António Cacho morreu no passado dia 25 de outubro, aos 97 anos. Foi um conceituado e respeitado advogado, professor e poeta dos Arcos.
Nascido a 27 de fevereiro de 1927, em Belém do Pará (Brasil), António Afonso Gonçalves Cacho fez os estudos liceais no Externato Arcuense e o 7.º ano de Letras no liceu de Braga. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra, onde pertenceu ao Orfeão Académico. Fez estágio como subdelegado do procurador da República no Tribunal dos Arcos. Em 1955, foi colocado em Tavira como delegado interino do procurador da República.
Em janeiro de 1956, inscreveu-se na Ordem dos Advogados e a partir dessa data passou a exercer a profissão nos Arcos, em regime liberal.
António Cacho exerceu advocacia durante 51 anos. Foi também magistrado do Ministério Público nas comarcas de Arcos de Valdevez e Tavira. Foi delegado da Ordem dos Advogados da Comarca dos Arcos.
De 1956 a 1965, António Cacho lecionou no Externato Arcuense as disciplinas de História, Matemática e Português. Prestou serviço militar como miliciano, ficando com o posto de tenente de infantaria.
Além da advocacia e da docência, o finado desenvolveu nos Arcos uma vasta trajetória social, cultural e política. Foi presidente da Assembleia Geral dos Bombeiros, presidiu à Direção do Centro Cultural Teixeira de Queiroz e pertenceu à Comissão Administrativa da Câmara Municipal (1974/1976). Fez parte da Comissão Administrativa empossada a 18 de novembro de 1975 da Câmara Municipal de Arcos de Valdevez. Foi vereador da primeira Câmara eleita no mandato de 1976 a 1979, eleito nas listas do PS, como independente. Foi responsável pelo pelouro da Cultura.
Estreou-se com Estes Frutos na arte de poesia em 1989, com 62 anos, logrando logo inúmeros admiradores, muitos dos quais consideravam Cacho o “poeta da concisão”. Mais de uma dezena de publicações compõem a sua obra literária. O seu 14.º livro de poesia, Pingos de Chuva, lançado em 2021, com 94 anos, assinalou, na prática, o fim da carreira literária do autor. No preâmbulo, a que deu o nome de “Ponto”, o poeta explica que “os poemas que formam este livro têm o mesmo sincronismo terminal […] da chuva”, porque, esta, “antes de se despedir, ainda se compraz em deixar cair alguns pingos sobre a terra”, talvez numa espécie de convite à reflexão para olharmos o mundo e dele extrair a beleza do sublime ou a perversidade de que é pródigo o ser humano.
Dos livros poéticos, Barões Assinalados, tema-título retirado da epopeia camoniana Os Lusíadas, é, talvez, o mais emblemático de todos. Na apresentação realizada em finais de 2019, António Cacho salientou que Barões Assinalados “é um livro único (e um título único) em Portugal; um livro que homenageia personalidades da História injustamente esquecidas no nosso País; e um livro pedagógico, porque obriga os leitores a irem buscar à História os factos que estão aqui sintetizados […], por isso, devia ser lido por todos os estudantes de Portugal”, exortou, na circunstância, o poeta. Nesta sessão bastante concorrida, o lúcido António Cacho, à época com 92 anos, reafirmou o “orgulho” de, nesta travessia, “ter contribuído para a elevação cultural das gentes locais”.
Avesso às editoras, Cacho pagou isso com a reduzida difusão dos seus livros, como o próprio reconheceu. Apesar disso, foi sem dúvida o autor arcuense mais produtivo deste século e, mesmo depois dos 90 anos, saíram do prelo vários livros da sua lavra, todos fruto do seu trabalho de “oficina”.
Era um conversador nato e dono de um saber enciclopédico. Prezava muito a honestidade. Foi casado com Maria Nair Esteves Cacho, licenciada em Germânicas e professora efetiva na Escola Secundária de Arcos de Valdevez. Desta relação nasceu Maria de Fátima, notária, licenciada em Direito.
À família e amigos enlutados, o NA expressa sentidas condolências.