Os apicultores do Alto Minho tiveram quebras de produção muito consideráveis nos últimos anos. A culpa é das alterações climáticas, da vespa velutina (vespa-asiática) e do ácaro varroa destructor.
Não são só as variações do clima e a praga da vespa velutina que estão a afetar as abelhas, também a doença parasitária da varroa ataca as produtoras de mel em grande escala. Causada por um parasita externo, a varroa alimenta-se da hemolinfa (sangue) das abelhas.
Num setor altamente competitivo, a apicultura é cada vez mais profissionalizada. Para os produtores de mel, “é importante ter formação especializada para trabalhar na área, porque esta atividade exige capacidade técnica e maneio a fazer”, ou seja, um apicultor profissional tem de compreender a “biologia da abelha” e interpretar o “meio em que a colónia está inserida”.
Desde 2011 que são devastadores os estragos provocados pela vespa velutina: uma grande colónia desta espécie invasora (e predadora) pode destruir um apiário em pouco tempo. Não admira por isso que alguns apicultores tenham investido na instalação de harpas elétricas nos apiários para eliminar as vespas-asiáticas e, ao mesmo tempo, salvar as abelhas. “Porque, sem estas, o mundo acaba”, alertam os apicultores, para os quais as abelhas “têm de ser protegidas, pois sem elas não há polinização, nem mel (e seus derivados), nem fruta, nem flores para perfumes…”
Além da instalação de harpas e de armadilhas (artesanais), as várias associações do setor recomendam aos apicultores que tomem uma série de medidas para limitar a incidência de vespas velutinas nos apiários. A mensagem principal consiste em disponibilizar comida e água às abelhas para fortalecer as colmeias, protegendo as polinizadoras contra os ataques da vespa-asiática.
Assim, se as abelhas tiverem alimento suficiente e estiverem em bom estado de saúde, as mesmas não necessitarão de sair tantas vezes em busca de alimento e, portanto, estarão menos expostas à pressão das velutinas. Claro que nos meses mais quentes as abelhas também necessitam de quantidades significativas de água para refrescar as colmeias, porque, na falta dela, a abelha é obrigada a deslocar-se para o exterior.
Uma outra medida que defende os apiários é a aplicação de tratamentos contra a varroa para evitar a perda de colónias de abelhas no final do verão e outono. De acordo com a literatura especializada, o ácaro varroa apresenta apenas alguns milímetros, mas pode dizimar enxames e comprometer toda a produção apícola. Quando está hospedada na colmeia, a varroa suga a linfa das abelhas adultas, larvas e pupas.
Durante e após o ataque por varroa, as abelhas adultas ficam com as suas asas deformadas (ou atrofiadas) e o abdómen encurtado. Apesar de ser menos familiar ao público, a varroa é, segundo as associações de mel, “um grande problema para as abelhas, porque o patógeno tem a capacidade de se adaptar ao ciclo de vida e à sociedade da abelha”. Por outro lado, devido aos tratamentos químicos usados em décadas anteriores, “os ácaros já começaram a desenvolver resistência contra muitos produtos químicos”.
No combate à varroa o uso de ácido oxálico é o tratamento mais aconselhado pelos técnicos. O produtor apícola é aconselhado a utilizar de duas a quatro fitas banhadas com ácido oxálico por colmeia, variando em função da população de abelhas.
Guerra à velutina na Galiza
Há municípios galegos que estão a premiar os apicultores que capturarem mais vespas velutinas. Lalín (província de Pontevedra) organizou, pela primeira vez em 2021, um concurso para incentivar a captura do inseto invasor. Taboada (província de Lugo) seguiu o exemplo pouco tempo depois. Os vouchers entregues destinam-se à aquisição de materiais e equipamentos – em estabelecimentos comerciais do respetivo território – para utilização apícola. Os concursos são promovidos na altura em que as rainhas (vespas-asiáticas) criam os novos ninhos.
Mas antes disso já as referidas autarquias tinham distribuído armadilhas pelos apicultores (e também moradores) para captura de velutinas, uma prática seguida também do lado de cá da fronteira por diversas câmaras e juntas de freguesia.
Método químico para impedir reocupação dos ninhos
Nos Arcos, a empresa contratada pelo Município tem destruído milhares de ninhos de vespa velutina – só em 2023 foram exterminados cerca de 1400 ninhos. O processo baseia-se no uso de uma arma para ejetar nos ninhos uma substância (fica ativa durante horas) capaz de causar a destruição das vespas. Este método, além de matar as vespas-asiáticas, é considerado “amiga do ambiente”, pois o produto da composição não é prejudicial aos ecossistemas.
Entretanto, o Município de Matosinhos passou a implementar, desde 2024, um método químico inovador para evitar a reocupação dos ninhos de vespa velutina por novas colónias. O sistema está munido de canas de carbono e armas de ar comprimido para neutralizar ou aniquilar os ninhos, inclusive os que estão a mais de 20 metros do solo.
A.F.B