Nascida em Monção, mas residente em Sistelo, onde tem dinamizado uma viva atividade sociocultural (através da Associação Sociocultural e Recreativa de Sistelo, a que em tempos já presidiu), a jovem Liliana Neves, da Universidade do Minho (UM), recebeu o Prémio de Investigação da Cátedra sobre o Caminho de Santiago e as Peregrinações 2024, pela sua tese doutoral acerca do apoio aos caminhantes prestado pelas Misericórdias no período moderno. A distinção foi atribuída pela Agência Galega de Turismo, a Catedral de Santiago e a Universidade de Santiago de Compostela (USC).
“Estou muito feliz por este reconhecimento internacional sobre os meus contributos históricos no âmbito das peregrinações”, disse Liliana Neves, citada pela academia minhota. A autora é licenciada, mestre e doutorada em História pela UM e aí investiga no Laboratório de Paisagens, Património e Território (Lab2PT), integrando ainda o grupo História Social a Norte.
A tese premiada, “Caminhos que se cruzam. A presença de peregrinos e viajantes no Norte de Portugal: as Misericórdias (séculos XVII e XVIII)” foi defendida em dezembro de 2023 no Instituto de Ciências Sociais da UMinho e financiada com uma bolsa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
O trabalho centrou-se na assistência social das Misericórdias do Norte de Portugal à população em trânsito, numa época em que viajar e peregrinar era desafiante, pelos elevados custos e perigos, entre outras dificuldades.
O estudo procurou entender o contexto, as crenças e os eventos que levaram a esta caridade praticada, como a ascensão das romarias e os efeitos da contrarreforma católica.
A autora avaliou depois as estratégias das Misericórdias para controlar quem era ou não beneficiário da ajuda, a qual envolvia desde cartas de guia a esmolas, cavalgaduras, pernoitas, enfermaria ou cuidados espirituais.
“Nem sempre foi pacífico acolher estes viajantes nos edifícios das Santas Casas, embora estas se esforçassem no apoio à população flutuante, que ali encontrava um porto seguro para o descanso e conforto do corpo e também da alma”, sublinha Liliana Neves.
O estudo da tese caracterizou ainda aqueles caminhantes por origem, destino, profissão, estatuto social e motivação da viagem. Ao todo, foram consultados 24 arquivos de Misericórdias do Norte de Portugal e, em Santiago de Compostela, os arquivos históricos do Arcebispado, da Catedral e da USC.
Liliana Neves é autora de diversos capítulos de livros e revistas (exemplo do artigo intitulado “Viajantes, peregrinos e migrantes no período moderno, a população arcuense em circulação nos séculos XVI e XVII”, publicado na revista Caminhos, da Santa Casa da Misericórdia de Arcos de Valdevez, SCMAV), para lá do livro Peregrinos e viajantes. O auxílio das Misericórdias de Braga e Ponte de Lima (séculos XVII-XVIII)”. Coordena atualmente a Divisão Patrimonial da SCMAV.
O prémio atribuído, na sua sétima edição anual, foi criado em 2016 e visa promover a investigação no campo da peregrinação e dos Caminhos de Santiago. Ao concurso que laureou Liliana Neves concorreram candidatos de Espanha, Brasil, Polónia e Portugal.