um processo que conduziu à descolonização das Províncias Ultramarinas e à integração de Portugal na União Europeia. Os três “D”, preconizados pelo Movimento das Forças Armadas – ‘Democratizar’, ‘Descolonizar’ e ‘Desenvolver’ – foram implementados”.

Depois de evocar as conquistas da Revolução, o estudioso francês partilhou com alunos do 12.º ano um pedaço do “Arquivo de Histórias: o 25 de Abril”, do projeto ‘Rebobinar’. “A História faz-se de indícios, memórias e documentos históricos. O 25 de Abril de 1974 (ocorreu a uma quinta-feira e a efeméride dos 50 anos acontece na próxima quinta-feira) é uma data histórica porque teve um antes e um depois. Na altura a rádio era o grande meio de massas. A primeira ‘senha’ da Revolução emitida às 22.55 do dia 24 de Abril de 1974, pelos Emissores Associados de Lisboa, nos estúdios Alfabeta, com o tema ‘E depois do Adeus’ [letra de José Niza e música de José Calvário, interpretada por Paulo de Carvalho], comunica a ordem para os soldados se prepararem. É um documento histórico de grande relevância”, sublinhou o investigador que passou um filme da RTP com uma caravana arcuense em festa, saída de Aguiã, rumo à vila dos Arcos, poucos dias depois do 25 de Abril de 1974.

 

“50 anos de paz, de liberdade e de muito progresso social”

Com a Revolução de Abril, abriu-se um mundo de oportunidades. “Temos 50 anos de paz, de liberdade total (social, política e sindical), por vezes até excessiva, hoje, felizmente, ninguém é preso por expressão do pensamento e das suas opiniões, por se organizar ou por fazer manifestações. São cinco décadas de paz, mas também de muito progresso social”, regozijou-se Rodrigo Sousa e Castro, autor do livro Capitão de Abril, Capitão de Novembro, coautor da obra A Hora da Liberdade e coordenador do documentário televisivo com o mesmo título. 

Na educação, o impacto do 25 de Abril também foi “muito grande” e os números dizem isso: em 1970, mais de 30% da população portuguesa era analfabeta, os últimos indicadores revelam que essa realidade aflige cerca de 3% dos portugueses. Os progressos na educação foram fundamentais para as mulheres, que representavam apenas 12% dos doutorados atribuídos em 1974 e, presentemente, já superam os 50%. 

Os saltos tecnológicos foram, igualmente, gigantescos. “O avanço da tecnologia foi marcante. Há 50 anos não havia os ecrãs [telemóveis] que hoje há, não havia as redes sociais como o X [ex-Twitter], o WhatsApp ou o Instagram”, exemplificou Rodrigo Sousa e Castro, que podia ainda apontar a realidade dos youtubers, do Facebook e do gaming. “O mais difícil não é o domínio das tecnologias – os alunos controlam isso tudo –, mas conseguir tirar partido dos saltos tecnológicos em benefício das relações sociais e do conhecimento”, referiu ao NA o psicólogo educacional Alfredo Leite, realçando “o papel cada vez mais imprescindível do professor para pôr ordem na avalancha de desinformação/manipulação proveniente das redes sociais”.

Na prática docente, “o bem-estar é fundamental para os professores, assim como cultivar a resiliência é indispensável para conseguir avançar apesar das adversidades, porque ninguém está sempre bem, há sempre momentos menos bons na vida. Além disso, é importante equilibrar as exigências do trabalho com a necessidade de tempo para si mesmo”, advogou Alfredo Leite. 

Numa era em que a inteligência artificial (IA) abrange cada vez mais campos do conhecimento, o professor e investigador da Universidade do Porto, Rui Sousa Silva, comunicou que “a IA tem as suas potencialidades, mas também tem os seus perigos, nomeadamente o cibercrime, a integridade e a informação falsa ou menos fiável, neste caso até para pôr em causa os valores da Revolução do 25 de Abril”. 

 

Palavras e mensagens ao ritmo do rap

Durante a 13.ª Semana da Leitura, Ciência e Arte foram declamados poemas, ditas palavras ao ritmo do rap e cantadas canções sobre o 25 de Abril que trouxe direitos, escolarização e liberdades, mas também se falou do 25 de Abril que não aconteceu em todas as casas, visto que Portugal continua a ter números elevados de violência doméstica, mulheres que trabalham muito mais horas do que os homens, porque elas acumulam com as tarefas domésticas, a que juntam o papel de cuidadoras.

