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As margens do rio Vez não devem ser tratadas como um canteiro ou como um jardim

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O PS defende que os trabalhos de desassoreamento realizados na praia fluvial da Valeta não correspondem ao parecer emitido pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

Nas palavras de João Braga Simões, “a intervenção ultrapassou largamente o que estava previsto no parecer. Mais do que isso, não foram cumpridas muitas das instruções que constavam da proposta de recomendações, a saber, a altura inconveniente (tardia) do ano em que os trabalhos decorreram; o facto de a operação ter coincidido com a reprodução e a postura de ovos quer de espécies piscícolas quer de aves que ali nidificam; a morosidade da intervenção e o ruído gerado; a circulação de máquinas dentro do rio e não fora dele; a retirada da estação fixadora das margens e a consequente destruição de vegetação e de matéria orgânica, de redobrado interesse para os habitats; o desbaste das margens quando apenas devia ter sido cortada a vegetação em mau estado de conservação; a quantidade anormal de movimentações de terra, equiparando-se a uma terraplanagem”, confrontou o vereador socialista. 

Ou seja, para a oposição, “a Câmara fez, exatamente, o contrário do que a APA recomendou: “abate e desbaste de flora autóctone da vegetação ripícola, bem como plantação de espécies invasoras, no caso hortênsias [plantas arbustivas], circunstância que não nos parece de todo adequada. Daí que seja importante saber se a APA viu o resultado desta intervenção e se fiscalizou a obra, cuja amplitude não aconteceu em anos anteriores, até porque, acima do pontilhão da Valeta, não vejo necessidade de se fazer qualquer operação. A vegetação que lá existe é sempre reduzida e areal não há. Diria que a vegetação é facilmente tratada com o trânsito de pessoas e, através da colocação de toalhas, o espaço fica apto à prática balnear”.

De futuro, o PS sugere uma intervenção “menos agressiva para os ecossistemas” existentes ao redor da praia fluvial da Valeta. “Acho que é necessário, primeiro de tudo, que a Câmara faça uma correção no que toca à limpeza de margens, a própria APA faz recomendações técnicas de como a operação deve ser feita. Apesar de ser uma zona urbana, há outras formas de fazer isto, que sejam mais consentâneas com o ecossistema e a biodiversidade que, aqui, encontramos. Entendo que as margens do Vez não devem ser tratadas como um canteiro ou como um jardim de uma rotunda. Não são a mesma coisa”, ressalvou João Braga Simões, para quem “o desbaste das margens da ecovia não é algo exclusivo da Câmara, também há juntas de freguesia que, na sua boa vontade, fazem trabalhos de limpeza de margens que não passam de cortes rasos”. 

 

“Temos de fazer uma melhor intervenção no espaço”

Em resposta, o presidente da Câmara admitiu que “foi tardia a época do ano em que a intervenção foi feita, porque a autorização da APA chegou só em finais de junho. No próximo ano, temos de nos articular atempadamente com a APA para fazermos um melhor trabalho em relação à intervenção no espaço”, observou João Manuel Esteves.

Já Olegário Gonçalves sublinhou que “a operação de limpeza da praia junto ao pontilhão velho foi motivada pelo facto de, na decorrência das cheias, a zona ter ficado repleta de terra, cinza e ervas. Quanto ao corte da vegetação nas proximidades da margem esquerda, tal se justificou por razões de asseio. Se não fosse feita esta operação, os veraneantes que lá colocassem as toalhas iam trazer dejetos de cães ou de gatos, bem como carrapatos ou carraças”, rebateu o vereador com o pelouro do Ambiente, que se disse “profundamente interessado em deixar o talude da praia fluvial da Valeta com vegetação diversa”.

Acerca da limpeza que a Câmara e algumas juntas levam a cabo na ecovia, Olegário Gonçalves admitiu chamar essa responsabilidade a terceiros. “Temos, possivelmente, de pedir à APA para fazer uma intervenção de maior envergadura, porque, devido ao crescimento das silvas, há zonas em que já não se vê sequer o rio. Não estou a falar de cortes radicais, mas urge efetuar limpezas e podas, competência esta que cabe à APA”, concluiu o vereador da maioria social-democrata.

A.F.B.

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