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Festas de Nossa Senhora da Lapa “O melhor cortejo etnográfico em versão noturna” Serenata do rio “número singular” das Festas do Concelho

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As Festas do Concelho, realizadas de 4 a 11 de agosto (oito dias de romaria, menos quatro do que em 2023), tiveram a típica atmosfera das romarias alto-minhotas no estio. Na retina o “mar” de gente que acorreu aos festivais folclóricos e ao concerto dos Gift no palco principal, bem como a multidão que encheu o Largo da Azenha para assistir ao espetáculo de Delfim Júnior e Ympério Show, no dia dedicado aos emigrantes. No entanto, segundo o público em geral, o melhor ficou reservado para a parte final do ciclo de oito dias, com o cortejo de barcos alegóricos.

Enquanto isso, o desfile etnográfico, mais concorrido do que em edições anteriores, foi uma viva demonstração da identidade arcuense, tendo constituído para muitos espetadores “o melhor cortejo em versão noturna até agora realizado”. As 13 freguesias que se passearam pela avenida marginal tiveram como motes principais a tradição, a recriação de usos/costumes e a promoção do território: as danças, os cantares típicos do campo e as concertinas; a “recuperação” de figuras como a fiadeira, a tecedeira, o cesteiro, o tanoeiro, o ferreiro e o pedreiro, por intermédio dos representantes de Aguiã, Álvora/Loureda e Miranda; a homenagem aos poetas José “Terra” e Carlos da Cunha que Prozelo honrou com coreografias a condizer; as “profissões do passado” (doceira, regedor, padre, amolador, ardina, moleiro, peixeiro, engraxador…), ofícios em vias de extinção, que Guilhadeses e Santar fizeram questão de reviver; a pesca embarcada (através de Paçô); o imaginário do namoro e do casamento à moda antiga, com o Rancho Folclórico ‘Estrelas do Norte’ de Gondoriz; a valorização do património (Capela de S. João da Fonte Santa) e dos pontos de interesse turístico (Baloiço de Penouços) através de Padreiro; a difusão de mensagens transformadas em slogans como “Couto com tradição” e “Prozelo com vida”…

A partir do ciclo da agricultura (produção de milho e de vinho, por exemplo) e do rico património, material e imaterial, que valoriza e diferencia os ambientes rurais, assistiu-se ao desfile de atividades campestres (pastoreio, desfolhada, debulhada, malhada, sulfatagem, vindima, feira, produção do fumeiro e da broa, por intermédio, sobretudo, das freguesias de Vilela/São Cosme e São Damião/Sá, Rio de Moinhos, Rio Frio, Aguiã, Miranda, Álvora/Loureda e Jolda Madalena/Rio Cabrão), de preciosos engenhos e alfaias agrícolas (moinho, engaço, gadanha, espremedor de uvas, dorna, pipa, carro de vacas…), de recriações históricas tão características da ruralidade (o fiar e o carpear da lã, o trabalhar do linho, o enfaixar do feno e da palha…), de ambientes aldeãos (taberna, mulheres com o farnel à cabeça ou na ilharga), enfim, gente que não perdeu a memória nem o respeito e orgulho pelo lugar de onde veio.

Também a tradição hortofrutícola ficou bem espelhada no precioso cabaz de produtos (espigas/milho, chouriça, presunto, broa, cebolas, uvas…) que algumas freguesias fizeram questão de mostrar no cortejo, em consonância com a forte tradição do mundo rural de Arcos de Valdevez, que também ficou patenteada no concurso agrícola, onde Leonor Nogueira, de Paçô, arrebatou 38 prémios – 12 dos quais primeiros prémios, incluindo o do melão, de produção tardia, graças ao transplante –, que renderam um total de 495 euros. 

