Reconhecendo o papel que o movimento associativo soajeiro desenvolve na defesa e valorização do património cultural, a associação Soajo Identidade e Património – Associação de Desenvolvimento Local, organização recém-criada, promoveu, no passado dia 2 de novembro, na sede da Casa do Povo da Vila de Soajo, um encontro de associações soajeiras, em torno das estratégias, procedimentos e metodologias a adotar, assim como os contributos a prestar por estas na divulgação do património e cultura de Soajo, sendo certo que “cada associação tem, e continuará a ter, vida própria”.
Além da referida Associação e dos representantes dos vários lugares, foram convocados para este encontro inédito o Rancho Folclórico das Camponesas da Casa do Povo da Vila de Soajo, a Associação dos Amigos de Vilarinho das Quartas, a Casa do Povo da Vila de Soajo, a Associação de Criadores de Raças Autóctones, a Associação (En)cantar Soajo (Cantadeiras e Fiadeiras de Soajo), a Associação da Casa do Povo de Paradela, a Comunidade de Baldios de Soajo, a Associação Cultural e Recreativa de Adrão, a Associação Sociocultural de Moradores de Cunhas, a Associação Cultural de Vilar de Suente, o Clube de Caça e Pesca de Soajo e o Centro Social e Paroquial de Soajo (que, estatutariamente, não é uma associação, mas uma instituição particular de solidariedade social).
“Contratada equipa científica para fazer monografia”
“O que nós pretendemos é juntar sinergias entre todos para trocar ideias, num propósito intercolaborativo, para fortalecer o papel de cada associação, em prol da freguesia de Soajo”, disse Alexandre Casanova, da associação Soajo Identidade e Património – Associação de Desenvolvimento Local, entidade empenhada em dar um impulso com vista à “recuperação dos valores patrimoniais, culturais e tradicionais, além do desenvolvimento local, num trabalho a longo prazo”, que inclui a produção de uma monografia. Para esse efeito, “foi contratada uma equipa científica, constituída por um antropólogo e uma bióloga, que estão a trabalhar em conjunto com um grupo de acompanhamento”, e futuramente com a indispensável ajuda das associações e da população dos vários lugares.
Por seu lado, a Associação dos Amigos de Vilarinho das Quartas, através de Fernando Gomes, recordou o “imenso trabalho de recolha etnográfica que o Rancho de Vilarinho fez, material que representa a cultura dos antepassados e que pode ser colocado à disposição do núcleo interassociativo”. O mesmo dirigente estimulou a “divulgação de atividades por todas as associações para aumentar a participação da comunidade”. Também a Associação Cultural de Vilar de Suente, através do responsável Cardoso, frisou a importância de “trabalhar em rede” para o desenvolvimento de atividades e a realização de candidaturas conjuntas.
“Calendário de atividades para preencher cartaz cultural”
Vítor Covelo, em representação do lugar de Vilarinho das Quartas, sugeriu a “articulação de um calendário anual de atividades, uma iniciativa mensal por associação (excluindo o mês de agosto), para preencher o cartaz cultural e dar mais vida a Soajo, sem concorrer uns contra os outros”.
Do lado da Associação Cultural de Vilar de Suente, Hermenegildo Viana realçou que esta coletividade, fundada com fins de lazer, abraçou o desafio de “defender a preservação do património, lutando contra a delapidação dos espigueiros e pela recuperação da eira de canastros de varas, no âmbito do projeto adstrito ao Orçamento Participativo Municipal”. A eira é só o primeiro elemento a reabilitar, pois no plano de iniciativas consta a “recuperação dos moinhos acessíveis”, assim como, no âmbito da literatura técnica, a “publicação de um livro sobre o típico traje de trabalho da serra de Soajo (englobando também as partes altas das freguesias de Sistelo e Cabreiro)”.
“Ações sociais para tirar pessoas do isolamento”
Por seu turno, a Associação (En)cantar Soajo (que incorpora as Cantadeiras e as Fiadeiras), através de Elisabete Fernandes Barbosa, exortou cada um dos representantes dos lugares a “fazer o levantamento das pessoas com dependência de cuidadores formais ou informais, bem como dos indivíduos que, não tendo dependência, vivem em isolamento, ou porque ninguém lhes liga ou porque têm uma qualquer patologia. Pedimos que nos identifiquem as pessoas que precisam de ajuda em termos sociais, até porque os grupos das Cantadeiras e das Fiadeiras, além de cantarem, dançarem e teatralizarem, também existem para estas pessoas. Queremos divertir a nossa gente em determinadas alturas”, comprometeu-se a responsável, interessada em levar a bom porto a candidatura à UNESCO das Cantadeiras de Soajo, que já integram o Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, no âmbito da manifestação “Canto a Vozes de Mulheres”.
Noutro plano, a diretora das Fiadeiras de Soajo, Sandra Barreira, solicitou a realização “urgente de um trabalho de recolha nos lugares, porque os cantares são diferentes, tal como é peculiar o uso de certas palavras e expressões em cada um dos lugares de Soajo”.
Enquanto isso, o presidente do Rancho Folclórico das Camponesas da Vila de Soajo, Tiago Brito, adiantou que a coletividade, “além de uma atividade grandiosa no verão de 2025, vai recriar, depois das festas natalícias, vários momentos culturais e de lazer, nomeadamente o jantar dos Reis, a cavada à moda antiga e o Carnaval”.
Com Virgílio Araújo a apelar à “expansão do movimento associativo” para ganhar influência, ficou agendada, por fim, nova reunião do movimento associativo no próximo dia 30 de novembro, para partilha dos planos de atividades e a explanação de ações concretas no ano que vem.
Projeto para avaliar “potencial de resinagem”
No decurso desta reunião, Luís Tiago Carvalho comunicou que, na sequência de contactos havidos entre a associação Soajo Identidade e Património e a Comunidade de Baldios de Soajo, foi encetada uma parceria para perceber “o potencial de resinagem de um pinhal dos Baldios de Soajo, o qual está integrado num programa europeu, com possível criação de emprego local, uma vez que vai haver formação específica para a resinagem”.
A candidatura em nome dos Baldios financia a manutenção e a limpeza da área em causa.
A.F.B.