O filme Lobos da Serra constituiu um acontecimento inédito e que muito orgulhou os arcuenses de então. Foi a primeira vez que Arcos de Valdevez foi visionada no nosso belo e saudoso Cinema. A maior parte dos exteriores haviam sido realizados localmente e as cenas interiores nos Estúdios do Lumiar, em Lisboa.
O conceituado realizador cinematográfico Jorge Brum do Canto relacionara-se no Porto com dois médicos que costumavam dirigir-se ao Alto Minho para satisfazerem o hobby da pesca à truta. Acompanhou-os e gostou; quer da modalidade desportiva; quer da gastronomia; mas, sobretudo, da beleza panorâmica. Ficou apaixonado pela região do Alto Minho, que sempre visitava com entusiasmo e se integrou no grupo local de amadores de pesca à truta. As visitas a Arcos de Valdevez passaram a fazer parte da agenda de oportunidades que as suas tarefas profissionais lhe permitiam. A região ganhou mais uma preferência.
Depressa se familiarizou com amigos que o acompanhavam em caminhadas pelos rios que corriam nas serras. Eram caminhadas que começavam ao romper do dia e acabavam à hora do almoço, antecipadamente programado em locais já privilegiados pelas típicas refeições experimentadas em Monção, em Melgaço, em Valença, em Soajo e, até, na própria vila dos Arcos. Além das excelentes especialidades gastronómicas que degustavam, trocavam impressões sobre peripécias sucedidas a uns e a outros, às vezes com mais rigor e outras um pouco menos assim.
Durante as entusiasmadas conversas gastronómicas, terão sido salientadas, em certo jeito de desafio, as belíssimas condições de beleza e os problemas de contrabando ainda prevalecentes para a realização de um filme. Sugestão que não mereceu qualquer comentário do conceituado cineasta.
O certo é que, um dia, os arcuenses foram surpreendidos com a instalação no ainda existente Hotel Ribeira de inusual quantidade de hóspedes, que apreciavam os jardins e o rio, enquanto um ajuntamento de muitos mirones mais curiosos observava do tabuleiro da ponte. Cedo concluíram tratar-se de gente do cinema (atores, técnicos e operacionais), identificando personagens já vistas em filmes portugueses. A notícia correu célere e o entusiasmo tomou lugar nas conversas do dia-a-dia. Cada dia alguém sabia mais sobre a estadia de tantos profissionais do cinema numa modesta vila, como era então Arcos de Valdevez.
E em 23 de fevereiro de 1942, um jornal da Capital anunciava a estreia de um novo filme português, Lobos da Serra, no Cinema Tivoli, em Lisboa. A expectativa passou a ser a de ver no nosso bonito Cinema um filme português com atores de outros filmes já conhecidos da tela. O regozijo serviu para aliviar os cansativos comentários sobre a evolução da Segunda Guerra Mundial, ainda em curso.
Em Arcos de Valdevez, o filme esteve em exibição durante algumas semanas (as sessões eram às quartas-feiras à noite e nas tardes e noites de domingo)., sempre com lotação esgotada…
Rui Sampaio