As sessões “O rap vai à escola, Abril em rap”, com João Nina, foram das mais concorridas pelo público do ensino básico. “Foi uma oportunidade para difundir o rap e, em simbiose com a temática da Semana da Leitura, fizemos uma viagem no tempo relembrando o período histórico do 25 de Abril, desconstruindo este marco da História Contemporânea e apelando ao espírito crítico dos alunos. O mais difícil no rap? É conjugar o ritmo com a poesia, mas eu gosto de desafios. O rap tem uma vertente rítmica muito forte, por isso, o mais complexo é mesmo encaixar as ideias e o ritmo, mas é tudo uma questão de treino. Infelizmente, o rap ainda está muito estigmatizado, há um longo caminho a percorrer”, constatou o rapper.

Para o artista de Coimbra, “o rap é uma forma de nos cultivarmos através da música e de alertar a sociedade para o que acontece à volta. E nada melhor do que associar a música ao 25 de Abril de 1974, olhando para a realidade presente”, marcada por disrupções em diversas latitudes, como a invasão da Ucrânia pela Rússia, a guerra na Faixa de Gaza e as guerras civis na Síria e no Iémen, entre outras. “O mundo assim está perdido, é preciso paz; a guerra só vem destruir, mas não podemos desistir”, dizia o refrão de uma canção rap de João Nina.  

 

Clubes de Teatro e de Artes semearam o inconformismo

Partindo do movimento revolucionário do 25 de Abril de 1974 que balizou o fim da ditadura salazarista e abriu caminho à democracia em Portugal, os alunos do Clube de Teatro e do Clube de Artes, do AEV, através do espetáculo Felizmente, Há 25 de Abril (por analogia com Felizmente Há Luar, de Luís de Sttau Monteiro), ofereceram ao público escolar um “exercício teatral que pretendeu, acima de tudo, consciencializar as novas gerações para a importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos: o direito à liberdade, à vida, à paz, à saúde, à justiça e à segurança”. 

Mais do que caírem num registo panfletário, associado a frases-senha – “Viva a liberdade”, “Abaixo a ditadura” –, os alunos-atores conseguiram semear o inconformismo, porque “temos de lutar pela liberdade”. Passados 50 anos, “estamos noutro tempo, com outro olhar, mas a luta é a mesma”. E a cultura, em sentido lato, “permite que as mensagens penetrem de uma forma mais íntima, de lugares vizinhos para lugares longínquos, e com um potencial transformador. Mas isso não chega para mudar o mundo, especialmente num tempo em que as pessoas estão tão entrincheiradas”, conclusão que se extrai da peça, superiormente dirigida pelo encenador José Manuel Barros. 

 

“Canções contra a ditadura eram um grito de alegria”

Canções como a “Grândola, Vila Morena”, de Zeca Afonso, “Liberdade”, de Sérgio Godinho, e livros como Era uma vez o 25 de Abril, de José Fanha, são instrumentos de verificação para perceber o que falta cumprir de Abril, e, neste momento de particular turbulência política, “podemos adicionar outros tópicos, como a questão da justiça, a desigualdade de oportunidades, a falta de habitação, a desvalorização de carreiras, os direitos das minorias, a problemática ambiental ou o materialismo da sociedade”.

Mas, afinal, que papel tiveram as canções na luta contra a ditadura? “As canções foram fundamentais, especialmente pela capacidade de juntar os estudantes. Eram um grito de alegria num mundo de tristeza, repressão e pobreza em que Portugal vivia. Sem dúvida que elas nos engrandeceram e deram força à luta, principalmente as canções de Zeca Afonso”, recordaram ao NA o poeta e escritor José Fanha e o músico Daniel Completo (ligado em tempos ao grupo ‘Ronda dos Quatro Caminhos’), que se juntaram na Escola Básica Prof. António Melo Machado para “cantar músicas do Zeca”, nomeadamente “Filhos da Madrugada”, “Resineiro”, “Maria Faia” e “Venham mais cinco”, temas intercalados com testemunhos de Fanha sobre como era viver sob uma ditadura.

