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“Inferno” das chamas voltou a Ermelo “Não aprendemos nada com o grande incêndio de 2016”

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Anos depois, a população de Ermelo recordou o fogo que, em agosto de 2016, arrasou quintais, pomares de citrinos, bouças e anexos. Desta feita, com forte suspeita de mão dolosa, as chamas deflagraram justamente em Ermelo ao fim da tarde de 3 de setembro e, num ápice, algumas casas estiveram em risco. Com ironia, o vento forte ajudou, de madrugada, a impedir o pior, para alívio dos moradores e dos bombeiros posicionados no terreno, enquanto o fogo progredia, imparável, serra acima em direção ao Gião e a Vilar de Suente, e na frente sul rumo a Vilarinho do Souto e Gração (S. Jorge). 

Os relatos da velocidade com que o incêndio consumiu eucaliptais, carvalhais, matagais e vegetação diversa não são propriamente uma novidade nesta zona de Ermelo, só que desta vez o vento acelerou a progressão das chamas. A juntar a isso o tempo seco e a densa massa combustível existente na encosta agudizaram rapidamente a situação, até que, ao fim de três quartos de hora, foi chegando uma coluna de várias viaturas dos bombeiros, mas apenas um veículo conseguiu aceder à cumeeira do lugar por causa dos acessos estreitos e mesmo esse só teve ordens para subir depois da meia-noite – “as bocas-de-incêndio existentes só são eficazes quando operados por veículo pesado”, contou uma bombeira de Ponte de Lima.

O chefe de uma brigada alto-minhota disse ao NA que “se tratava de um incêndio de gestão difícil” e que a missão dos ‘soldados da paz’ era “proteger as casas”, afastando as chamas dos bens. Mas a proximidade entre espécies invasoras (não controladas) e as habitações gera sempre um barril de pólvora cada vez que há fogo na encosta de Ermelo. 

“Quando ocorrem ventos fortes conjugados com matéria combustível seca, os incêndios ameaçam facilmente as casas. Além disso, a orografia é um grande obstáculo, dados os declives acentuados. Seja no combate, seja nos trabalhos de prevenção”, acrescentou um operacional de meia-idade num compasso de espera, depois de constatar que “os terrenos na proximidade de casas estão quase todos limpos e isso é uma ajuda muito preciosa”. 

Sem tempo a perder, alguns moradores munidos de meios próprios irrigam, uma e outra vez, a cobertura e o logradouro das casas para travar a ferocidade das chamas caso estas se abeirassem das habitações, enquanto se ouvia o estrondo de árvores a cair na encosta devido à força destruidora do fogo. A pedido de uma jovem operacional, um residente temporário (emigrante) oferece comida e bebida a bombeiros exaustos. 

Depois da noite de sobressalto, devido à impossibilidade de chegar às frentes do incêndio, a manhã do dia 4 despertou ainda bastante ventosa, com inúmeros focos na serra, combatidos por oito meios aéreos (ligeiros e pesados), com a ajuda de largas dezenas de bombeiros, maioritariamente colocados em zonas de contenção, numa linha de 8 km de fogo. Com o incêndio desgovernado, era visível uma nuvem de fumo gigante e o ar irrespirável espelhava o monóxido de carbono libertado pela combustão. 

Com a cabeça do fogo por controlar e as chamas a descerem perigosamente a encosta em direção à estrada de Ermelo, as esperanças estavam todas depositadas na ação combinada dos meios aéreos com os bombeiros/sapadores no terreno, que, uma vez mais, sentiram a bonomia do povo quando um proprietário de imóveis ofereceu comida a operacionais de uma unidade, num gesto seguido por algumas juntas de freguesia. 

A lavrar em áreas consideráveis de mato, mas também de floresta, o incêndio, com várias frentes, avançava pelos montados das freguesias vizinhas de Ermelo, Soajo (Vilar de Suente), São Jorge e Vale, com os operacionais no terreno a protegerem prioritariamente as habitações e as unidades produtivas (apiários e estábulos). As descargas dos meios aéreos, com uma cadência elevada, e muitas vezes aos pares (Canadair), permitiram o “ataque eficaz” e o controlo gradual do incêndio que foi dado como “dominado” pela Proteção Civil por volta das 22h30 do dia 4, tendo o dia 5 sido dedicado a “trabalhos de rescaldo e consolidação” para impedir reacendimentos.

