Em 4 de Julho de 1518, D. Manuel I confere o estatuto de Vila ao “lugar dos arcos de vall de vez”. No respectivo documento – Carta de Vila – o Rei invoca 3 razões para essa concessão (“nossa mercee”): 1.ª – O facto de o lugar em causa se encontrar no meio da Terra de Valdevez (“… e isso mesmo por elle estar em meo da dicta terra de vall de vez…”); 2.ª – Pelo seu povoamento que crescia dia a dia (“…pella emformaçam que temos de muita povoraçam que ha e cada dia se acrescenta no lugar dos arcos de val de vez…”); 3.ª – A forma, calorosa, como foi recebido pelos moradores aquando da sua passagem pelos Arcos (“… e por visto de nos arreceberem os moradores do dicto lugar…”)(2) A elevação à categoria de Vila implicava a constituição de um novo quadro administrativo e judicial (“… que d’aqui em diamte pera sempre seja villa e se possa chamar villa e aya em ella Juizes, vereadores, e procurador e officiais…”) (3)
De salientar que o Pelourinho, símbolo e instrumento da jurisdição municipal, só é erigido mais tarde, em 1537 precisa Figueiredo Guerra, no terreiro em frente à Casa da Câmara de então.
Constatação: Tendo a Vila certidão de nascimento – 4 de Julho de 1518 – não se descortina por que razão esta efeméride histórica não é dignamente comemorada, com eventos vários e participação das escolas da Vila. Esta sugestão foi já expendida neste jornal aquando da publicação, em 8 de Agosto de 1997, da Carta da Vila. E agora sim, com rigor histórico, poder-se-ia proclamar: “Há cinco séculos no lugar dos Arcos de Valdevez uma Vila se fez”.
COMO FESTEJAR ESTA DATA HISTÓRICA?
Com o desfile e atuação do Rancho de S. Paio, fundado há 66 anos.
PREITO DE HOMENAGEM
Neste aniversário da Pátria Arcuense presto homenagem a um Cidadão nascido na Vila, Rua da Praça, homem de cultura e da cultura local/regional. Investigador-etnógrafo, com estudos publicados, membro fundador e colaborador de associacões diversas ligadas à cultura, ao património nas suas várias vertentes. Publicista e jornalista há décadas, figura que se encontra já no patamar bem raro do mérito maior, o dos Arcuenses com A grande: MÁRIO GASPAR LEITE BARROS PINTO. (4)
ARCUENSES NA ESTANTE ESQUECIDOS DA TOPONÍMIA
1 – XAVIER DE ARAÚJO, José Maria (Arcos 1786/Porto 1858)
Primeiro arcuense deputado, às Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação (1821/1822), tendo votado a Constituição de 1822. Membro do Sinédrio é tido como um dos herois da revolução de 1820. Perseguido pelo regime absolutista esteve exilado até 1834. Desembargador da Relação do Porto. Com obra publicada . (Bem merecedor de um seu busto junto ao portal de entrada da casa, de família, onde nasceu: Casa dos Freires do Espírito Santo).
2 – EUGÉNIO AMORIM, Araújo de Azevedo (Arcos 1898/1965)
Primeiro arcuense musicólogo. com estudos no Conservatório Nacional (Lisboa). Etnógrafo, crítico de arte, com obra publicada. Em 1953 escrevia: “Arcos, entre o perfume delicioso das flores do campo sob o lindo azul dos céus, meu berço adorado”.
NOTAS
1) in “Chronica do Sereníssimo Senhor Rei D. Emanuel Escrita Por Damião de Goes”, Parte IV, Coimbra 1790, pag. 658 . A 1.ª edição desta Crónica data de 1566/1567. Na quarta e última parte, impressa em 1567, é que aparece a alusão à criação da vila dos Arcos de Valdevez. Eis aqui a referência mais antiga à Vila em livro impresso. (O manuscrito “Geographia D’Entre Douro e Minho e Trás-Os-Montes”, de João de Barros, datado de cerca de 1549, com referências arcuenses, só em 1919 é editado pela Biblioteca Pública Municipal do Porto.)
2) A passagem de D. Manuel pelos Arcos, confirmada assim documentalmente, elimina as dúvidas suscitadas, como aconteceu com José Cândido Gomes (“As Terras de Valdovês, volume I, Arcos 1899, pag. 13”). O problema põe-se em saber quando e em que contexto. Em 1502 na peregrinação a Compostela? D. Manuel sai em Outubro desse ano, como romeiro, em direcção a Santiago. A Crónica de D. Manuel traça este percurso: Lisboa, Coimbra (onde no Mosteiro de Santa Cruz perante o túmulo de D. Afonso Henriques D. Manuel manda que o mesmo seja refeito com maior dignidade), Aveiro, Porto, Valença, Tui, Santiago. Aqui permanece durante três dias. Voltou a Lisboa, concedendo muitas mercês a todos aqueles que em suas casas o hospedaram. (“Chronica de D. Emanuel, Damião de Goes, Primeira Parte, Capítulo LXIIII, Coimbra 1790, pags. 167/168”). Da viagem de regresso nada é dito. Fica aqui aberta uma janela de probabilidade de ter sido nesta altura, inícios de Novembro de 1502, que o Rei ao atravessar a Terra de Valdevez fosse recebido com grande entusiasmo pelos já muitos moradores do lugar dos Arcos de Valdevez.
3) D. Manuel outorgara já foral (foral novo) à Terra e Concelho de Valdevez em 1515 a 2 de Junho, foral este com “todas as características de foral reformado”, como salienta Mário Tavarela Lobo (in “Brasão da Vila de Arcos de Valdevez”, Arcos de Valdevez, 1991, pags. 17,18) . Sobre a reforma manuelina dos forais destaque para o livro “Dissertação Histórica Juridica e Economica Sobre a Reforma dos Foraes no Reinado do Senhor D. Manoel, pelo Desembargador João Pedro Ribeiro, Lisboa 1812”.
4) António Paço, no seu livro “Etnologia, Alto Minho (Distrito de Viana do Castelo), Viana, 1979”, faz referência à publicação por Mário Barros Pinto no “Notícias dos Arcos” do “Arquivo Arcuense” e do importante “levantamento artesanal a que procedeu em 1978” (pag. 136). Também alude à organização em 1957 do Rancho de S. Paio por 3 jovens arcuenses: Mário Barros Pinto, José Duarte Alves Pereira e Manuel de Araujo Costa entre outros.(pags. 80,81).
Realço o lançamento do primeiro jornal académico dos Arcos “O Externato” em 8 de Dezembro de 1952 pelos estudantes arcuenses Mário Gaspar Barros Pinto, José Paulo Amorim e José Duarte Alves Pereira.
De todos os estudos etnográficos de Mário Barros Pinto destaco “O Canto das Cruzes no Soajo”, publicado em 1985, em separata do Boletim Cultural Terra de Valdevez, de que foi fundador e director, do GEPA (Grupo de Estudos do Património Arcuense), que fundou em 1980.
Realizou, com o ator Benjamim Falcão, o Festival Internacional de Cinema de Expressão Ibérica, que teve grande projeção, em Portugal e na Galiza.
De relevar, também, o empenhamento no restauro e conservação da Casa das Cortinhas, que foi do escritor Teixeira de Queiroz, avô da Senhora sua Esposa D. Graça Teixeira de Queiroz.
Victor de Castilho