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Extensão de Saúde de Loureda

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História de uma infraestrutura pública ao abandono há nove anos e sem utilidade à vista

Extensão de Saúde de Loureda: solução prevista em 1984 só abriu em 2009, mas equipamento fechou portas em 2014 “devido à reduzida adesão de doentes”

Corria o ano de 1984 e, no “Projeto de descentralização dos serviços de saúde no concelho de Arcos de Valdevez” aparecia, a respeito da carrinha-consultório, o primeiro levantamento organizado sobre as zonas de acessos mais difíceis e que, em função disso, justificavam cuidados de saúde descentralizados. À época, no topo das freguesias mais necessitadas surgia a de Loureda (e localidades vizinhas), justamente onde viria a ser construída uma Extensão de Saúde, tendo por base este raciocínio. 

Há quase quarenta anos, Loureda era definida no relatório como um “Centro geográfico de outras freguesias, tais como Eiras, Sabadim, Vilela, Mei, Sá, Extremo, Portela, Aboim das Choças e Álvora, onde residem [residiam] 4152 indivíduos, cerca de 13% da população total do concelho”. 

No mesmo ano de 1984, no estudo “Memória justificativa da criação da Extensão do Centro de Saúde de Arcos de Valdevez, em Loureda”, João Manuel Cruz defende a necessidade de criação de uma resposta naquela parte do território do concelho. Neste projeto, a escolha de Loureda assentou em critérios técnicos e, sobretudo, numa análise das alternativas de transporte existentes, concluindo-se que “a criação de uma estrutura de saúde em Loureda, ao funcionar como polo de atração, induz[iria] as transportadoras a alterar o percurso da ligação Sistelo-Cabreiro-Sá-Vilela-Arcos, conectando-se a Aboim”, conforme cita o Boletim Cultural n.º 24, Terra de Val de Vez, do Grupo de Estudos do Património Arcuense.

Posteriormente, em setembro de 1990, os presidentes de junta de Vilela, Loureda, Portela, Extremo, Álvora, Sá, Eiras, Mei, Sabadim e Aboim das Choças enviam um ofício ao ministro da Saúde, ao delegado de Saúde de Arcos de Valdevez, ao presidente da Câmara de Arcos de Valdevez e ao presidente da ARS-Norte em que reivindicam a referida extensão ou, em alternativa, a abertura de concurso médico prevendo a prestação de cuidados de saúde em regime privado a utentes do SNS.

Por último, em 1992, o Ministério da Saúde emite Despacho determinando a criação de “nova Extensão, a norte do concelho, do Centro de Saúde de Arcos de Valdevez”, fazendo-o situar no lugar das Choças, freguesia de Aboim, sob pretexto de que esta seria “a localização mais adequada daquele equipamento”, uma vez ponderados os transportes públicos, os fluxos de tráfego, as distâncias e as vias de comunicação.  

 

Presidentes de junta em dissonância

Nesta fase do processo, os autarcas das juntas de freguesia a abranger pela referida Extensão estavam desalinhados. Os presidentes das juntas de Sistelo e de Cabreiro afirmaram que, sem se oporem à construção da Extensão, preferiam que as populações das respetivas freguesias continuassem a ser servidas pelo Centro de Saúde de Arcos de Valdevez, dada a maior facilidade de acessos. Também os autarcas de Álvora e de Loureda se desligaram do assunto, pouco sensíveis ao pedido de reflexão formulado pelo presidente da Câmara de então, Américo de Sequeira. Em função das dissonâncias foi acordado fazer uma votação secreta, com “a escolha, por unanimidade, de um local em Aboim”, nas imediações da Estrada Nacional 101. Participaram na votação os senhores presidentes de junta de Padroso, Extremo, Portela, Eiras, Aboim, Sabadim e Vilela.

Mas, a despeito desta votação, a construção avança, em 2006, na freguesia de Loureda, por sinal, a solução prevista no relatório original de 1984. “O atendimento ficaria a cargo da Dra. Adelina Ferreira, todos os dias, à tarde, durante três horas (exceto às quartas-feiras, em que se realiza consulta aberta no Centro de Saúde), e estando em funcionamento condicionado à evolução da procura, podendo ser incrementado se se justificasse”, lembra o Boletim Terra de Val de Vez.

