Desemprego nos Arcos aumenta 50% em oito meses
Terra de emigrantes, Arcos de Valdevez tornou-se nos últimos anos um pequeno destino de imigrantes (brasileiros, PALOP e venezuelanos no topo das nacionalidades), mas muitos arcuenses continuam a sair na mesma. Uns porque perdem o emprego nas unidades fabris e não conseguem colocação no minguado mercado de trabalho local, outros porque pegam no diploma e tentam fazer vida fora de portas. E outros ainda porque querem ganhar o dinheiro que este país não consegue dar.
O aumento do desemprego no concelho de Arcos de Valdevez não apanhou ninguém de surpresa, resulta diretamente do encerramento de empresas (como a Acco Brands) e do corte do número de trabalhadores em fábricas que estão confrontadas com quebras acentuadas de encomendas. Segundo os dados estatísticos reunidos pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), o contingente de desempregados no concelho de Arcos de Valdevez, entre junho de 2023 e fevereiro de 2024, aumentou 50%, tendo passado de 315 indivíduos sem trabalho para 471, um incremento que incorpora, em boa medida, a crise na indústria do couro. Comparando meses homólogos, verifica-se que em fevereiro de 2023 estavam inscritos no IEFP 432 arcuenses, número que subiu para os referidos 471 em fevereiro de 2024 (entretanto, e de acordo com os registos mais recentes, a porção de pessoas desempregadas baixou para 457 em março do corrente ano, invertendo a tendência dos oito meses anteriores).
Em certas empresas vive-se um clima de tristeza incontida, na circunstância a recente despedida (há cerca de três semanas) de uma leva de trabalhadores de uma empresa dedicada ao fabrico de componentes automóveis na zona industrial de Padreiro Salvador. Em hora de aperto, com as emoções à solta, uma jovem chora baba e ranho, pessoas de meia-idade não escondem o nervosismo quanto ao que lhes reserva o futuro e os desempregados menos pessimistas admitem frequentar formação para uma imprescindível reconversão profissional, mesmo concedendo que sejam obrigados a procurar lá fora as oportunidades que não têm aqui.
Menos presos ao torrão natal, os jovens decidem ver por si próprios como é a vida dos emigrantes no estrangeiro e que vêm cá no verão. As novas gerações que partem, com os cursos que os emigrantes das gerações anteriores não possuíam, têm um espírito distinto. “Hoje vão já com a ideia de que se algo falhar vão para outro lado”, diz familiar de uma licenciada cujo progenitor pede para ser tratada por Elisabete.
Diferentes gerações, tendo o desemprego como flagelo, fazem da resiliência (“ato de avançar apesar da adversidade”) um seguro de vida. Desafiam o destino e mostram que é possível vencer as dificuldades e os obstáculos, por muito complicados que sejam. Foi o caso de uma professora de línguas que emigrou para um país do leste europeu. Ou de R.E. que aproveitou uma oportunidade para trabalhar em Angola, país que, há alguns anos, se tornou apetecível para jovens (e menos jovens) à procura de experiências profissionais. À época, com um diploma na mão, solteiro e sem filhos, R.E. tentou a sua sorte. A trabalhar na área da construção de infraestruturas, o engenheiro confessa que a aventura foi “muito enriquecedora” e valeu sobretudo por aquilo que aportou em termos profissionais e culturais. Mas as saudades agravadas pelo preço “impeditivo” dos bilhetes de avião fizeram encurtar a experiência.
O que mudou no perfil da emigração
No ano em que se completam cinco décadas sobre a “Revolução dos Cravos” muito mudou no perfil da emigração portuguesa. Em 1970, com Portugal a viver uma das maiores vagas de emigração – especialmente para França, Suíça e Alemanha –, a Estação de Santa Apolónia enchia-se com as malas dos que fugiam à ditadura e à pobreza. Cinco décadas depois, o avião substituiu o comboio, mas o aumento do desemprego, em setores como o couro, volta a impelir muitos portugueses para o exterior. É o caso de S.F. que, em 2023, foi viver para a França, com mais formação, mas obrigada a procurar lá fora as oportunidades que não teve aqui. Afinal, o nível de estudos aumentou, mas Portugal continua, hoje como ontem, a empurrar a sua mão-de-obra qualificada e as suas melhores cabeças (cientistas, investigadores, médicos…) para o estrangeiro.
Reabertura de instalações
O Serviço de Emprego de Arcos de Valdevez (Centro de Emprego do Alto Minho) reabriu, recentemente, as portas ao público nas suas (antigas) instalações da Estrada da Cêpa, “com melhores condições de acolhimento, tão necessárias às entrevistas de colocação, de orientação profissional e de acompanhamento de utentes”.
A.F.B.