Quero dedicar este meu modesto artigo a todos os “retornados” que foram vítimas de uma “descolonização” mal feita, e feita à pressa, e em que as suas vidas, e as das suas famílias, foram altamente prejudicadas. Não quero dizer que sou (ou fui) contra a descolonização, quero dizer que houve muito tempo para a fazer muito melhor, salvaguardando as vidas e negócios dos portugueses que lá foram parar, uns porque gostaram, outros porque viram uma forma de fugir a uma vida de miséria na dita “metrópole”. No chamado “Estado Novo”, sobretudo no tempo do Salazar, era quase impossível fazer a descolonização, devido à sua maneira de pensar retrógrada e fascizante. Quando Marcello Caetano subiu ao poder, com a prometida “Primavera Marcelista”, todos nós pensámos que iria começar uma nova época, mas enganámo-nos…apenas mudaram os nomes. A PIDE passou a ser DGS, a União Nacional passou a ser Ação Nacional Popular e por aí fora…
Esta atitude, de falsa mudança, deu esperança a muita gente de que o regime iria mudar, foi o tempo em que houve a chamada “Ala liberal”. Segundo a Wikipédia, “os deputados da Ala Liberal constituíram uma geração de políticos adeptos de uma liberalização do regime do Estado Novo”. A esta Ala liberal pertenceram, entre outros, Francisco Sá Carneiro, Francisco Pinto Balsemão, Mota Amaral, Miller Guerra e Joaquim Magalhães Mota. Desfeitas estas ilusões, só havia uma saída: uma Revolução. Foi assim que se deu o 25 de Abril. Nas antigas colónias, com esta revolução, iria dar-se, inevitavelmente, a entrega aos movimentos que lutaram pela independência contra os colonizadores e, inapelavelmente, a vinda de retornados para a metrópole.
Quando se deu a chamada descolonização, já depois do 25 de Abril, os chamados “movimentos de libertação”, começaram a mandar embora os chamados “colonizadores” que aqui se chamaram “retornados”. Eu, como estudante e entusiasta da História, acompanhei este processo muito de perto, sobretudo de Angola. O único líder africano que conheci pessoalmente foi Jonas Savimbi (líder da UNITA), que nos finais do acordo do Alvor, falou para nós e respondeu-nos a uma resposta, quanto ao futuro de Angola, mais ou menos com estas palavras: “Estamos ambos lixados, tanto nós, como vós”. E eis que começaram a chegar os ditos “retornados”, muitos deles tinham cá bens, outros vinham com a roupa do corpo. E assim vieram, para recomeçar a sua vida, do nada. Muito sofreram, muito lutaram por uma vida melhor, e muitos conseguiram…
Tenho nos Arcos várias referências, de quem já era ou me tornei amigo, de inúmeros conterrâneos meus, e suas famílias, que montaram um pequeno negócio, se tornaram funcionários, ou se dedicaram às suas propriedades agrícolas, que herdaram da sua família e refizeram a sua vida, o que muito nos honra. São um bom exemplo do recomeçar uma nova vida, pois a sua vida, para eles, nunca mais foi igual.
António Pimenta de Castro