O santuário de Nossa Senhora da Peneda, um dos maiores santuários marianos do noroeste peninsular e que conta já com 803 anos de culto, voltou a acolher, de 31 de agosto a 8 de setembro, muitos fiéis em romagem pelas estradas e trilhos da serra. Mas a maioria dos crentes (e não crentes), proveniente de várias localidades alto-minhotas e também da Galiza, seguiu em excursões ou em viatura própria.
A fé neste lugar “mágico” vigora desde a Idade Média: começou a 5 de agosto de 1220, data a que remonta o episódio segundo o qual “Maria terá aparecido a uma criança que pastoreava o gado pedindo-lhe a construção de uma ermida em sua honra”. O dado mais tangível da devoção católica encontra eco no monumental santuário de Nossa Senhora da Peneda, erigido entre vales de granito no decurso dos séculos XVIII e XIX, terceira versão do templo mariano localizado sob o enorme Penedo da Meadinha (cada vez mais procurado por praticantes de escalada).
Embora o culto à Virgem registe uma diminuição gradual do número de romeiros que aflui àquele lugar da Gavieira – especialmente devido à regressão demográfica, à crise da Igreja e ao “esquecimento” dos peregrinos habituais (a aposta num certo segmento turístico, de gama alta, também terá contribuído para isso) – , a verdade é que ainda há fiéis que passam os dias da novena nos albergues, agora com maiores comodidades, fazendo da Senhora da Peneda, ontem como hoje, uma das maiores peregrinações da região, mesmo sem carrosséis nem música eletrónica.
Ao longo da novena, foram chegando ao santuário grupos de romeiros, provenientes de várias localidades. Sem distinção de idade, género e estrato, todos carregam uma fé inquebrantável por Nossa Senhora da Peneda. Também há quem faça a peregrinação tão-só pela confraternização e pelo exercício (desporto), como foi o caso da “lindíssima caminhada” de 40 quilómetros que um grande grupo, maioritariamente constituído por jovens, realizou, no dia 2 de setembro, entre Parada (Paredes de Coura) e o santuário de Nossa Senhora da Peneda, numa organização da Associação Cultural, Desportiva e Recreativa de Parada.
Do ponto de vista litúrgico, a atenção dos devotos centrou-se nas eucaristias, no Hino Akathistos em honra da Virgem, nas rezas e na eucaristia da Festa da Natividade de Maria (celebração do dia 8 que foi presidida pelo bispo da Diocese, D. João Lavrador). Ao longo da romaria, os peregrinos que foram convergindo para o santuário iam participando nas homilias e engrossando as procissões (como a do dia 6, com terço cantado) pelo imponente escadório das Virtudes. Nos compassos de espera, segundo o ritual, os devotos “espalham” a fé rezando e dando voltas ao santuário, segurando na mão “amuletos” como o terço.
Para obviar à quebra de religiosidade e dar um novo impulso à romaria, chamando novos públicos, a Confraria da Peneda, a juntar à tradicional “roda” das concertinas, apostou novamente na componente cultural com a organização de espetáculos, nomeadamente o concerto “Músicas à Senhora”, bastante concorrido, que Ana Bacalhau (“fascinada com a beleza natural do sítio”), acompanhada por Eugénia Contente à guitarra, protagonizou no grande terreiro do santuário, assim como a novidade da bênção da gaita galega, sob coordenação do gaiteiro Luís Rocha, do Couto.
Daqui a um ano, os fiéis de Nossa Senhora da Peneda estarão de volta a este lugar cheio de misticismo.
Protocolos de apoio
No dia 2 de setembro, no grande terreiro que está na base do santuário, procedeu-se à celebração de dois protocolos entre o Município e a Confraria de Nossa Senhora da Peneda, representados pelo edil João Manuel Esteves e pelo padre Luciano Forte, respetivamente. O apoio, no valor de 19 500 euros, destina-se à comparticipação dos encargos com a produção, dinamização e divulgação de eventos culturais e religiosos, com destaque para a romaria de Nossa Senhora da Peneda, bem como a gestão, funcionamento e promoção do Posto de Informação e Turismo, do Espaço GeoValdevez e do Abrigo de Montanha da Peneda.
O segundo protocolo, no âmbito do plano de valorização da Peneda, prevendo um investimento de 240 mil euros, envolve a “realização de diversas intervenções, ao nível do edificado e do espaço público da área do santuário, nomeadamente na reabilitação do templo e espaço circundante; na beneficiação da área a norte do santuário (arruamento e estacionamento); na reabilitação do acesso e do grande terreiro; na recuperação do escadório das virtudes; na requalificação da área de lazer; na colocação de guardas de segurança; no reforço da sinalética interpretativa; no controlo de infestantes em faixa de proteção; e, por fim, na acessibilidade digital”.
Em todas as medidas propostas, os promotores comprometem-se a “respeitar a linguagem arquitetónica e paisagística”, com o objetivo de provocar “o mínimo impacto em toda a envolvente e arquitetura existente, possibilitando a multifuncionalidade de intervenção nas várias operações a implementar”.
Este plano de valorização compreende várias fases de execução e existe o firme propósito que o mesmo seja efetivado com a ajuda de fundos comunitários.
Santuário perto de ser classificado como Monumento Nacional
O santuário de Nossa Senhora da Peneda está prestes a ser classificado como Monumento Nacional (falta apenas o Conselho de Ministros aprovar o decreto com a respetiva classificação), ao mesmo tempo que a romaria se encontra em fase de consulta pública para a sua inscrição no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial – a tradição histórica, o lugar emblemático, o património arquitetónico e as paisagens naturais, em perfeita conjugação, favorecem esta dupla aspiração.
A.F.B.