Acerca da entrada em funcionamento da Extensão de Saúde de Loureda, o NA, na sua edição de 31 de dezembro de 2009, escreveu que “a sua abertura fica a dever-se a um período de negociações entre a ARS-Norte e a autarquia arcuense. […] Além do atendimento, a Extensão de Saúde de Loureda presta serviços de enfermagem e tem um administrativo. O futuro da unidade passa agora pela assiduidade das gentes daquela zona, pois tudo vai depender da procura do posto de saúde pelas pessoas daquela área, […] se tiver uma actividade intensa pode colocar-se a hipótese de aumentar o pessoal clínico”.

Mas a procura do equipamento esteve longe de corresponder às expetativas e as incertezas vieram logo a seguir. O presidente da Junta de Loureda, Manuel Alberto Leiras, em entrevista a este jornal, dizia, no verão de 2010, que, “com as remodelações profundas na área da Saúde, temos receio de que esta obra [Extensão de Saúde] venha a transformar-se num elefante branco”.

 

Redução gradual dos dias de serviço

Passado apenas um ano desde que entrou em funcionamento, o problema da reduzida adesão à Extensão sobe a primeiro plano nos fóruns municipais. A deputada Carolina Faria (CDS), na Assembleia de 17 de dezembro de 2010, questiona o presidente da Câmara sobre o problema, e este em resposta, reproduzida por este jornal, notou que “temos de ser racionais. É impossível ir a Loureda todos os dias para atender um ou dois doentes”, alertou Francisco Araújo.

Nessa altura, o Ministério da Saúde tinha em cima da mesa um processo de reafetação de pessoal, bem como a diminuição do número de dias de atendimento médico na Extensão de Saúde de Loureda, mobilizando recursos para o Centro de Saúde de Arcos de Valdevez, onde os mesmos eram mais necessários. 

No início de novembro de 2012, o NA testemunha, in loco, que apenas uma dezena de utentes aguardava pela sua vez na sala de espera da Extensão de Saúde de Loureda. A unidade, que já chegara a funcionar três dias por semana, agora já só abria no primeiro dia útil da semana. Tudo porque a tutela havia reestruturado “o serviço de proximidade suprimindo dois dias de abertura, alegando que, face à reduzida adesão de doentes, não se justificava estar de portas abertas durante tantos dias úteis”.

O rumor de que a Extensão de Saúde de Loureda podia vir a encerrar foi-se adensando nas conversas entre utentes, mas estes excluíam tal hipótese. Leonilda Parga, de Loureda, lembrava que “a unidade funciona bem, presta um serviço de qualidade e atende muitos doentes. Que não são só de Loureda”, observou. 

Manuel Parga, também de Loureda, explicava as vantagens de ter à porta de casa uma unidade de saúde. “Poupa-se tempo e dinheiro, já que não temos de nos deslocar ao Centro de Saúde de Arcos de Valdevez”. A freguesia não está apetrechada com farmácia, mas esse é um problema ultrapassado com planeamento. “Temos em casa os medicamentos para períodos mais ou menos dilatados”, atalha a irmã Leonilda Parga, contente por este serviço de proximidade. 

“A Extensão de Saúde de Loureda faz falta e tem excelente adesão dos doentes desta parte do concelho. De Loureda, Aboim das Choças, Álvora, Vilela, Sá, Cabreiro e, até, Sistelo”, remata, convicta. 

Nessa mesma jornada, a reportagem do NA sondou doentes de outras freguesias. De Vilela veio Isabel Lima a acompanhar a mãe, que ali foi “mostrar exames à médica Idalina”. De Cabreiro, um casal de meia-idade, em passo de corrida, à saída da unidade, lá foi dizendo que “o tratamento da equipa é impecável”. Um elogio destinado às três profissionais que trabalhavam na Extensão de Loureda (médica, enfermeira e auxiliar).

 

Encerramento da unidade

Apesar das loas ao serviço, pouco tempo depois confirmava-se em pleno o murmúrio que corria: a Extensão de Saúde de Loureda encerra portas em 2014, tendo todo o atendimento sido deslocado para a unidade da sede do concelho.

Não obstante as várias possibilidades conjeturadas para reconversão daquele equipamento, como a proposta de criação de um lar de idosos, prevendo a construção de um edifício acoplado ao imóvel devoluto, a verdade é que até à data de hoje não foi identificada qualquer utilidade para esta infraestrutura pública que, ocupando uma área de 370 metros quadrados, acarretou um custo de 626 116,64 euros. 

A.F.B.

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