  

“Terra abandonada é terra queimada”

“Terra abandonada é terra queimada”, dizia um morador de Ermelo, conformado e triste, enquanto assistia, impotente, ao avanço do fogo assassino em direção a várias propriedades (bouças, terrenos incultos e laranjais, igualmente atingidos), isto depois de consumir boa parte da encosta de Ermelo. “Depois do grande incêndio de 2016, ninguém aprendeu nada, nem a Junta, nem o Município, nem o povo. Os terrenos na freguesia continuam por limpar tal como há oito anos”, assim desabafava uma filha da Terra. 

 

Bombeiros sem descanso

A já nefasta “época de incêndios” (terminologia corrente no léxico informativo nacional, como se os incêndios em Portugal tivessem um caráter irreversível) agravou-se com este grande fogo que consumiu mais de mil hectares de área nas imediações do único Parque Nacional, obrigando os ‘soldados da paz’ a mais dois dias de intenso trabalho.

 

“Defesa da floresta cabe a todos”

Apesar de as ignições, na sua grande maioria, terem na sua origem atos de negligência ou de premeditação (os pirómanos têm o sentimento de impunidade que é tão dominante na sociedade), não deixa, porém, de provocar algum espanto, aos olhos dos observadores, “o pouco trabalho de prevenção feito ao longo do ano”, não obstante as lições que o grande fogo no Parque Nacional (ocorrido em 2016) e o incêndio mortífero em Pedrógão Grande (2017) deviam ter induzido. 

Como dantes, em muitas localidades do concelho de Arcos de Valdevez, vislumbram-se autênticos matagais confinantes com a estrada e até nas imediações de casas – o mato e as plantas invasoras funcionam como um rastilho sempre que há mão dolosa ou descuidada. Além disso, no dizer da população, “o calor intenso, a força dos ventos, os terrenos acidentados, o muito material combustível existente e a falta de aceiros têm facilitado o avanço do inferno das chamas”, tornando os incêndios tendencialmente severos. 

A Proteção Civil lembra que “a defesa da floresta cabe a todos”, devendo “a gestão do material combustível ser feita no inverno”. 

 

“Aldeia (In)segura, Pessoas (In)seguras”

Apesar de ser uma localidade crítica (aninhada no sopé de uma encosta densa, com povoamentos mistos, entre mato, eucaliptos, mimosas e giestas), “a freguesia de Ermelo ainda não foi abrangida pelo programa Aldeia Segura, Pessoas Seguras”, reparo que uma emigrante fez ressoar enquanto retirava uma idosa (familiar) de casa, devido ao clarão gigantesco de labaredas no horizonte.

 

Meios de combate

Além dos Bombeiros de Arcos de Valdevez, participaram na fase crítica do combate às chamas mais de duzentos efetivos oriundos de várias localidades (Ponte de Lima, Ponte da Barca, Paredes de Coura, Monção, Melgaço, Viana do Castelo, Caminha, Valença, Penha de França, entre outras proveniências), apoiados por mais de setenta viaturas e por oito meios aéreos. O posto de comando foi montado no recinto de S. Bento do Seixo, em Gração (S. Jorge). 

 

Estratégia de combate

Os bombeiros intervieram, sobretudo, nos flancos, com o objetivo de conter as chamas, fazendo em muitos casos trabalho de sapador, que as várias brigadas do Corpo Nacional de Agentes Florestais ajudaram a consolidar, enquanto as descargas dos meios aéreos iam extinguindo faixas importantes de fogo.  

 

Origem “intencional” do fogo

Dada a origem suspeita do incêndio (deflagrou pelas 20h20 do dia 3 de setembro), as autoridades policiais procederam a perícias e averiguações em Ermelo logo no dia 4, mas as investigações prosseguiram nos dias seguintes. Os agentes ouviram testemunhos de pessoas que assistiram a movimentos estranhos.

A.F.B.

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