A polémica em torno da empresa Águas do Alto Minho (AdAM) voltou ao centro dos trabalhos da Assembleia Municipal. Os partidos da oposição quiseram saber “quem saiu a ganhar com a criação da empresa intermunicipal”, fazendo ressaltar o “aumento de custos” e a degradação do serviço” para os utentes.
Segundo o PS, os efeitos “nefastos da adesão à AdAM estão à vista” dos munícipes. “Fomos empurrados para a AdAM com todas as consequências em termos de aumento de custos e de perda de qualidade de serviço que daí advieram para os arcuenses, […] pelo que é legítimo perguntar: quem ganhou com a adesão à AdAM?”, questionou Ana Gave.
“Sem que houvesse um ganho de qualidade, antes pelo contrário”, a jovem médica de Sistelo acentuou ainda que as contas municipais refletem uma despesa de 566 mil euros com a comparticipação de tarifas, comparticipação essa que é aplicada cegamente”.
Já o deputado Romão Araújo reafirmou argumentos que fundamentaram a luta da CDU contra a criação da empresa intermunicipal. “Como alertámos em devido tempo, a AdAM é uma empresa que visa unicamente o lucro (obteve proveitos em 2022) e, ao invés de fornecer a água, um bem essencial, a um preço reduzido, ainda retira às câmaras a capacidade de gestão, que era feita anteriormente de forma eficaz. No caso em concreto do concelho de Arcos de Valdevez, todos consideram que, antes da adesão à AdAM, existia um bom serviço, mas a situação, como já era de prever, deteriorou-se significativamente: os preços aumentaram e o serviço degradou-se. Mais: temos notícia de que o critério da aplicação do tarifário social não é uniforme em todo o distrito. […] No concelho de Viana do Castelo, segundo consta, é a AdAM que subsidia a tarifa social, mas, nos Arcos de Valdevez, pelo visto, a tarifa social recai sobre os cofres da Câmara”.
Na dialética política que dominou o debate, o presidente do Município afirmou que “a medida que esteve subjacente à criação da AdAM é muito clara e objetiva. Nós precisávamos (e precisamos) de investimento para continuar a alargar a rede. Haja vontade política do Governo para resolver este assunto. É por isso que os municípios que integram a AdAM pediram uma reunião ao ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, exatamente para desbloquear os problemas que existem. Relativamente ao tarifário social, não tenho informação nesse sentido, mas admito que, no caso de Viana do Castelo, os utentes se dirijam aos serviços da AdAM para pedir o tarifário social, embora os custos, esses, onerem sempre os cofres dos municípios”, ressalvou João Manuel Esteves.
“A AdAM é a maior roubalheira de sempre!”
Sem paninhos quentes, António Maria Sousa acusou a “AdAM de usar expedientes administrativos para roubar os cidadãos. Na construção de casas, a AdAM obriga o dono da obra a pedir um cadastro para apurar se há saneamento, um ato burocrático que custa 57,06 euros. E, em caso de resposta negativa, é necessário pedir outro parecer à Agência Portuguesa do Ambiente, um procedimento que custa 56,07 euros. Está toda a gente calada, mas a AdAM é a maior roubalheira de sempre!”, observou o autarca de Távora.
“[…] Além destas práticas abusivas, a AdAM não presta um serviço de qualidade e não consegue servir os clientes com a prontidão que se exige: a simples instalação de um ramal é uma operação que demora meses. O senhor presidente da Câmara, que preside à Assembleia da AdAM, sabe disso, […] mas é conivente, até há quem diga que o senhor João Manuel Esteves, quando abandonar as atuais funções autárquicas no fim deste mandato, vai exercer um cargo nessa empresa”, atirou António Maria Sousa.
Alertas caíram em saco roto
Pelo concelho de Arcos de Valdevez, quer entre a população arcuense, quer no seio da imprensa local, designadamente o NA, proliferaram alertas contra a criação da AdAM, considerada um esbulho criminoso para a parte mais pobre do distrito.
A.F.B.