 

“Viagem por Portugal” na serenata do rio 

Segundo uma tradição que remonta há cerca de 70 anos, o auge da diversão noturna, pela sua singularidade, prendeu-se com o desfile dos barcos do rio, desta vez consistindo numa “viagem por Portugal” (Paço de Giela, Sé do Porto, Universidade de Coimbra, Torre de Belém, Templo Romano de Évora, Casa típica do Algarve com a sua tão característica chaminé e Casas de Santana/Madeira), momento este que se revelou um espetáculo de cor, brilho e dinamismo, um dos raros “números” que valem por si só. A cada monumento ou exemplar de arquitetura tradicional foi associado um tema musical, interpretado pelas vozes de Jorge Nande, Milay Lagarto, Sílvia Mota ou Miguel Fernandes. 

De realçar a minúcia e a qualidade do trabalho que o artista Nuno Mokuna emprestou às esculturas, muito ao gosto da multidão que se aglomerou na ponte e nas cercanias desta para aplaudir este momento tão peculiar das festas arcuenses, facto a que se juntou a locução equilibrada de Jorge Quintas e Catarina Barbosa.

 

Domingo dedicado aos fiéis e à música clássica

No último dia, a componente religiosa subiu a primeiro plano. Foi celebrada missa campal no Largo da Lapa, em honra de Nossa Senhora que dá nome às festas, ato presidido pelo monsenhor Fernando Caldas Esteves, vigário-geral e responsável pela pastoral familiar da Diocese, incumbido de “estimular a pastoral familiar através da imagem da Sagrada Família”, que já se encontra na Capela de Nossa Senhora da Conceição (monumento mais antigo da vila arcuense). 

“É com muita alegria que nos encontramos nesta bela capela da Senhora da Lapa, para louvar Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe. Estamos aqui para celebrar o sacrifício de Cristo, que foi aquilo que me ensinaram quando eu andava na catequese. Neste domingo de calor [34ºC no dia 11 de agosto], sacrifício é o padre vestir esta roupa e os fiéis também. É um duplo sacrifício, de Cristo-Deus e da Humanidade junto da capela da Senhora da Lapa”, sublinhou o representante do bispo D. João Lavrador na administração eclesiástica da Diocese.

Finda a eucaristia, saiu a procissão com cavaleiros, Fanfarra dos Bombeiros Voluntários, bandeiras das confrarias, andores, Irmandade, coletividades (Moto Clube de Arcos de Valdevez e CRAV), pálio, Sociedade Musical Arcuense (Banda) e fiéis, tendo o cortejo percorrido o itinerário habitual onde se foram concentrando devotos ou simples curiosos, em silêncio respeitoso, antes do regresso à igreja. De sublinhar, pela negativa, a ausência completa de figurados. 

Num registo diferente para remate das festas, a famosa Banda de Arcos de Valdevez, do regente Álvaro Pinto, ofereceu um concerto totalmente interpretado pelos músicos da orquestra arcuense, exímios executantes na arte de tocar, enquanto, pela madrugada, os foliões se despediram em êxtase do Festival Ínsua do Vez.

Observações do público e dos taxistas

As Festas do Concelho terminaram em ambiente de alegria, mas no balanço e contas sobraram algumas queixas, nomeadamente o “ruído debitado a horas tardias em prejuízo do descanso dos moradores”; a “celebração da missa da festa com clientes de esplanada indiferentes ao momento, que pedia algum recato, situação que podia ser evitada caso a organização compensasse o empreendedor pela libertação de espaço para os fiéis”; os “motoristas privados de praça de táxis”; e a “ocupação prolongada dos parques de estacionamento” – o do Riva Café, na margem esquerda do rio Vez, de pouco serviu dado o estacionamento de longa duração que os autocaravanistas sempre praticam nesta altura do ano.

Para o público em geral, “é preciso implementar soluções para aumentar os lugares de estacionamento na vila arcuense” de modo a “facilitar o acesso ao pequeno comércio”, sendo certo, porém, que os espaços de restauração registaram grande procura. 

A.F.B.

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