Com raízes nos Arcos, Alexandre Campos viveu, estudou e trabalhou nos Estados Unidos da América (Miami), em Espanha (Madrid) e em Portugal (Porto e Braga). Dono de um currículo recheado, acumula experiências diferentes (e desafiantes): consultor em três multinacionais; fundador e diretor executivo da Competinov – Negócios com Inovação (empresa, sediada em Braga, de base tecnológica), com trabalho reconhecido na otimização e implementação de estratégias de inovação organizacional e no desenvolvimento de processos de internacionalização.
À faceta de empresário e consultor, junta a vertente de professor universitário (na Faculdade de Economia da Universidade do Porto), de formador e de palestrante em conferências sobre temáticas tão atuais como a liderança, a visão empresarial, a internacionalização, a inovação em rede, o marketing, a gestão de informação ou o conhecimento organizacional. Na sua já longa carreira Alexandre Campos tem sido ainda requisitado para coordenar várias ações de formação e consultoria para empresários, nas áreas de internacionalização e inovação, contabilizando mais de 40 mil horas de formação.
É membro da rede internacional de consultores/facilitadores SOL (Society for Organizational Learning), que germinou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (Universidade de Cambridge). Fundou três empresas (Competinov, Infoteli e Yumn Worldwide, esta no Iraque) e uma câmara de comércio (a Luso-Egípcia).
Do ponto de vista académico, Alexandre Campos pode gabar-se de ter cursado diversas áreas em instituições de prestígio internacional. Doutorado em Sociologia, pela Universidade Complutense de Madrid; detentor do curso de Psicologia Analítica, pela International Academy of Analytical Psychology (Florida Atlantic University); titular de um mestrado em Administração e Recursos Humanos, pela ESIC (Escola de Negócios) de Madrid; e licenciado em Gestão de Marketing, pelo Instituto Português de Administração de Marketing (Porto).
No campo da literatura, Alexandre Campos é autor e coautor de mais de trinta estudos publicados de Market Intelligence e Innovation Intelligence (nacionais e internacionais), bem como de Planeamento de Desenvolvimento Territorial.
Aprender a inovar em alturas de crise
Em conferência promovida em tempos pelo Rotary Club de Arcos de Valdevez, o fundador da Competinov esmiuçou a relação entre “crise” e “inovação”, um tema familiar para quem lida de perto com a gestão do conhecimento.
A crise que ciclicamente aflige o mundo é uma “janela” de oportunidades. “Só vemos o que compreendemos”, mas, quando não conseguimos ver o que não compreendemos, “limitamo-nos a olhar e não a ver”. E para ver a verdade, “é preciso inovar”. Mas sempre de forma orientada.
A palavra crise, que no mandarim significa tanto “oportunidade” como “perigo”, remete para uma realidade incontornável: “não há crise sem oportunidade, não há oportunidade sem crise (ameaça)”. Quando se olha para um negócio, há, portanto, duas perspetivas, há duas realidades à nossa volta.
A inovação, que é “sempre a resposta de uma empresa ou de uma pessoa à mudança”, implica um estado de alerta e de vigilância permanente, como se estivéssemos munidos de uma “espécie de bote salva-vidas ou de um radar”, para “detetar essas oportunidades e essas ameaças”. Este é o ponto de partida para gerar, atempadamente, “alguma coisa que consiga responder diferenciadamente a essa realidade externa”. E a inovação, que não implica necessariamente tecnologia, pode aplicar-se, “em termos técnicos, ao produto, à organização, ao processo, ao marketing e à dimensão social”.
Na adaptação ao ambiente externo, há duas formas de resposta ou de inovação: estas podem ser “ou de melhoria contínua ou de mudança de paradigma (a chamada mudança radical ou disruptiva)”. A primeira responde “adequada e atempadamente às mudanças”; a segunda, que “vira a mesa do avesso”, é “muito mais arriscada”. Estes dois tipos de inovação são necessários quer à sociedade civil quer às empresas.
No campo empresarial, a crise é uma fonte de oportunidades, afirmando-se a mesma, em muitos casos, como o momento em que um projeto, há muito engavetado, entra na ordem de prioridades, “porque há tempo para isso”. É nestas alturas que surgem produtos inovadores, exatamente quando é necessário responder a necessidades. Tratando-se de uma fase natural do ciclo, a crise também traz, portanto, “coisas boas”, desde logo porque, quando não há dinheiro, “somos obrigados a olhar ao tostão e a aprender a gerir”.
“Orientação”, o farol das empresas
Para se fazer alguma coisa, é necessário saber para onde vamos. A “orientação” é mesmo “a variável mais importante no contexto empresarial”. É a orientação que permite ao empresário olhar e ver a oportunidade que tem à sua frente. “É isto que faz a diferença entre o bem-sucedido e o malsucedido”, frisa o professor da Universidade do Porto, acrescentando que “todos os processos de decisão e de atuação decorrem da orientação”.
O processo é especialmente falível na inovação do modelo de negócio e não tanto na inovação do produto. Por isso, “o segredo não é mais a alma do negócio, mas a alma é que é o segredo”, ou seja, “a forma como se fazem as coisas é que é o grande segredo”. Na visão de Alexandre Campos, “é muito difícil copiar uma cultura empresarial de cooperação, de inovação organizacional de processos, mas é muito fácil copiar um produto inovador”. Sendo a componente física muito fácil de copiar, a inovação assenta, portanto, cada vez mais, no serviço e na imagem.
Segundo o empreendedor arcuense, para o desenvolvimento regional, é crucial haver mais cooperação e “olhar menos para o umbigo”. Competir pela cooperação pode ditar a sobrevivência do tecido empresarial das pequenas e médias empresas, especialmente das que operam no interior de Portugal.
Rumos para Arcos de Valdevez
Em palestra bastante participada, Alexandre Campos olhou, também, para os Arcos de Valdevez sob uma perspetiva de negócio. Antes de tudo, e para dar um salto em frente, é preciso “identificar os pontos fortes da região”, atalhou o antigo coordenador de estudos internacionais. Feito um trabalho completo de diagnose, que se promovam, depois, “eventos e outros pretextos para atrair pessoas” (perfil em que cabem o Recontro de Valdevez, o Festivinhão/Festival do Fado ou a Feira das Artes e Ofícios de Soajo). Que se desenvolva um site com o “enredo” turístico da região. Que se criem “marcas duplas” para propiciar “estratégias de internacionalização”. Que se façam “intercâmbios com as empresas retalhistas” que operam em escala. Que se “aglutinem vontades”. Que se “trabalhe em rede”. Que haja “envolvimento e não apenas sensibilização”. “Que se sacudam receios”, porque, “se houver medo de errar, não há inovação nem negócios com futuro”.
A.F.B.