O cientista Fernando Veloso regressou, no passado dia 1 de junho, à Escola Primária de Eira do Penedo, em Soajo, onde fez a quarta classe em 1959 e onde tem raízes familiares (pelo lado paterno). A atividade, inscrita no âmbito do programa “Cientista Regressa à Escola”, juntou os dez alunos que frequentam o 1.º ciclo naquela unidade do Agrupamento de Escolas de Valdevez. O cientista e professor jubilado, da Universidade do Porto, difundiu pelo público escolar a mensagem de que “qualquer criança pode vir a ser um cientista se assim o quiser, desde que estude muito e tenha oportunidades na vida”.
Através desta atividade, pretendeu-se aproximar os alunos de Soajo da ciência para que as crianças possam dizer ‘eu já conheci um cientista [da minha terra]’. A partir da essência do projeto, coube ao cientista Fernando Veloso, um “filho da terra”, dinamizar uma oficina animada e participada à volta das conexões entre a terra e o mar, ou não fossem os portos, os navios e as zonas costeiras as áreas prediletas do ilustre soajeiro, que, além de engenheiro civil (de âmbito costeiro), também cursou Arquitetura Naval na Universidade de Londres.
Neste regresso à escola onde estudou há mais de seis décadas, Fernando Veloso, que completa 73 anos em julho próximo, não esqueceu os professores com quem aprendeu a ler, escrever e contar. “Com a minha avó materna, Marita, fiz a primeira e segunda classes, no Funchal; com a minha mãe Conceição, passei a terceira classe, em Gavião (Vila Nova de Famalicão); e com a minha tia paterna, Laurinda Gomes Veloso Enes, fiz a quarta classe, em Soajo, onde ela foi professora toda a vida. Foram as melhores professoras do mundo!”, congratula-se o cientista, que se recorda bem daqueles tempos de penúria.
“Os meus colegas na escola de Soajo nem sapatos tinham, andavam todos descalços, eu era o único que usava calçado. Por falta de condições económicas, mal acabavam os estudos, emigravam para todo o mundo. Eu fui o único que prossegui os estudos. As nossas brincadeiras radicais no recreio eram passadas na eira granítica com os espigueiros. Também íamos à fonte buscar água com cântaros de barro para matar a sede nas latrinas da escola”, conta.
O gosto pela ciência nasceu logo na meninice. “Desde miúdo que me habituei a viajar e a me questionar. Quase todos os anos ia à Madeira, visto que a minha família, do lado materno, é madeirense, mas Famalicão, Porto e Lisboa também eram localidades que conhecia bem. De comboio e de barco, fui descobrindo o mundo, sobretudo as áreas de geografia, geologia, natureza, cultura e mar. Toda a vida me dediquei ao mar, um universo infinito de saber”.
Professor jubilado, Fernando Veloso lecionou durante 49 anos na prestigiada Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. “Apesar de já ter deixado o ensino, continuo a trabalhar no mar, para diversas instituições de Portugal, Brasil e Angola”, ressalva o cientista, com “muito trabalho produzido na área de gestão costeira”.
Programa educativo para estimular “literacia científica”
A iniciativa “Cientista Regressa à Escola” é um programa educativo patrocinado por um projeto europeu, implementado pela Native Scientists, que promove o regresso de cientistas às suas escolas do 1.º ciclo para realizar oficinas de ciência com alunos”, de preferência do 4.º ano de escolaridade, com o intuito de “contribuir para a promoção da cultura e literacia científica em Portugal e, ao mesmo tempo, desfazer estereótipos relativamente aos cientistas”, explicou ao NA o coordenador do projeto, Nuno Negrões.
A.F.B.