“Antes do 25 de Abril, Portugal era um país muito triste, muito cinzento e muito pobre. Era um Portugal repressivo. As mulheres não tinham direitos, eram maltratadas e desrespeitadas. Para a ditadura as mulheres só serviam para fazer a comida e tratar da casa! Havia muito analfabetismo. E havia algumas luzes, uma delas era a do Zeca Afonso, que, só por cantar, foi preso 13 vezes. Só por causa das canções, o Zeca foi proibido de ser professor”, contou José Fanha, de 73 anos.

“Nascemos para a liberdade”

Depois da Revolução, veio a festa. “A seguir ao 25 de Abril, nós já não éramos proibidos de cantar nem de dizer poesia. Foram meses e anos de festa. Eu tinha 23 anos quando se deu a Revolução. Casei-me, pela primeira vez, um mês depois! Eu e os meus amigos jantávamos, conversávamos e cantávamos todos juntos. Foi um tempo muito feliz”, recordou José Fanha, condecorado com a Medalha de Honra pela Sociedade Portuguesa de Autores, em 2021. 

Se antes da Revolução de Abril, havia um inimigo bem identificado, a ditadura instalada, o mesmo já não se pode dizer dos tempos atuais. “Hoje, é tudo mais difuso e mais complexo, a desinformação do debate público é elevada e as redes sociais agudizam este sentimento. Temos de estar atentos para não cometermos os mesmos erros”, alertou Rodrigo Sousa e Castro.

Enfim, citando a escritora, poeta e deputada Natália Correia (falecida em 1993), o Clube de Teatro e o Clube de Artes do AEV fizeram sobressair a mensagem, sempre atual, de que “todos nós somos uma missão. Somos a missão de continuar a vida, aperfeiçoando-a, festejando-a e não a destruindo como se está a fazer hoje. Eu não tenho certezas, mas tenho convicções e uma das minhas convicções mais firmes é que nascemos para a liberdade”. 

A.F.B.

Quatro perguntas ao coronel Rodrigo Sousa e Castro

“O resultado mais expressivo da Revolução foi a Constituição da República”

  1. Quais as grandes conquistas do 25 de Abril?

A maior conquista, ou o resultado mais expressivo da Revolução, foi a Constituição da República. Atualmente, temos uma Constituição que serve perfeitamente ao ambiente político vigente, já foi reformada algumas vezes. À partida, teve pelo menos o mérito de enquadrar todo o sistema político durante 48 anos. Ela foi aprovada a 2 de Abril de 1976 e, até agora, é a lei fundamental que nos tem regido e que nos garante os direitos fundamentais. 

  1. Em que medida é que Portugal não carece de outra Revolução?

(risos) Na mentalidade de alguns, sim. Mas não é preciso outro 25 de Abril. A democracia fornece os instrumentos para as pessoas se realizarem.

  1. Mas ainda há muito caminho para fazer?

Pois há! Há muito caminho que cada um ainda tem de fazer, sobretudo os mais novos. Em diversas matérias. Os alunos que assistiram à minha palestra, simpáticos, chegaram ao fim sem dúvidas. Estão realizados. Têm o ecrã para saciarem curiosidades e estão a mudar a própria linguagem escrita. Tudo está a mudar!

  1. Qual a escola ideal?

A escola ideal, para mim, foi a Academia Militar… (risos)

Três perguntas ao poeta, declamador e escritor José Fanha

“O pós-25 de Abril foi uma explosão de alegria”

  1. Qual o papel da poesia e das canções na luta contra a ditadura?

A poesia e as canções foram autênticas pedradas no charco. Eram gritos de alegria num Portugal dominado pelo medo, pela repressão e pela pobreza. Sem dúvida que as canções deram razão à luta, de todas, destaco as de Zeca Afonso.

  1. Era amigo de Zeca Afonso, fale-nos dele.

Zeca Afonso não tinha estudos musicais, mas fazia canções de intervenção como ninguém. Era um homem bondoso e cheio de entrega aos outros. Morreu demasiado cedo [em 1987, com 47 anos], vítima de uma doença terrível [esclerose lateral amiotrófica]. 

  1. Que se lembra do pós-Revolução?

O pós-25 de Abril foi uma explosão de alegria. A todos os níveis. Passámos a ser livres, de cantar e de declamar poesia, por exemplo. Foram tempos de festa.

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