Há quem diga que, a par de outras crenças, o futebol é um dos maiores ópios da humanidade. E eu tenho de confessar que também sou um dos alienados. Vem isto a propósito das grandes dificuldades por que passa o “meu” glorioso FC Porto, sem dúvida, a maior organização desportiva do Norte e, possivelmente, de Portugal. Mas as dificuldades acontecem, por vezes, por culpa de infiltrados, sem escrúpulos, que se apoderam dos lugares para fins que em nada dignificam o desporto, e cuja prática é tão necessária para o desenvolvimento saudável do ser humano.
Mas o futebol e certa política andam de mãos dadas, e alguns têm no exílio a prova do crime, e há os que no campo político cometem roubos e assassinatos, mas andam por aí gozando as facilidades da vida, livremente, até porque os obstáculos só acontecem a quem não tira benefício dos poderes partidários e de instalações que emanam sempre de Lisboa. Porém, a cidade do Porto é grande e histórica – e, se for necessário voltar a comer “tripas”, a gente do Norte apaniguada do FC Porto não deixará de o fazer para fortalecer o clube…
Dia histórico com várias ameaças a pairar…
No dia em que escrevo, 20 de janeiro, Donald Trump toma posse nos Estados Unidos, prometendo que as fronteiras jamais serão ultrapassadas. Esquecendo que horas antes tinha afirmado que o Canal do Panamá e a Gronelândia (ilha e um território dinamarquês autónomo) seriam norte-americanos e, pasme-se, que o grande Canadá deveria ser um dos novos estados do “Tio Sam”. Trump fala da Europa como qualquer coisa a quem possa traçar novos caminhos, e parece até ignorar que a Rússia e a China existem… Há mais de meio século, o títere português, Salazar, afirmava ao mundo, para nossa vergonha, que Angola, Moçambique e as demais colónias portuguesas eram, simplesmente, províncias de Portugal.
Pelos Arcos, mesmo não fazendo parte da história, também há por aí quem diga que “em algumas das maiores freguesias arcuenses, os atuais presidentes, com interesses partidários, oferecem sempre ao candidato do PSD a vitória seja para a Câmara seja para a Assembleia Municipal”.
Os Maias
Ainda há quem diga que os portugueses são de memória curta. Mas nem parece, porque a trasladação dos restos mortais de Eça de Queiroz para o Panteão Nacional é prova de que sabemos preservar a memória dos grandes. Eça é, sem dúvida, a maior figura literária de Portugal, pelo menos do século XIX.
O romance Os Maias, uma das suas obras imortais, traduzido em vários países é a expressão mais forte de tudo o que a literatura portuguesa produziu. Pena que a família de Eça tenha esperado tanto tempo pela merecida homenagem ao grande escritor, um processo que teve uma contenda judicial, mas que terminou de forma favorável.
Como costuma dizer-se, mais vale tarde do que nunca e, no dia 8 de janeiro, fez-se plena justiça. A este respeito recordo aqui a memória de um poeta arcuense, Carlos Cunha, a quem um dia pedi umas aulas de português. Tinha eu concluído a escola primária, mas para mim era necessário mais, muito mais, e Carlos Cunha aconselhou-me a ler as obras ímpares de Eça e eu assim fiz nas noites de inverno na velha mercearia de meu Pai. Gastei imensas folhas de papel e a luz elétrica que o “velho” considerava de custos elevados para a época. E como nunca pensei morrer totalmente ignorante, aqui estou eu a recordar e a agradecer ao grande escritor e diplomata o precioso património literário com que honra Portugal.