É o título sobre o painel que, no novo passeio entre o antigo pontilhão vermelho e o da Azenha, canta em prosa e verso as belezas do rio Vez. Escrevo a 26 de setembro após um dia de chuva que conspurcou as águas do rio com espuma oleosa e outros resíduos que não pertencem ao Vez, embora aumentem o seu caudal. O aspeto escuro das suas águas é um crime contra a natureza e revela a irresponsabilidade de um povo que prefere viver no meio da poluição a desfrutar das águas cristalinas de um rio que, em tempos, foi considerado o mais despoluído da Europa. E entre as quadras (e poemas) do painel, escolho, à sorte, a seguinte, da autoria de Virgílio Amaral:
“Por um cantinho do Minho/Onde passa o rio Vez,/Andou Deus e com carinho/Que lindas coisas que fez!”
Não conheci o poeta pessoalmente, mas, se ele aqui voltasse, ficaria envergonhado dos criminosos que destroem o inspirador e espelho de Arcos de Valdevez. Da minha parte cabe-me pedir desculpa a José Terra, António Cacho, Rui Castilho, Carlos Cunha, ao antigo médico António Ribeiro e aos irmãos Alberto e Orlando Codeço. O resto fica à responsabilidade das autoridades…
A idade e os sonhos…
Um dia o senhor Gualter Bacelar fez o favor de me enviar o seu Notícias da Barca que, semanalmente, chega à minha caixa do correio. Leio o que por lá se passa, não fosse eu um arcuense com tantos familiares naquela terra de maravilhas, mas também de dificuldades impensáveis. Quero aqui citar, uns pelo respeito das suas opiniões, e um especial, um amigo dos amores portistas, o eterno apaixonado Sousa Meira. Os outros colaboradores merecem-me respeito, pois, sendo figuras que devem andar próximo da minha idade, não lhes falta imaginação e bom senso para exaltarem em prosa e verso os desejos da sua terra, da sua amada Barca. São eles Artur Soares, Boaventura Rodrigues Silva e Miguel Ângelo. Admiro o amor pela terra e a verticalidade das suas ideias. Brava gente. Boa gente!
Os emigrantes…
Como emigrante que fui durante 35 anos, julgo conhecer parte dos seus direitos e deveres, especialmente após a ditadura de extrema-direita do salazarismo. Isto a nível nacional, já que na nossa terra de dentro para fora não foi ainda banida. As fábricas estrangeiras vieram aqui parar na mira dos salários baixos, que, podendo parecer uma dádiva dos céus. em nada resolveram os problemas dos arcuenses. É certo que pelo menos uma deveria ter resolvido o déficit financeiro de alguns. Tão nefasta para a nossa terra, mas sobretudo para a nossa natureza. Embora tenha conhecimento da razão da oferta tão “generosa” dos franceses, não estou, e jamais estarei, vocacionado para delações…
Mas as fábricas roubaram os jovens das nossas aldeias e hoje é só olhar para os cortejos das Festas do Concelho, ou da Lapa, para verificar a morte das aldeias, tragicamente abandonadas e tristes. Mas o contraste do ódio da extrema-direita do Chega contra os imigrantes chega a ser ridículo. Durante séculos explorámos africanos, sul-americanos e outros povos, em nome de Deus e da civilização. Construímos com o ouro palácios e muita riqueza por aqui ficou. Mas são os explorados do passado que hoje chegam a Portugal para trabalhar que dão origem a um xenofobismo da extrema-direita, que, se não é um crime, é, no mínimo, uma vergonha!
“Os ratinhos”
Era assim que os alentejanos no tempo do salazarismo rotulavam os migrantes minhotos que, na época das colheitas, acorriam ao Alentejo e ofereciam-se aos donos das terras mais baratos. E os alentejanos que, já na época eram explorados pelos patrões que vivendo em Lisboa, eram, no entanto, os donos de tudo, sentiam-se vítimas dos minhotos que se submetiam a trabalhos mais baratos.
Entretanto, leio na comunicação social que o empresário Carlos Moreira da Silva, em terras do Douro, vai investir milhões na cultura de mais vinho e investir no enoturismo, servindo-se dos atuais trabalhadores oriundos de países estrangeiros, que fazem todo o tipo de trabalho, ao contrário dos portugueses. E são os estrangeiros que cultivam as suas terras, na sua maioria brasileiros, argentinos, colombianos, cubanos, nigerianos, tailandeses e ucranianos.
A. Peixoto