Os órgãos da Comissão Política da Secção do PSD de Arcos de Valdevez vão a votos no próximo dia 1 de março, conforme regem os estatutos do partido. Do sufrágio sairá o próximo candidato do PSD à Câmara Municipal de Arcos de Valdevez.
Uma fação do partido, para evitar divisões, defende “uma só candidatura à liderança”, alguém “com experiência política”, perfil que encaixa tanto em Olegário Gonçalves como em Francisco Araújo, mas estes surgem, aparentemente, em lados diferentes da “barricada”.
O atual vice-presidente Olegário Gonçalves – que trabalha há algum tempo no alinhamento dos candidatos do partido às juntas de freguesia, missão para a qual formou um “comité” constituído por autarcas da zona norte do concelho – vai, segundo apurou este jornal, concorrer à presidência do PSD Concelhio para suceder no cargo a João Manuel Esteves. Teoricamente, o número dois do executivo municipal tem a seu favor o facto de dominar boa parte do “aparelho”, mas a “falta de currículo académico” é um argumento arremessado pelos adversários internos para sacudir o partido.
De facto, há uma corrente do PSD-Arcos que ensaia distâncias em relação à situação vigente e, mesmo com algum secretismo e receio de falar abertamente, não deixa de pugnar por uma alternativa, impulsionada por jovens quadros do partido, eventualmente com o apoio de Francisco Araújo, que, segundo alguns elementos próximos “quer ter uma palavra a dizer no futuro candidato do PSD à Câmara”.
“Não estou interessado em ser novamente presidente da Câmara”
A este respeito, foi o próprio Francisco Araújo que, em fevereiro de 2022, no decurso dos trabalhos da Assembleia Municipal, em acesa troca de argumentos com o autarca António Maria Sousa, se colocou fora da corrida aos Paços do Concelho. “Não estou interessado em ser novamente presidente da Câmara. Não se preocupem comigo, […] sigo aquela máxima segundo a qual nunca se deve voltar a um lugar onde já se esteve, por isso, não vou fazer sombra a ninguém”, garantiu o ex-presidente do Município há três anos.
“Já fui presidente da Câmara muitos anos [vinte], já fui vice-presidente e já fui adjunto, atualmente sou presidente da Assembleia Municipal e termino o mandato em 2025”, assim rematou nessa altura o assunto Francisco Araújo, que, interpelado por este jornal no passado dia 30 de janeiro, não deu qualquer pista sobre o seu atual posicionamento.
Deputado municipal aponta candidato com o “melhor perfil”
Entretanto, o militante Norberto Brito defende que “o próximo candidato do PSD à Comissão Política e, consequentemente, à Câmara Municipal, a exemplo dos antecessores, deve ser alguém com experiência como vereador, ter bagagem política, ser uma voz presente e interveniente na vida do partido e, acima de tudo, ter no currículo trabalho em prol do desenvolvimento do nosso concelho”.
Segundo o antigo presidente da Junta de Sá e atual deputado municipal, “o companheiro Olegário Gonçalves é quem se apresenta como o melhor candidato do PSD à Câmara, porque reúne, no seu perfil, as características necessárias para o cargo: experiência autárquica, competência política, credibilidade, solidariedade, sinceridade e capacidade para continuar a construir um futuro melhor para todos os arcuenses”, sustenta Norberto Brito.
Nos bastidores, Olegário Gonçalves é visto como alguém “exímio na gestão de contactos, de lugares e de sensibilidades internas. Falar com os militantes um a um e descer às bases com humildade é um trabalho que ele faz com naturalidade”, elogiam os seus apoiantes, entre os quais se contam vários autarcas de freguesia.
Corrente do partido defende “novos protagonistas”
Mas o deputado municipal José Lago Gonçalves, em várias reflexões que vem tecendo no órgão deliberativo, vê, em abstrato, a “mudança de ciclos como uma oportunidade para a assunção de novos projetos e de novas políticas”, através de sangue novo, um ponto de vista que, de resto, reforçou no espaço de opinião que assina no jornal Notícias de Viana, de 29 de janeiro.
Um outro militante, sob anonimato, preconiza, sem meias palavras, uma renovação de caras. “Sem diminuir nem ostracizar ninguém, porque todos deram, e dão, o seu melhor, era bom que surgisse uma solução encabeçada por alguém que estivesse fora do círculo de poder. Há jovens quadros com muito valor, é o caso de António Teixeira Rodrigues que tem um pensamento estratégico muito estruturado e que com o apoio de uma equipa arrojada nos horizontes e nas políticas poderia ajudar o concelho a dar um salto a nível distrital e regional”, diz.
Outros militantes pró-renovação duvidam, no entanto, que alguma candidatura jovem ganhe o duelo à liderança da Comissão Política, apesar de “haver quadros tecnicamente muito bem preparados, mas isso não chega para ganhar as eleições, porque Olegário Gonçalves controla a ‘máquina’ do PSD nos Arcos”, admitem vários membros filiados no partido, que, em círculo fechado, não excluem a hipótese de apoiar uma candidatura independente à Câmara em caso de “desinteligências insanáveis”.
À luz dos estatutos do PSD, compete à Distrital de Viana do Castelo, atualmente presidida por Olegário Gonçalves, “aprovar as listas de candidaturas aos órgãos das autarquias locais, sob proposta da comissão política da respetiva secção”.
Sem tempo a perder, é já no próximo dia 1 de março que os militantes do PSD-Arcos, com o requisito das quotas em dia, vão dizer em quem confiam, na certeza de que o escrutínio ditará o candidato do partido às eleições autárquicas de setembro ou outubro de 2025.
A.F.B.