Ideias esgrimidas sobre os 49 anos do 25 de Abril
O debate dos 49 anos da Revolução dos Cravos, agendado para o início dos trabalhos da Assembleia Municipal, teve mensagens repetidas, declarações antifascistas em tom inflamado e evocações, mas também fez avultar ideias e “esperança” na mudança. As conquistas de Abril, os “determinantes silenciosos” e os estrangulamentos que afligem territórios como o de Arcos de Valdevez foram temáticas preponderantes, muito embora as forças partidárias tivessem tecido linhas diferentes. Apesar disso, todos convergiram no anseio por “mais democracia” e pela “consolidação de muitas áreas” rumo ao desenvolvimento do concelho.
“O 25 de Abril não pode estagnar”
Depois de lembrar os “tempos de obscuridade, repressão e limitações graves à liberdade”, assim como os custos de uma “guerra colonial onerosa e longa” para Portugal, o deputado António Faria, do CDS, exaltou o que “de bom trouxe o 25 de Abril aos portugueses em geral, liberdade, igualdade e solidariedade, e aos arcuenses em particular, luz elétrica fora da sede do concelho, melhoramento nas comunicações, saneamento básico e ensino secundário oficial.
Mas, segundo o líder da bancada centrista, a democracia plena ainda está por cumprir. “O 25 de Abril, para o continuar a ser, não pode estagnar, ainda estamos longe daquilo que ambicionávamos. […] A participação na vida democrática em algumas freguesias é desmotivada, prevalecendo a lógica de partido único. Luta-se pouco por ideias e muito por pessoas […]. A massa crítica eclipsou-se e os poucos que teimam em difundir ideias diferentes são subtilmente marginalizados. O unanimismo é pernicioso para a democracia”, concluiu António Faria, tendo como pano de fundo o poder absoluto do PSD na vida política dos Arcos, desde as primeiras eleições autárquicas democráticas, em 1976 (47 anos de governação ininterrupta).
“Luta por uma política alternativa ancorada nos valores de Abril”
Também o deputado Romão Araújo, da CDU, colecionou alertas, mas sob outro ângulo. “Os retrocessos no plano social, económico, político, cultural e da independência nacional, resultantes do processo contrarrevolucionário, de décadas de política de direita, e de uma integração capitalista na União Europeia, demonstram a necessidade da luta por uma política alternativa, ancorada nos valores de Abril e da Constituição da República, que dê uma resposta clara aos problemas nacionais e que conduza o país ao progresso, ao desenvolvimento e à justiça social, tal como previa e anunciava Abril”.
“É por isso que é justo dizer que são combates de Abril e por Abril os combates que hoje travamos na defesa das condições de vida dos trabalhadores e do nosso povo, e na salvaguarda do desenvolvimento soberano do país e pelo direito do povo a decidir o seu futuro. […] São combates de Abril e por Abril os que propomos travar para assegurar o pleno exercício das funções sociais do Estado, designadamente na saúde e na educação, na proteção social e na habitação”, particularizou o jovem advogado.
“O 25 de Abril fez desabrochar as flores do desenvolvimento”
Pelo PS, a deputada Flávia Afonso sublinhou que “no 25 de Abril todos celebramos as importantes conquistas e direitos que são fundamentais para uma vida digna e livre. […] Celebramos a esperança, a liberdade, a democracia, o fim da guerra colonial e o fim do regime fascista. E homenageamos os muitos homens e mulheres que dedicaram a sua vida contra uma ditadura que, durante mais de quatro décadas, negou direitos, empobreceu o país, oprimiu, perseguiu, torturou, matou, condenou os jovens à guerra e negou o processo igualitário ao conhecimento”.
Para a porta-voz do PS, a Revolução dos Cravos não é só memória, é também o direito ao “progresso”. “O 25 de Abril foi, de facto, a primavera onde desabrocharam as flores do desenvolvimento e da melhoria de vida dos portugueses, embora haja várias áreas de muito trabalho ainda para fazer: consolidar e progredir, seja na educação, na saúde, no ambiente, na habitação, na justiça, na coesão e na solidariedade social. Mas nenhuma delas avançará se não cuidarmos da qualidade da nossa democracia […] e a geração pós-revolucionária deve encontrar novos motivos de afirmação dos valores de Abril”, apontou.
“Abril deu-nos a democracia e a liberdade, mas muito haverá que fazer”
António Teixeira Rodrigues, do PSD, contou a sua história de vida para realçar que “foi de forma livre e sem condicionalismos” que lutou e luta pelas ideias em que acredita, “ao contrário de tantos outros que, antes da Revolução, não o puderam fazer”.
“Abril deu-nos a democracia e a liberdade, mas, se muito foi feito, muito haverá que fazer. E não exige menos coragem do que a dos capitães que o fizeram. Não falhemos hoje onde não falhou Álvaro Cunhal, Mário Soares e Sá Carneiro”, exortou o investigador e professor da Universidade do Minho.
“Somos filhos da sociedade livre que construímos e a ela tudo devemos. Não existe riqueza material que a compre, não existem seres humanos plenos sem a liberdade social, política, económica, individual e cultural. […] Mas a nossa liberdade é, hoje, afetada por determinantes silenciosos, que existem e condicionam, mas não se veem. Num território como o nosso que fica demasiado longe de Lisboa para que o poder central o considere, se nada fizermos, estaremos condenados à nossa condição de nascença”, avisou António Teixeira Rodrigues.
A.F.B.