“Sustentabilidade não é moda, é necessidade”, mensagem que os escuteiros arcuenses difundiram no corso carnavalesco
O Carnaval de Arcos de Valdevez, com 23 carros alegóricos, apresentou, pelo segundo ano consecutivo, como grande novidade, a participação de mais de quinhentos figurantes galegos que ajudaram a abrilhantar o corso em termos artísticos e coreográficos. Com algum “toque” de samba, muitos palhaços (temática do Carnaval), alguns políticos parodiados e apelos à emergência climática, a edição de 2024 não bateu recordes, mas mesmo assim não faltou cor, alegria e diversão entre as Salzedas e a “Ponte Nova”, para gáudio de um público efusivo, sedento de folia para esquecer, por minutos, as crueldades que afligem o mundo.
Com o sol a irradiar durante o desfile, os 1173 foliões participantes (aquém dos 1561 do ano transato) entraram facilmente no espírito carnavalesco e, como de costume, um dos “pratos” fortes dos festejos pertenceu aos cinco carros alegóricos da Folia, todos concebidos pelo artista Nuno Mokuna, nomeadamente o do ‘Batman’, os dois dos ‘palhaços’, o do ‘Super-Homem/Hulk’ e o dos ‘Reis do Carnaval’ – este ano, foram coroados Arnaldo Pereira, 73 anos, membro da associação Folia, ligado há décadas à organização do Carnaval arcuense, e Tânia Gomes, 21, vencedora da primeira edição do Festival da Canção Rural de Arcos de Valdevez, cuja diferença de idades foi espelhada no público multigeracional.
Para lá destas alegorias, também os carros e as engenhosas fantasias dos sete comparsas da Galiza (com sonorização e locução a condizer), todos diferentes uns dos outros, ajudaram, e muito, ao décor geral. Os foliões do ‘Talismán’, vindos, pela terceira vez, de Pontevedra, ofereceram um espetáculo de música e muita animação; os cerca de setenta elementos do grupo ‘Luces’, de Tomiño, deram asas à fantasia floral, como se de um “bosque encantado” se tratasse; a associação ‘O millor de cada casa’, da Corunha, saiu à rua com meia centena de fantasiados a sublinhar a importância da abelha como agente polinizador e produtora de mel, numa altura em que a espécie aparece ameaçada pela voracidade da vespa-asiática; o comparsa ‘Ciklon’ (inspirado em Notre Dame), proveniente de Tomiño, com uma centena de fantasiados, sobressaiu quer pelas bonitas coreografias quer pelos vestidos e trajes de requinte; o ‘Politicamente Incorrecto’, de Couso, Gondomar (Pontevedra), apresentou-se com um divertido coletivo de jovens e menos jovens disfarçados, com mascotes e ferramentas de trabalho a acompanhar; o grupo ‘Imprescindibles’, proveniente de Vigo, trouxe o vício do jogo (bingo), com um efeito visual muito bem-sucedido; e o agrupamento ‘Estrelas da Noite’, de Tomiño, sobressaiu pelas requintadas criações apelando ao reaproveitamento da água e dos recursos naturais em geral.
Preciosas aliadas da organização (a cargo da Folia), as 23 associações/instituições concelhias que engrossaram o corso deram, cada uma à sua maneira, um colorido especial ao cortejo. Fora alguns temas e participações originais – a Associação Radiomodelismo de Arcos de Valdevez transformou a avenida numa pista para carros de modelismo; o Grupo de Teatro do Vez fantasiou-se recriando “palhaços videntes” em nome de um “mundo melhor”; o Atlético dos Arcos trouxe o futebol no feminino com as jovens jogadoras a mostrarem dotes no asfalto; e um dos carros da Folia apelou à paz e ao fim da guerra em várias latitudes do globo –, a maioria das coletividades deu força ao tema dos palhaços.
Como já era de esperar, o sarcasmo esteve de braço dado com a emergência climática. “Sustentabilidade não é moda, é necessidade”, avisou o Agrupamento n.º 214 de Arcos de Valdevez, do Corpo Nacional de Escutas, que recuperou a mensagem de Baden-Powell, fundador do Escutismo, “Deixai o mundo melhor do que o encontrastes”, para difundir a ideia de praticar o bem, contribuindo, deste modo, para a felicidade dos vindouros. Outras coletividades concelhias fizeram ressoar, igualmente, o alerta ambiental, com muita imaginação à mistura.
Recados à parte, muitos dos palhaços (alguns dos quais com os mais diversos disfarces) fantasiaram-se de pirata, polícia, monstro, diabo, cabeçudo, “velhinho”, macaco, freira, padre, sacristão, músico, Batman e Super-Homem. Também houve quem voltasse ao Zorro e a Star Wars. Nos grupos, a maioria dos fantasiados usou a mesma indumentária.
Os mais novos, em êxtase, foram presenças notadas no cortejo e, de vez em quando, lá iam participando nas “rábulas”, com confetti e serpentinas, ajudando com isso a encher a avenida de cor. Sem surpresa, muitos meninos foram fiéis ao Super-Homem e aos vampiros, enquanto as meninas tiveram preferência por princesas e sereias.
Embalado pela imensa moldura humana que apinhou a Avenida Dr. Mário Soares e o Campo do Trasladário, o vice-presidente da Folia, sem esconder o objetivo falhado de superar os 1500 palhaços no desfile, disse a este jornal “esperar que durante o ano não nos apareçam aqueles palhaços que nos faltaram aqui, hoje [13 de fevereiro]”, gracejou Rui Aguiam.
A.F.B.